“O nosso domínio histórico, que satisfaz a maioria dos
aquí presentes, diminui claramente”, constatou recentemente o general de
quatro estrelas Sam Locklear, chefe do Comando do Pacífico da Marinha
de Guerra dos EUA. Segundo a revista americana Defense News, o almirante
considerou que o poderio crescente da China é o fator fulcral que
ameaça o domínio militar dos EUA. Ele assinalou também que a região
asiática do Pacífico (RAP) regista uma militarização nunca vista, o que,
juntamente com o reforço da China, viola o status-quo. Mas os EUA,
segundo o almirante, devem dominar no oceano Pacífico e continuar a ser
“mortalmente perigoso” para os inimigos.
Sem dúvida que a
RAP, nos últimos anos, sofreu mudanças radicais no sentido do aumento
alí do potencial militar de toda uma série de Estados. E a China
desempenha o papel principal. Segundo o economista Alexei Maslov, há
muito tempo que a China não esconde a intenção de aumentar o poderio
militar, principalmente no mar. Do ponto de vista de Pequim, na RAP
ocorrem processos praticamente incontrolados: a Coreia do Norte ameaça
os vizinhos e os EUA com armas nucleares, o Japão incentiva um conflito
com a China em torno de ilhas litigiosas, há divergências entre a China e
o Taiwan sobre as Ilhas dos Pescadores.
Nessa situação,
Pequim fala da necessidade do aparecimento de um moderador novo, eficaz
da situação, porque os EUA não conseguem realizar essa tarefa, assinala
Alexei Maslov:
“Os EUA, no fundo, perderam hoje essa
região. Ou seja, resumindo, o lugar dos EUA na região é ocupado por
outra potência, que, claro, irá realizar uma política asiática um tanto
diferente. Penso que os EUA não conseguirão regressar a essa região sem
dificuldades. Qualquer tentativa de aumento militar sério, incluindo a
instalação de novas bases, a mudança do tipo de armamentos nessas bases,
o envio de novas unidades da marinha para essa região, provocará
imediatamente a agudização da situação”.
Ao mesmo tempo,
segundo Bill Rogio, redator do Long War Journal , a atual correlação de
forças na RAP ainda não significa que os EUA perderam o controle da
situação. Porém, isso prova a existência de um pretendente ao domínio na
região. Ele assinalou em declarações à Voz da Rússia:
“Existe
o perigo de perder as posições dominantes se começar a guerra entre a
China e o Japão, ou a guerra entre as Coreias do Norte e do Sul, e a
China decidir ingerir-se ou instalar um bloqueio. Poderão os EUA
ingerir-se? A origem da preocupação deve estar aí. Poderemos, na
realidade, apoiar os nossos aliados e fazer isso sem enormes perdas? Eis
as questões que se colocam se a China aumentar o seu poderio econômico e
reforçar a sua marinha de guerra”.
O discurso do almirante Locklear contêm ideias racionais, mas também claros exageros, considera o orientalista Dmitri Mossiakov:
“Por
um lado, claro que apareceu um adversário real à marinha americana no
oceano Pacífico pela primeira vez depois da guerra fria e do brusco
enfraquecimento da Marinha do Pacífico da União Soviética. Um adversário
que realmente pode prejudicar sensivelmente os interesses americanos e o
poderio americano. Mas, ao mesmo tempo, é claro que, ao nível atual, as
forças de que dispõe a China não podem ser de perto comparadas aos
grupos ofensivos de porta-aviões (dos EUA), com as bases militares
navais, com os milhares de fuzileiros que se encontram na Região do
Pacífico”.
Por muito que a China hoje fale do aumento do
seu potencial, ele fica muito aquém dos EUA não só segundo os
parâmetros quantitativos, mas também qualitativos das forças armadas,
acrescenta Alexei Maslov. Ao mesmo tempo, na situação existe também um
fator político: os EUA e muito mais o seu aliado japonês desfrutam, numa
série de países da RAP, de má fama desde a Segunda Guerra Mundial, e
até mesmo desde o início do séc. XX. Muitos consideram mesmo que o Japão
é um traidor do mundo asiático. Nessa situação, a China é vista de
forma muito positiva: ela tenta restabelecer a unidade asiática e até
está pronta a cobrir a RAP com o seu “guarda-sol nuclear”. Em outras
palavras, ao avaliar as possibilidades dos pretendentes ao domínio na
região, é preciso calcular não só a quantidade dos seus armamentos, mas
também o potencial político, até que ponto ele é comparável com o que os
países da RAP pretendem.
No que diz respeito ao papel
da Rússia na região, ela tem de manobrar entre as intenções ambiciosas
dos principais adversários, defendendo os próprios interesses. Moscou
realiza uma política maleável ao tentar manter uma distância sensata
para não se envolver nos processos asiáticos negativos. Isso, segundo as
palavras de Alexei Maslov, é uma tarefa muito complicada, tendo em
conta a forma dura e inteligente como age a China. O objetivo da Rússia é
conseguir, antes do início de qualquer conflito na região, a posição
mais cômoda de árbitro do que de participante.
Ao falar
das perspetivas da RAP, os peritos são unânimes a afirmar que, na
região, ninguém quer uma guerra. Até o almirante Locklear sublinhou que o
espaço “entre Hollywood e Bollywood é o motor da economia global”.
Numerosos
analistas afirmam que no horizonte se avista uma espécie de “NATO
asiático”. Segundo eles, chegou o momento de criar um novo bloco militar
asiático. A China será um dos países líderes nele, mas não o único.
Pois não se pode excluir a possibilidade de a Rússia vir a participar
nessa organização.
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