Anwar al-Awlaki em imagem de arquivo Foto: AFP
Anwar al-Awlaki em imagem de arquivo
Foto: AFP
A modesta mesquita Dar Al-Hijrah, a poucos quilômetros da Casa Branca, é o ponto de encontro dos muçulmanos de Washington e o púlpito de onde o imã Anwar al-Awlaki clamou contra o ataque de 11 de setembro de 2001 antes de se transformar no terrorista americano mais procurado.
Ontem, o presidente Barack Obama disse, em discurso sobre sua política de segurança nacional, que teria faltado com seu dever se não "tivesse autorizado o ataque que o eliminou" em 2011, a primeira vez desde a Guerra Civil (1861-65) na qual o governo reconhece ter matado um americano por considerá-lo um inimigo.
Os dirigentes de Dar Al-Hijrah em Falls Church (Virgínia) não quiseram falar com a agênciaEFE do passado do centro vinculado a Awlaki, um cidadão nascido no Novo México e de origens iemenitas. Preferiram virar a página destacando o papel da mesquita, com 30 anos de história, como parte de uma comunidade integrada nos arredores de Washington.
Americanos e, principalmente, imigrantes comparecem à mesma sala de oração onde o imã Awlaki disse, após os atentados de 11 de setembro, que "o fato de os EUA terem administrado a morte de mais de um milhão de civis no Iraque e apoiado a morte de milhares de palestinos não justificava a morte de um só americano em Nova York ou Washington".
Awlaki chegou a dirigir a oração da sexta-feira para os muçulmanos em Capitol Hill antes de deixar os EUA rumo a Londres em 2002, onde começaria sua radicalização.


O giro que tomou a vida deste muçulmano educado nos EUA e com um inglês perfeito, de uma família moderada e cujo pai foi ministro no Iêmen, é ainda um mistério para muitos, mas o certo é que, durante a guerra do então presidente George W. Bush contra o terrorismo, se radicalizou até se transformar em um operativo da Al-Qaeda.
Precisamente seu domínio do inglês e seu carisma o transformaram em um grande perigo para os EUA a partir de 2004, quando retornou ao Iêmen e começou sua vida nas sombras gravando e postando na internet sermões que estimulavam o assassinato de americanos.
Awlaki manteve contatos com Nidal Hassan, o oficial militar responsável da morte a tiros de 13 soldados em Fort Hood em 2009 e frequentador dos sermões do iemenita na mesquita de Dar Al-Hijrah. Além disso, o próprio Awlaki reconheceu seu papel no treinamento e doutrinamento do homem conhecido como "suicida do Natal", Umar Farouk Abdulmutalab, que no dia 25 de dezembro de 2009 tentou explodir um avião procedente de Amsterdã sobre Detroit.
O livro Dirty Wars, publicado este ano e escrito por Jeremy Scahill, explica com detalhes como desde então a Administração Obama começou a preparar o ataque que finalmente acabaria com a vida de Awlaki em uma região remota do Iêmen em setembro de 2011 e pelo qual, segundo alguns testemunhos, o presidente americano "não mostrou arrependimentos".
A tecnologia de aviões não-tripulados foi finalmente a que conseguiu matar Awlaki, depois que em maio desse mesmo ano, aviões tripulados e um grupo de operações especiais, falharam em matar o já assinalado como um dos líderes da Al-Qaeda na Península Arábica. "Quero Awlaki morto, não descansem"; segundo Scahill, essas foram as palavras de Obama à sua equipe de luta antiterrorista na Casa Branca após o fracassado ataque, digno de um filme de Hollywood, com satélites enviando constantemente imagens da operação.
Com o bombardeio sobre Awlaki, os EUA mataram outro americano, Samir Khan, responsável de editar a revista Inspire, um manual de propaganda em inglês para incitar ataques terroristas e que supostamente serviu aos autores do atentado de Boston do último mês de abril para preparar suas bombas caseiras com panelas de pressão.
Porém, para Nasser al Awlaki, pai de Anwar e ex-ministro de Agricultura iemenita, a maior tragédia de sua família foi a injustiça cometida por Washington quando matou seu neto Abdulrahman al Awlaki, 16 anos, poucas semanas depois. O adolescente quis procurar seu pai na zona rural onde se escondia, ao saber de sua morte, e decidiu passar alguns dias com familiares. Apesar de não ser suspeito de terrorismo, aviões não-tripulados lhe mataram enquanto jantava com seus primos.
Esse erro de cálculo "escandaloso", segundo disse ao jornal The Washington Post um membro da equipe de Obama um ano depois, perseguiu e manchou a reputação da guerra contra o terrorismo travada pelo presidente. Durante o discurso de ontem, Obama deixou exposta uma ponta de remorso: "Para mim e para os que estão em minha cadeia de comando, estas mortes (de civis) nos perseguirão enquanto vivermos".

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