Por Asher Levine
SÃO PAULO, 8 Set (Reuters) - O governo dos Estados Unidos teria espionado a Petrobras, de acordo com o site da rede Globo.
O canal de televisão, que há uma semana apresentou documentos alegando que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) interceptou comunicações entre os presidentes do Brasil e do México, planeja descrever na noite deste domingo a espionagem dos norte-americanos na maior companhia brasileira, de acordo com propagandas.
A Globo não forneceu mais detalhes sobre a espionagem.
As revelações, como aquelas apresentadas no programa "Fantástico" na semana passada, foram fornecidas por Glenn Greenwald, um blogueiro, colunista e ativista de liberdades civis norte-americano, que vive no Rio de Janeiro.
Greenwald trabalhou próximo ao ex-analista da NSA, Edward Snowden, para divulgar um conjunto de informações de inteligência que colocou foco na extensão da espionagem nos Estados Unidos nas telecomunicações domésticas e no exterior.
Por email na manhã deste domingo, Greenwald se recusou a discutir as alegações da Petrobras até que o "Fantástico" vá ao ar. Autoridades da Petrobras não foram encontradas para comentar.
A reportagem sobre a Petrobras deve complicar ainda mais um impasse diplomático tenso entre os EUA e o Brasil, a maior economia da América Latina, provocada pela suposta espionagem da NSA às chamadas telefônicas privadas e e-mails da presidente Dilma Rousseff.
O Brasil exigiu um pedido de desculpas formal e assessores de Dilma já disseram que a questão poderia inviabilizar uma visita de Estado planejada para outubro, a única oferecida por Washington a um líder estrangeiro este ano.
As tensões na semana passada levaram a uma reunião improvisada entre Dilma e o presidente dos EUA, Barack Obama, durante a reunião do G20, dos líderes das principais economias, na Rússia. Após a reunião, Obama disse que iria investigar as alegações.
Autoridades norte-americanas, incluindo Obama em uma viagem ao Brasil em 2011, e uma visita em junho do vice-presidente Joe Biden, citaram a importância de novas grandes descobertas de petróleo no país e assinalaram intenções de trabalhar em estreita colaboração com o país para as necessidades energéticas do futuro.
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FONTE:
Petrobras foi espionada pelos EUA, apontam documentos da NSA
Confirmação da espionagem está em documentos ultrassecretos, vazados por Edward Snowden, ao qual o Fantástico teve acesso exclusivo.
Uma semana depois de revelar que o governo dos Estados Unidos espionou a presidente Dilma, o Fantástico apresenta outro furo de reportagem: documentos ultrassecretos entregues pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional americana Edward Snowden comprovam que a Petrobras, a maior empresa brasileira, também foi espionada pelo governo americano.
A reportagem é de Sônia Bridi e Glenn Greenwald.
Um dos grandes interesses da espionagem americana no Brasil está longe do centro de poder - em alto mar, em águas profundas. O petróleo brasileiro. A rede privada de computadores daPetrobras é espionada pela NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
A confirmação está em documentos ultrassecretos, vazados por Edward Snowden, ao qual o Fantástico teve acesso exclusivo. Snowden, que era um analista de inteligência contratado pela NSA, divulgou esses documentos e milhares de outros em junho passado. Atualmente ele está asilado na Rússia. Esta reportagem contradiz as afirmações da NSA de que não faz espionagem com objetivos econômicos.
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A informação foi encontrada pelo jornalista Glenn Greenwald, coautor desta reportagem, em meio aos milhares de documentos entregues a ele por Edward Snowden em junho.
Veja: primeiro, a nota da Agência de Segurança Nacional americana esta semana ao jornal The Washington Post. Asteriscos são usados para ressaltar que o Departamento de Defesa, ao qual a NSA está ligada, não faz espionagem econômica de nenhum tipo, incluindo o cibernético.
E agora veja outro documento: é uma apresentação ultrassecreta, feita pela NSA em maio do ano passado, para treinar novos agentes no passo a passo para acessar e espionar redes privadas de computador - as redes internas de empresas, governos, e instituições financeiras -, redes que existem justamente para proteger informações.
O nome da Petrobras, a maior empresa do Brasil, aparece logo no início, sob o título: "muitos alvos usam redes privadas".
Além da Petrobras, aparecem listados como alvos a infraestrutura do Google, o provedor de e-mails e serviços de internet. A empresa, que já foi apontada como colaboradora da NSA, aqui aparece como vítima da agência.
A diplomacia francesa - com o acesso à rede privada do Ministério das Relações Exteriores da França - e a rede do Swift, a cooperativa que reúne mais de dez mil bancos de 212 países e regula as transações financeiras internacionais por telecomunicações. Qualquer remessa de recursos entre bancos que ultrapassa fronteiras nacionais, passa pelo Swift.
