A 16 de março, os habitantes da República Autónoma da
Crimeia irão resolver a questão do seu estatuto depois do golpe
destrutivo em Kiev. A esmagadora maioria da população da península da
Crimeia considera ilegítimo o poder em Kiev. A primeira coisa que a Rada
Suprema (parlamento) da Ucrânia fez, depois de ocupada por
nacionalistas radicais, foi proibir a língua russa como língua regional
de contacto na Ucrânia.
As sirenes da independência
preocupam catalães e escoceses há quase 300 anos. Segundo os últimos
dados de um inquérito à opinião pública na Escócia, o campo do “sim”
conquistará entre 32 e 37%. David Cameron, primeiro-ministro britânico,
claro que está contra a separação da Escócia, embora tivesse de
concordar com o plebiscito dos escoceses.
Queremos criar
verdadeiras relações de parceria com a Grã-Bretanha e não compreendo
totalmente por que é que não nos querem permitir isso, afirma Alex
Salmod, líder do Partido Nacional da Escócia:
“Tentamos
ser extremamente racionais nesta questão. Queremos conservar a união
monárquica, a rainha como chefe de Estado, a união social, monetária.
Mas queremos também controlar os impostos, as despesas públicas.
Queremos ser nós a decidir se precisamos ou não de armas nucleares na
nossa terra. Queremos ser nós a decidir se vamos combater numa guerra
ilegítima no Iraque”.
Na Catalunha, o desejo de
condescendência é ainda maior, mas a Catalunha é um caso particular. A
Constituição Espanhola foi escrita de forma a que qualquer independência
tenha de se aprovada pelo parlamento e confirmada num referendo
nacional. É problemático que os espanhóis “deixem escapar” a região do
país económica e historicamente mais rica. A propósito, é precisamente
por insistência de Jose Manuel Garcia-Margallo, ministro dos Negócios
Estrangeiros de Espanha, que a UE inclui, em todas as declarações
oficiais sobre a situação na Crimeia, o parágrafo sobre a
“ilegitimidade” da separação da Crimeia em relação à Ucrânia.
Os catalães dizem com firmeza que irão proclamar unilateralmente a independência se a maioria disser “sim”.
Artur
Mas, presidente da Região Autónoma da Catalunha, diz que os espanhóis
deturpam totalmente o verdadeiro quadro jurídico e que a autonomia tem
todos os direitos legítimos para se “divorciar” de Madrid. Porém, ele,
em todas as declarações oficiais, chama ao referendo sobre a
independência “consultas” com a população.
“Nisso nada
há de ilegal. Só o governo espanhol diz que isso é ilegal, mas é
mentira. Já definimos cinco iniciativas legislativas, segundo as quais a
Catalunha tem o direito de organizar e realizar consultas (sobre a
independência). E elas estão em total harmonia com a Constituição
Espanhola”.
Em qualquer caso, entre 60 a 70% da
população diz “sim” à “viagem solitária” na Catalunha. Os catalães já
fizeram exercícios semelhantes várias vezes, chamando-lhes “referendos
consultivos”.
A Bélgica sente também uma “bipolaridade”
no campo nacional. Ai, cerca de 60% são flamengos e 31% são valões
francófonos. Mas as coisas ainda não chegaram aos referendos. Mas os
líderes da comunidade de língua holandesa previnem que se irão orientar
pelos resultados dos plebiscitos na Escócia e Catalunha. E talvez na
Crimeia.
Todos os peritos e órgãos centrais do poder em
Londres, Madrid e Bruxelas reconhecem que têm nas mãos uma verdadeira
bomba se se comportarem como o “governo da praça da Independência” em
Kiev. Claro que é difícil imaginar que Londres proíba o gaulês da
Escócia como segunda língua oficial, que Madrid proíba o catalão e
Bruxelas transforme o flamengo e o alemão em tabu.
Na
Bélgica há três línguas oficiais: francês, holandês e alemão. Se as
autoridades as retirarem da circulação, como fizeram os ultras em Kiev, o
“sim” à independência poderá não ser nem de 30, 50 ou 60% dos
escoceses, catalães ou flamengos, mas de 100%. Ou, como escreveu um
jornal catalão, 200% de todos os habitantes da Catalunha.
Seria
também curioso ver o que aconteceria se uma proibição análoga à do
movimento da praça da Independência fosse feita em alguns estados dos
EUA. Na América não existe o conceito de língua oficial e universal. Mas
em muitos estados foram oficialmente reconhecidas as línguas dos
segundos grupos étnicos. Por isso, proibir o russo na Crimeia seria o
mesmo que se os EUA proibissem no Porto Rico o espanhol enquanto segunda
língua oficial deste estado, o francês em Luisiana, o havanês no Hawai.
Ou proibir o emprego oficial, paralelamente ao inglês, o espanhol na
Califórnia, Florida, Novo México ou Texas. Nos EUA, cerca de 40 milhões
de pessoas falam espanhol.
FONTE:
http://portuguese.ruvr.ru/2014_03_07/Crimeia-e-sirenes-da-independ-ncia-europeia-1177/
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