Foto: Flickr.com/Andre Maceira/cc-by-nc-sa 3.0
Da Itália pode vir a salvação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Lá, de tanto o crime movimentar a economia – como aqui – sua participação passará a ser computada na soma da geração de riqueza do país. O modelo deveria ser adotado pelo governo Dilma, uma vez que é a única possibilidade de turbinar os números finais da atividade econômica, se a presidente conseguir a reeleição.
A sugestão é incluir já no levantamento de 2014, na medida em que o resultado de 0,2% do PIB no primeiro trimestre praticamente selou a perspectiva de mais um ano sofrível, com as contas nacionais variando de 1,4% a 1,6% de acordo com as estimativas do mercado. Pode até ser um pouco maior, caso o governo resolva estimular mais o consumo segurando ou derrubando os juros, mas nada que alterará a trajetória de baixa.
Qualquer ajuda extra nunca é demais nesse país que vai completar um ciclo medíocre de expansão, na casa de 1,9% na média de 2011 a 2013, só maior que no período de Fernando Collor, e abaixo da maioria das nações emergentes. Que venha então da economia ilegal, já que a legal não anda por obra da condução da política econômica.
Corrupção de todo gênero não falta; cresce. Deliquência comum e urbana, liderada pelo tráfico, não cessa; sobra. No primeiro, os governos pouco fazem por falta de compromisso (ou conveniência) político; no combate ao segundo, a inépcia é total. Em ambos os casos com a colaboração de um sistema jurídico obsoleto e conivente com a ‘indústria dos recursos’. Assim, por anos o ‘pibinho’ verá garantido alguns bons pontos percentuais a mais.
As regras de averiguação do dinheiro ilícito poderão ser adaptadas da metodologia que será empregada pelo Istat, o IBGE italiano, a ser conhecida até o final do ano. Na verdade, nova metodologia, agora dentro das regras da União Europeia (UE), pois em 1987 o país já havia adicionado esse cálculo ao PIB.
O que o governo da Itália reconheceu, com o apoio do European System of Accounts, órgão regulador da contabilidade dos membros da UE e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é que em nações nos quais o crime ganha de braçada é melhor ‘oficializar’ seu efeito na economia.
Esqueça-se a polêmica gerada pelos italianos contrários ao uso da variante no PIB, que pelas contas do Banco Central valeria 10,9% em 2012, ou 150 bilhões de euros. Se o crime compensa ou não, que os seus autores decidam. Já aqui no Brasil, para a economia gerenciada pela competência do PT, compensa. Não há outro jeito.
Pode-se até dispensar a cooperação dos técnicos do Istat. Contabilidade criativa já faz a fama de Arno Augustin, secretário do Tesouro, sob comando do chefe, o ministro Guido Mantega, da Fazenda. De tanto maquiar o superávit – inchar receitas, esconder e postergar despesas, entre outras –, o trabalho de ‘engenheirar’ o tamanho do faturamento do crime seria fichinha.
Naturalmente que isso precisaria ser combinado com os técnicos do IBGE, que já estão em pé de guerra contra as tentativas de intervenção do governo nas pesquisas que podem pisar no calo do poder, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), cujo foco é o nível de emprego.
Bem ou mal, não deve ser tão complicado mensurar minimamente a economia ilícita. No caso dos crimes de lavagem de dinheiro, desvios de recursos, subfaturamento e propinas – para facilitar, generaliza-se por corrupção – basta fazer um levantamento anual dos casos apurados pela Polícia Federal e Ministérios Públicos. Na esfera federal, o brasileiro comum sabe que não faltarão casos.
Com base em dados de 2010, em 2012 a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estimou entre 50 e 84 bilhões de reais os valores movimentados nos crimes do colarinho branco. Há quem achou elevado. Mas se não for preciso, estava próximo.
Naturalmente que é um dinheiro que sai por uma porta e, uma parte, volta ao mercado por outra. Os 141 milhões de reais avaliados na conta do mensalão irrigaram vários dutos, às custas do enriquecimento dos camaradas, mas irrigaram. E continuou depois, indiretamente, até chegar aos bolsos dos advogados coroados que defenderam os réus. Essa gente toda consome, ora pois.
O complicado é saber o que vai para as contas secretas em paraísos fiscais, para se subtrair do que ficou no Brasil, este sim dinheiro útil. Até que as autoridades estrangeiras ajudem no rastreamento – como os 2,7 milhões de dólares que a Alstom ‘presenteou’ ao conselheiro afastado do Tribunal de Contas, Robson Marinho, quando secretário do governo Mário Covas em São Paulo. Ou, como no caso da Operação Lava-Jato, no qual se apura ainda o montante enviado ao exterior da lavagem total de 10 bilhões de reais movimentada por doleiros e que respingou na Petrobras via o ex-diretor Paulo Roberto da Costa.
Do crime comum, o faturamento deverá dar mais dor de cabeça ao governo. Muito mais fragmentado, em que pese a consolidação do crime organizado, além de diluído em milhares de agentes, do traficante mequetrefe aos chefões numa escala desconhecida. Certamente os valores não chegam nem perto dos crimes de corrupção, porém certamente também movimentam uma economia de formiguinhas, direta e indiretamente, do mercadinho da favela à frota de vans de transporte urbano.
Na fatura do PCC, por exemplo, o mais espalhado e consolidado grupo criminoso, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Ministério Público de São Paulo já divulgaram cifras no passado como 63 milhões de reais, até 2008, após o rastreamento de 686 contas bancárias; depois 36 milhões de reais, até 2013, com o monitoramente de saques e depósitos de 260 pessoas ligadas à quadrilha. Mas isso pode se a ponta do iceberg, não se sabe.
Esta variável do crime financeiro, sim, o Brasil pode aprender com os italianos como enquadrá-la no PIB. Com as máfias atuando desde o início do século XX, a justiça do país já criou escola.
Para 2014 ainda dá tempo. Talvez não na contabilidade trimestral, mas o faturamento da atividade criminosa pode entrar no fechamento do balanço do ano. Daí para frente o céu, para o governo, é o limite, se reeleito.
Os fatos citados são de responsabilidade do autor.
FONTE:
http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_06_11/Para-o-PIB-brasileiro-o-crime-pode-compensar-5854/
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