Outros nomes de empresas e instituições da lista foram apagados para não comprometer operações que envolvam alvos ligados ao terrorismo.
Greenwald: É a questão do jornalismo responsável. Tem informação dentro desses documentos alguma informação que está sobre a espionagem mesmo contra o terrorismo, questões de segurança nacional que não devem ser publicadas, porque ninguém tem dúvida que os Estados Unidos, como todos os outros países, têm direito de fazer espionagem para garantir a segurança nacional, mas tem muito mais informações que está sobre espionagem contra inocentes, ou contra pessoas que não têm nada a ver com terrorismo ou questões industriais que devem ser publicadas.
A classificação de segurança do documento é "ultrassecreto", liberado apenas para quem os americanos chamam de "five eyes" - cinco olhos -, os cinco países aliados na espionagem - Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.
O nome da Petrobras aparece em vários slides, à medida em que o treinamento vai avançando na explicação de como é feito o monitoramento de dados das empresas e instituições-alvo.
Para cada alvo é criada uma pasta - que reúne todas as comunicações interceptadas e os endereços de IP, a identificação de computadores ligados à rede privada, que deveria estar imune a esses ataques.
Paulo Pagliusi é doutor em segurança da informação e autor de livro sobre o tema. A pedido do Fantástico, ele avaliou o documento.
Pagliusi: Os casos, as redes que são apresentadas, todos são de empresas reais. Não são casos fictícios. Tanto é que tem algumas coisas que chamam a atenção. Por exemplo, havia alguns números que estavam tapados. Por que eles estariam tapados se não fosse um caso real e não queriam que os alunos tivessem conhecimento?
Sônia Bridi: E isso foi uma vez, ou um sistema contínuo de espionagem?
Pagliusi: Isso não se obtém numa única passagem, não. Pelo que eu vi, é bem consistente e gera resultado muito poderoso, ou seja, é uma forma de abordagem muito eficaz.
Sônia Bridi: Ou seja, só chega a esse nível quem está praticando essa forma de espionagem há muito tempo.
Pagliusi: Exato, não há espaço para amadores nessa área.
O faturamento anual da Petrobras é de mais de R$ 280 bilhões, maior do que a arrecadação de muitos países. E não são poucos os motivos para que espiões queiram acesso ao sistema protegido da empresa.
A Petrobras tem dois supercomputadores, usados principalmente para as chamadas pesquisas sísmicas, que avaliam reservas de petróleo a partir de testes feitos em alto mar. Assim, a empresa mapeou o pré-sal, a maior descoberta recente de novas reservas de petróleo no mundo.
Não há informações sobre a extensão da espionagem, e nem se ela conseguiu acessar o conteúdo guardado nos computadores da empresa. O que se sabe é que a Petrobras foi alvo da agência, mas não há pista nos documentos sobre que tipo de informações a NSA buscava. De todo modo, a Petrobras tem conhecimento estratégico associado a negócios que envolvem bilhões de reais.
Por exemplo, os detalhes de cada lote de um leilão marcado para o mês que vem: para exploração do Campo de Libra, na Bacia de Santos, parte do pré-sal. Os espiões tiveram acesso a esses dados? Esta é uma pergunta que o governo brasileiro terá de fazer aos Estados Unidos.
Sônia Bridi: Libra é o maior leilão da história do petróleo?
Roberto Villa, ex-diretor da Petrobras: Ele é o maior leilão da história do petróleo e ele é um leilão muito peculiar. Um leilão de uma área que já se sabe que tem petróleo, não tem risco.
Sônia: Agora, sabe-se exatamente onde tem mais, onde tem menos, onde está mais fácil?
Villa: Não. A Petrobras sabe. E eu espero que só ela saiba, nesse momento.
Sônia: Se essa informação vazou, se essa informação foi roubada, isso pode dar vantagem...
Villa: Alguém vai ter vantagem. Eventualmente se essa informação vazou e alguém dispõe dessa informação, ele vai numa posição muito melhor no leilão. Ele sabe onde carregar mais e onde nem carregar... É um segredinho bom.
“Comercialmente o efeito internacional disso aí é de uma concorrência com carta marcada para alguns lugares, para alguns países, para alguns amigos”, alerta Antônio Menezes, ex-diretor da Petrobras.
O petróleo do pré-sal está em alto mar, onde a profundidade chega a dois mil metros - abaixo de uma camada de sal rochoso, quatro quilômetros dentro da terra. Para chegar a esse óleo é preciso muita tecnologia. E na exploração em águas profundas a Petrobras é líder mundial.
Sônia Bridi: Se o senhor fosse um espião e tivesse acesso ao sistema da Petrobras, que informações o senhor buscaria?
