A hipotética “matéria escura” foi designada assim por
ser invisível – ela não brilha, deixando passar a luz. Todavia, suas
partículas têm massa. Por isso, a luz procedente dos confins do
Universo, atravessando os seus coágulos, se desvia um pouco e distorce a
imagem. Esse fenómeno tem sido notável nos últimos anos. No entanto, há
80 anos, os cientistas repararam em alguns “desvios à norma” na conduta
de galáxias que iam girando num “casulo”, feito de uma grande massa
distribuída de forma regular pela sua superfície plana.
Para
além de gravitação, os cientistas não dispunham de outros argumentos
sólidos, embora tenham existido várias hipóteses sobre partículas de
“matéria escura”. Um dos seus tipos foi designado de “neutrino estéril”
por não reagir às partículas comuns, podendo desintegrar-se e emitir
raios X.
Ora, os dois grupos de pesquisadores, o
primeiro, chefiado por Alexei Boyarsky, da Universidade de Leiden, e o
segundo, da Universidade de Harvard, informaram quase em simultâneo
terem registado uma irradiação proveniente do aglomerado de galáxias. A
radiação tinha a imagem de uma linha ténue no espectro dos raios X,
fotografada mediante um cluster galáctico. Para tirar conclusões acerca
da sua natureza, será preciso esclarecer origens desse efeito
espectacular, admite o astrofísico Vladimir Kukash:
“No
caso de um aglomerado galáctico, a linha pode ser vista, mas se
observarmos uma galáxia normal, esta permanece invisível. É um fenómeno
interessante e curioso. Mas isto não quer dizer que a “matéria escura”
tenha sido descoberta. Por isso, seria prematuro anunciar uma nova
vitória.”
Neste contexto, serão necessárias novas provas
de que tal fenómeno espectral realmente existe. E que esse fenómeno não
pode ser explicado pela passagem de átomos de um estado para outro,
reputa o astrofísico Valeri Rubakov:
“Se forem
encontradas provas de que a sua origem não se relaciona com as
potencialidades conhecidas, poderemos constatar a existência de
partículas que se desintegram, levando ao surgimento desse fenómeno
espectral. Pode ser uma emissão de raios X, resultante da desagregação
de partículas de “matéria escura”. Pode ser um “neutrino estéril”. Mas,
de qualquer modo, não se deve precipitar os acontecimentos.”
Se
os neutrinos estéreis não reagem, isto tem que ser feito por um outro
“candidato”, denominado WIMP (Weakly Interacting Massive Particle), isto
é, uma partícula massiva que interage fracamente. As WIMPs penetram nas
estrelas, na Terra, nas pessoas, colidindo, por vezes, com átomos
comuns. No entanto, as experiências mais recentes, prevendo a sua
descoberta, não foram bem-sucedidas. Numa mina da Dakota do Sul, EUA,
foi instalado um tanque com xenônio líquido. Supunha-se que um embate da
WIMP num núcleo do átomo de xenônio pudesse provocar um brilho ligeiro.
Mas os brilhos que se notavam eram causados pela radiação natural. Por
isso, os cientistas continuam a busca de WIMPs, tentando receber novos
sinais de neutrinos estéreis. Teoricamente, estas partículas não podem
coexistir, prossegue Valeri Rubakov:
“Se é verdade que
as partículas de “matéria escura” são neutrinos estéreis, as WIMPs nunca
serão descobertas. Como se diz, será necessário escolher “das duas
uma”. Não pode haver aqui um terceiro elemento”.
Há
muitas hipóteses sobre vários tipos de partículas de “matéria escura”.
Uma delas poderá quase de certeza ser registrada dentro em breve, muito
provavelmente, no próximo decênio.
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