quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Na ONU, Trump rejeita 'burocracia global' e 'ideologia da globalização'

Presidente reafirma o lema 'EUA primeiro' e ameaça Irã, Venezuela e Síria; Alemanha é advertida e só Coreia do Norte recebe elogio


Presidente Donald Trump discursa na 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, a segunda desde que tomou posse nos EUA - CARLO ALLEGRI / REUTERS

NOVA YORK — Em seu discurso na 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçou o seu lema "Estados Unidos primeiro", atacando a "burocracia global" e afirmando que rejeita a "ideologia da globalização". Diante de representantes de 193 nações, o chefe da Casa Branca pediu que a soberania americana seja respeitada, incluindo no que tange à formulação das suas políticas migratórias, e ainda lançou duras críticas ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que, nas suas palavras, "não tem legitimidade nem autoridade".

O presidente americano foi o terceiro chefe de Estado a discursar, depois dos seus homólogos brasileiro, Michel Temer, e equatoriano, Lenín Moreno. Ele seria o segundo a se pronunciar, mas chegou atrasado e, por isso, Moreno subiu ao pódio antes do que havia sido inicialmente previsto.

— Os Estados Unidos sempre vão escolher a independência e a cooperação em vez de governos globais, controle e dominação. Eu honro o direito de cada nação de buscar seus próprios costumes, crenças e tradições. Os Estados Unidos não vão lhes dizer como viver, trabalhar ou rezar. Apenas pedimos que vocês honrem nossa soberania em troca — disse Trump, antes de afirmar que "os EUA são governados por americanos" e que por isso, em vez da globalização, ele abraça a "doutrina do patriotismo".

Na contramão dos apelos em favor do multilateralismo do secretário-geral da ONU, António Guterres, que discursara anteriormente nesta terça-feira, o presidente americano dedicou parte do seu pronunciamento à importância de cada nação defender seus interesses e à exaltação de sentimentos patrióticos e nacionalistas.

Em relação à imigração, Trump reiterou que os Estados Unidos não vão aderir ao Pacto Global por uma Migração Ordenada, Regular e Segura, aprovado na ONU em julho, afirmando que cada nação deve estabelecer suas próprias políticas para o assunto, e não organismos internacionais.

— A solução em longo prazo é ajudar as pessoas a construir um futuro melhor em seus próprios países. Torná-los grandes de novo.

AJUDA SÓ PARA "AMIGOS"

Além disso, o presidente americano disse que o seu governo revisará a ajuda internacional a outras nações, que deverá ser limitada a países que respeitarem os Estados Unidos e forem seus amigos.

— Vamos examinar o que está funcionando, o que não está funcionando e se os países que recebem nossos dólares e nossa proteção compartilham dos nossos interesses — disse Trump. — Avançando, vamos apenas dar ajuda externa àqueles que nos respeitam e francamente sejam nossos amigos. Esperamos que outros países paguem sua parte pelo custo de sua defesa.

Afirmando que o Conselho de Direitos Humanos da ONU se tornou um "embaraço para a instituição", Trump disse que os EUA não vão retornar ao órgão sem uma reforma real nem reconhecer ou apoiar o Tribunal Penal Internacional (TPI), que acusou de violar "todos os princípios de justiça". Mais cedo, o jornal "Financial Times" revelara que cinco países sul-americanos vão pedir ao tribunal que investigue integrantes do governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, por supostos crimes contra a Humanidade.

— No que diz respeito aos Estados Unidos, o TPI não tem jurisdição, nenhuma legitimidade e nenhuma autoridade. O TPI reivindica uma jurisdição quase universal sobre os cidadãos de cada país, violando todos os princípios de justiça, equidade e devido processo. Nunca vamos entregar a soberania dos Estados Unidos a uma burocracia global que não presta contas a ninguém e que não foi eleita.


Um membro da delegação do Vietnã não parecia estar muito interessado nos discursos e tirou um cochilo. Enquanto isso, a política nacional do país anda agitada. Na última sexta-feira o presidente Tran Drai Quang faleceu e ontem a vice-presidente Danh Thi Ngoc Thinh tomou posse de forma interina. É a primeira mulher da História do país a ocupar o cargoFoto: DON EMMERT / AFP



Lenin Moreno, presidente do Equador, acabou "furando a fila" dos discursos. E não foi por querer. Por tradição, os discursos começam com o representante do Brasil e, na sequência, o presidente americano, anfitrião. Como Trump se atrasou, Moreno acabou sendo antecipado na ordemFoto: TIMOTHY A. CLARY / AFP



Quando finalmente chegou, Donald Trump teve um dos momentos mais curiosos da Assembleia Geral. Logo no início do discurso disse: "Nosso governo fez nos últimos dois anos mais do que qualquer outro na História do nosso país." A declaração foi recebida com gargalhadas pelo público — formado por diplomatas de todo o mundo. Os risos surpreenderam o americano que contemporizou com um sorriso amarelo: "Não esperava essa reação, mas tudo bem"Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP



Bashar Jaafari é o atual embaixador da Síria nas Nações Unidas e deve estar acostumado com as longas Assembleias Gerais, mas não conseguiu esconder um momento de tédio e cansaço. Quem será que discursava para gerar tanto desinteresse do representante do ditador Bashar al-Assad?Foto: DON EMMERT / AFP