Adriano Pires, especialista em infraestrutura: Eu buscaria principalmente as informações ligadas à tecnologia de exploração de petróleo no mar. A Petrobras é a número um no mundo em explorar petróleo no mar. E o pré-sal existe em qualquer lugar do mundo, existe pré-sal na África, existe pré-sal no golfo americano, existe pré-sal no Mar do Norte. Então se eu detenho essa tecnologia, eu posso tirar pré-sal de onde eu quiser.
Na apresentação da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, aparecem documentos preparados pela "GCHQ", a agência de espionagem da Inglaterra, país que, como vimos, aparece como aliado dos Estados Unidos em questões de espionagem. A agência inglesa mostra como funcionam dois programas: "Flying Pig" e "Hush Puppy" também monitoram as redes privadas por onde trafegam as informações que deveriam ser seguras. Essas redes são conhecidas pela sigla TLS/SSL.
A apresentação explica como a interceptação das informações é realizada. Um ataque à rede conhecido como "man in the middle", o homem no meio. Nesse caso, os dados são desviados para a central da NSA, e depois, chegam ao destinatário, sem que ninguém fique sabendo.
Algumas páginas adiante, o documento lista os "resultados" obtidos. "O que nós achamos?", "redes de governos estrangeiros", "companhias aéreas", "companhias de energia", como a própria Petrobras, e "organizações financeiras".
As redes TLS/SSL são também o sistema de segurança usado em transações financeiras, como, por exemplo, quando alguém acessa seu banco por um caixa eletrônico. A conexão entre o ponto remoto e a central do banco passa por uma espécie de túnel protegido na internet. O que passa por ele, ninguém poderia ver.
Na sequência, a apresentação da NSA mostra com detalhes como os dados de um "alvo" escolhido por eles vão sendo desviados, passando por filtros de espionagem desde a origem, até chegar aos supercomputadores da NSA.
Em um documento a NSA diz que a América Latina é alvo chave do programa "silverzephyr" que, além de metadados, que são o total de informações que trafega na rede, registra o conteúdo de gravações de voz e fax.
Reação brasileira
No domingo passado, o Fantástico mostrou com exclusividade como a presidente do Brasil é alvo direto da espionagem. Na quinta-feira, a presidente Dilma se reuniu com o americano Barack Obama na Rússia, em encontro dos 20 países mais desenvolvidos do mundo e cobrou explicações.
“O que eu pedi é o seguinte: eu acho muito complicado ficar sabendo dessas coisas pelo jornal. Se tem ou não tem, eu quero saber. Tem ou não tem? Além do que foi publicado pela imprensa, eu quero saber tudo que há em relação ao Brasil. Tudo. Ela abrange tudo. Tudinho. Em inglês, everything", declarou Dilma.
No dia em que Dilma e Obama se encontraram, reportagem publicada simultaneamente por dois grandes jornais - o inglês "The Guardian" e o americano "The New York Times"-, revelou que a NSA e a "GCHQ" inglesa quebram os códigos de comunicações protegidas de diversos provedores de internet - podendo assim espionar as comunicações de milhões de pessoas, e também transações bancárias.
A reportagem mostra que a criptografia, o sistema de códigos de proteção que é fornecido por algumas operadoras de internet, já vem com uma vulnerabilidade, instalada de propósito pela NSA, e que permite que os espiões entrem no sistema, copiem, bisbilhotem, até façam alterações, sem deixar rastros. Há também sinais de que alguns equipamentos de computação montados nos Estados Unidos já saem de fábrica com dispositivos de espionagem instalados.
O "New York Times" diz que isso foi feito com pelo menos um governo estrangeiro que comprou computadores norte-americanos. Mas não revela qual governo pagou por equipamentos para ser espionado.
Outro documento mostra quem são os "clientes" da espionagem, que recebem as informações obtidas: a diplomacia americana, os serviços secretos, e a Casa Branca. Ao lado, a prova de que a espionagem não tem como objetivo apenas o esforço contra o terrorismo. Na lista, estão também informações diplomáticas, políticas e econômicas.
A Petrobras não quis comentar a denúncia de espionagem. E a presidente Dilma Rousseff, como você viu, aguarda para esta semana as explicações do governo americano.
A NSA, Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, mandou uma nota, que diz o seguinte: "Nós não usamos nossa capacidade de espionagem internacional para roubar segredos comerciais de companhias estrangeiras para dar vantagens competitivas a empresas americanas."
Perguntamos então por que então os documentos mostram que a NSA espionou a Petrobras. A resposta da NSA, também em nota, foi que isso é tudo o que eles têm a dizer no momento.
Procurados pelo Fantástico, o Ministério das Relações Exteriores da Inglaterra, em Londres, e a embaixada britânica, em Brasília, disseram que não comentam assuntos relacionados à inteligência.
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