O
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apoiou nesta quinta-feira a
polêmica mudança nas regras do Senado, forçada pelo Partido Democrata,
que acaba com o requisito de uma maioria de 60 votos (dos 100 dessa
Câmara) para ratificar as nomeações de juízes e outros cargos do alto
escalão do governo, que são sistematicamente bloqueadas pelos
republicanos.
Após ter ameaçado várias vezes em recorrer à chamada
"opção nuclear", que quebra com uma tradicional norma não escrita,
finalmente os senadores democratas cumpriram hoje seu ultimato e
aprovaram que basta uma maioria simples de 51 votos para confirmar as
nomeações de juízes e altos funcionários propostos pela Casa Branca, com
a exceção dos juízes da Corte Suprema.
"É hora de mudar o Senado antes que esta instituição
fique obsoleta", afirmou o líder da maioria democrata do Senado, Harry
Reid, que lembrou a frustração que existe entre os americanos com a
falta de ação do Congresso, que desde 2010 está dividido, com o Senado
sob controle democrata e a Câmara dominada pelos republicanos.
Os 53 senadores democratas, que normalmente contam com o
apoio de dois independentes, poderão agora acelerar as indicações
presidenciais sem ter que contar com parte dos 45 senadores
republicanos.
Obama lembrou em entrevista coletiva após a votação no
Senado que a medida responde ao "abuso" do "filibusterismo", uma tática
utilizada pela oposição para bloquear determinados procedimentos e que,
segundo o presidente, "está fora de controle".
O filibusterismo foi utilizado 168 vezes para bloquear
nomeações na história americana, mas seu uso disparou durante o mandato
de Obama desde 2009, com 82 casos, segundo o balanço apresentado por
Reid.
Com a redução da maioria necessária, os democratas estarão em condições de impedir as manobras de filibusterismo.
"(O filibusterismo) causa danos na nossa economia, é
ruim para a nossa democracia e nos levou a um ponto no qual a maioria
simples não parece suficiente para nada, nem sequer para assuntos
rotineiros", lamentou Obama.
Obama, que antes de ser presidente foi senador,
transmitiu sua frustração com "o padrão sem precedentes de obstrução no
Congresso", que provocou que pessoas "bem preparadas" não pudessem
assumir seus cargos por queixas dos republicanos, muitas vezes não
relacionadas com os méritos do nomeado em si, mas com assuntos
totalmente distintos.
"O serviço público não é um jogo, é um privilégio",
advertiu Obama, que ainda tem vários cargos pendentes de serem ocupados
por causa do bloqueio dos republicanos.
O arriscado passo dado para acabar com o limite de 60
votos ameaça ampliar ainda mais as diferenças entre republicanos e
democratas, que, precisamente dentro do Senado, tinham conseguido
consensos importantes em temas como a imigração.
Três senadores democratas se opuseram hoje a mudar o
limite tradicional de votos, enquanto veteranos, como o republicano John
McCain, lembraram que esta medida "muda tudo" e acusou os senadores
jovens, que nunca estiveram em minoria, de modificar as regras sem
pensar nas suas consequências.
Um dos líderes da minoria republicana do Senado, Mitch
McConnell, tentou forçar um recesso para que não se votasse a mudança de
normas e afirmou que "hoje é um dia triste" para a história da casa
legislativa.
"A solução para este problema é uma eleição", disse
McConnell, que se mostrou confiante em uma vitória dos republicanos nas
eleições legislativas de 2014 em ambas as Câmaras, que desde 2010 não
conseguiram aprovar um orçamento, nem acabar definitivamente com as
dúvidas sobre uma eventual moratória.
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