A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, chamou atenção ao levar seu pequeno bebê, de apenas três meses, para o evento em Nova York. A menina ficou no colo do pai durante o seu discurso. Ardern, de 38 anos, foi a segunda mulher a dar à luz no cargo, depois da paquistanesa Benazir Bhutto, em 1990Foto: CARLO ALLEGRI / REUTERS



O emir Tamim Bin Hamad al-Thani, do Qatar, deu uma declaração um tanto controversa na 73ª Assembléia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira. Em seu discurso, disse que "os direitos humanos estão no topo das prioridades do Qatar", apesar das denúncias de violações dos direitos humanos no paísFoto: TIMOTHY A. CLARY / AFP



Após discursarem com pensamentos opostos sobre o Irã na 73ª Assembleia Geral da ONU, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o presidente dos EUA, Donald Trump, não demonstraram em seu encontro o clima de "bromance", visto em abril deste ano. Na ocasião, Macron fez uma visita à Casa Branca, a primeira de um chefe de Estado em que Trump foi anfitrião. Os dois trocaram risadas e abraços em público, como grandes amigos. Hoje, ambos tinham feições sérias...Foto: CARLOS BARRIA / REUTERS



... e, no cumprimento, Trump sequer fechou a mão. Para o jornal "Indenpendent", o "bromance" esfriouFoto: LUDOVIC MARIN / AFP

ATAQUES A VENEZUELA, IRÃ E SÍRIA

Ao mencionar a Venezuela, Trump pediu que os países presentes na Assembleia Geral reclamassem a restauração da democracia no país sul-americano, acusando o governo do presidente Nicolás Maduro de ter "infligido o sofrimento que forçou mais de dois milhões de venezuelanos a emigrarem nos últimos anos". O republicano anunciou a imposição de novas sanções ao círculo próximo do presidente venezuelano — que atingem a primeira-dama Cilia Flores, conforme divulgado minutos antes pelo governo americano.

— Atualmente somos testemunhas de uma tragédia humana, por exemplo, na Venezuela. Não faz muito tempo, a Venezuela era um dos países mais ricos do mundo. Hoje, o socialismo arruinou esta nação rica em petróleo e conduziu o seu povo à abjeta pobreza. Todas as nações do mundo devem resistir ao socialismo e à miséria que trai todos. Neste espírito, pedimos que as nações aqui reunidas se unam a nós no pedido de restauração da democracia na Venezuela.

No discurso, o presidente americano também comentou a saída americana do acordo nuclear com o Irã, que chamou de "horrível". Ele descreveu o governo iraniano como uma "ditadura corrupta" que "saqueia o seu povo para pagar por agressões externas", afirmando ainda que novas sanções serão implementadas para forçar uma mudança de comportamento de Teerã a partir da pressão econômica.

— Os vizinhos do Irã pagam um alto preço pela sua agenda de agressão e expansão. É por isso que muitos países do Oriente Médio apoiaram minha decisão de sair do horrível acordo nuclear de 2015 e reimpor sanções nucleares.

Trump disse ainda que qualquer solução para a guerra civil síria deve incluir um plano para lidar com o Irã, que apoia o governo de Bashar al-Assad. O presidente reforçou que os EUA responderão caso o governo da Síria utilize armas químicas contra sua população.

— A tragédia em curso na Síria é desoladora. Nossos objetivos compartilhados devem ser a desescalada do conflito militar, junto com a solução política que honra o desejo do povo sírio — disse. — Nesse sentido, pedimos que o processo de paz liderado pelas Nações Unidas seja revigorado. Mas, tenham certeza, os Estados Unidos vão responder se armas químicas foram usadas pelo regime Assad.

COREIA DO NORTE ELOGIADA, ALEMANHA ADVERTIDA

O líder mais elogiado por Trump foi Kim Jong-un, da Coreia do Norte, a quem classificou de corajoso por tomar passos em direção à desnuclearização em negociações com a Coreia do Sul e EUA. As declarações do americano em relação ao líder supremo norte-coreano foram dramaticamente diferentes daquelas que ele mesmo proferiu na Assembleia Geral do ano passado, quando chamou Kim de "homem-foguete numa missão suicida" e ameaçou "destruir completamente" a Coreia do Norte.

Ainda no discurso, Trump disse que a Alemanha deveria seguir o exemplo da Polônia e não depender da Rússia para obter suprimentos de energia, o que poderia tornar o país vulnerável a "extorsão e intimidação". A companhia russa Gazprom e os seus parceiros europeus constroem um gasoduto desenhado para duplicar os volumes de gás natural bombeados da Rússia para a Alemanha através do Mar Báltico, evitando a tradicional rota pela Ucrânia.

— A confiança em um único fornecedor estrangeiro pode deixar as nações vulneráveis à extorsão e à intimidação, e é por isso que parabenizamos países europeus como a Polônia pela construção de um gasoduto báltico para que as nações não dependam da Rússia para suprir suas necessidades energéticas — disse Trump. — A Alemanha ficará totalmente dependente da energia russa se não mudar de curso imediatamente.



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