Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas divulga primeira parte de
estudo sobre aumento da temperatura no globo e afirma que últimas três
décadas foram sucessivamente mais quentes que qualquer outra desde 1850.
O aquecimento do planeta é "inequívoco", a influência humana no
aumento da temperatura global é "clara", e limitar os efeitos das
mudanças climáticas vai requerer reduções "substanciais e sustentadas"
das emissões de gases de efeito estufa. A conclusão é do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que divulgou nesta
quinta-feira (30/01), em Genebra, a primeira parte do quinto relatório
sobre o tema.
Os cientistas do IPCC – que já foram premiados com o Nobel da Paz em
2007 – fizeram um apelo enfático para a redução de gases poluentes. "A
continuidade das emissões vai continuar causando mudanças e aquecimento
em todos os componentes do sistema climático", afirmou Thomas Stocker,
coordenador e principal autor da Parte 1 do quinto Relatório sobre
Mudanças Climáticas, cuja versão preliminar já foi apresentada em
setembro de 2013.
O documento serviu de base durante a Conferência das Partes (COP) das
Nações Unidas sobre o Clima em Varsóvia, na Polônia, no final do ano
passado. Em 1500 páginas, cientistas de todo o mundo se debruçaram sobre
as bases físicas das mudanças climáticas, apoiados em mais de 9 mil
publicações científicas.
"O relatório apresenta informações sobre o que muda no clima, os
motivos para as mudanças e como ele vai mudar no futuro", disse Stocker.
Correções
A versão final divulgada nesta quinta é um texto revisado e editado e
não tem muitas mudanças em relação ao documento apresentado em setembro
do ano passado, que elevou o alerta pelo aquecimento global e destacou a
influência da ação humana no processo.
"A influência humana no clima é clara", afirma o texto. "Ela foi
detectada no aquecimento da atmosfera e dos oceanos, nas mudanças nos
ciclos globais de precipitação, e nas mudanças de alguns extremos no
clima."
Segundo o IPCC, desde a década de 1950, muitas das mudanças
observadas no clima não tiveram precedentes nas décadas de milênios
anteriores. "A atmosfera e os oceanos estão mais quentes, o volume de
neve e de gelo diminuíram, os níveis dos oceanos subiram e a
concentração de gases poluentes aumentou", diz um resumo do documento.
"Cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente mais quente na
superfície terrestre que qualquer década desde 1850. No hemisfério
norte, o período entre 1983 e 2012 provavelmente foi o intervalo de 30
anos mais quente dos últimos 800 anos", prossegue.
Aquecimento dos oceanos
O grupo de cientistas também lembra que o aquecimento dos oceanos
domina o aumento de energia acumulada no sistema climático, e que os
mares são responsáveis por mais de 90% da energia acumulada entre 1971 e
2010.
"É praticamente certo que o oceano superior (até 700m de
profundidade) aqueceu neste período, enquanto é apenas provável que
tenha acontecido o mesmo entre 1870 e 1970", diz o relatório.
O nível dos mares também aumentou mais desde meados do século 20 que
durante os dois milênios anteriores, segundo estima o IPCC. Entre 1901 e
2010, o nível médio dos oceanos teria aumentado cerca de 20
centímetros, diz o documento.
As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e
protóxido de nitrogênio (conhecido como gás hilariante) aumentaram,
principalmente por causa da ação humana. Tais aumentos se devem
especialmente às emissões oriundas de combustíveis fósseis. Os oceanos,
por exemplo, sofrem acidificação por absorver uma parte do CO2 emitido.
Futuro sombrio
A temperatura global deverá ultrapassar 1,5ºC até o final deste
século em comparação com níveis estimados entre 1850 e 1900. O
aquecimento global também deverá continuar além de 2100, mas não será
uniforme, dizem os cientistas do clima. As mudanças nos ciclos da água
no mundo também não serão homogêneos neste século, e o contraste entre
regiões secas e úmidas e regiões de seca e de chuvas deverá aumentar.
O resumo do texto ainda constata que a acumulação de emissões de CO2
deverá ser determinante para o aquecimento global no final do século 21 e
adiante. "A maioria dos efeitos das mudanças climáticas deverão
perdurar por vários séculos, mesmo com o fim das emissões."
Até outubro, o IPCC ainda vai publicar mais duas partes do relatório e
também um documento final. A segunda parte será divulgada em março, no
Japão, e detalhará os impactos, a adaptação e a vulnerabilidade a
mudanças climáticas. Em abril, Berlim será palco das conclusões do IPCC
sobre mitigação.
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