Depois de mais de 60 anos de incerteza em relação a membros do clero católico que operavam na China, o Vaticano anunciou um acordo histórico reconhecendo os bispos nomeados por Pequim e estabelecendo novas regras para a recondução deles.
Anunciado pelo Papa Francisco, o acordo abre caminho para a recondução do clero na China através da nomeação de bispos, "uma questão de grande importância para a vida da Igreja", disse o Vaticano em um comunicado no sábado, informou a AFP.
© AP PHOTO / ANDY WONG
Há aproximadamente 12 milhões de católicos na China. No entanto, o Vaticano cortou relações com Pequim dois anos após o estabelecimento da República Popular da China Comunista. O Vaticano também foi um dos 17 estados-nação a reconhecer Taiwan como a República da China, povoada por partidários do Kuomintang após a guerra civil chinesa.
Os termos entre as nações ficaram ainda mais azedos quando Pequim decidiu que precisaria aprovar a escolha de bispos, obviamente selecionando aliados do Partido no país. Como resultado, a Santa Sé se recusava a reconhecer a autoridade dos clérigos e não validava decisões eclesiásticas tomadas por estes religiosos. Ao mesmo tempo, a China exigia que o Vaticano retirasse seu reconhecimento a Taiwan como a "verdadeira China" e prometesse não interferir na política doméstica local.
Os acordos assinados fazem parte de um esforço do papa Francisco, que desde 2013 tenta normalizar as relações diplomáticas com Pequim. De acordo com um comunicado divulgado durante visita do pontíficie a países bálticos, os termos "criam as condições para uma maior colaboração no nível bilateral (…). Com essas decisões, um novo processo pode começar a permitir que as feridas do passado sejam superadas levando à plena comunhão de todos os católicos chineses”.
O papa reconheceu sete bispos anteriormente nomeados pela China sem a aprovação da Santa Sé e um oitavo bispo que "expressou o desejo de se reconciliar com a Sé Apostólica" antes de morrer no ano passado, de acordo com a declaração. O acordo também descartou a possibilidade de que bispos no futuro sejam propostos pelas autoridades chinesas e aprovados pelo papa, informou a BBC.
A China disse que um acordo "provisório" foi assinado entre o vice-ministro das Relações Exteriores, Wang Chao e o subsecretário do Vaticano para as relações com os Estados, Antoine Camilleri. Os dois lados vão "continuar a manter a comunicação e impulsionar a melhoria das relações bilaterais", acrescentou o comunicado chinês.
O acordo foi criticado por analistas como "ingênuo" do lado do Vaticano, mas o diretor da assessoria de imprensa da Santa Sé, Greg Burke diminuiu o tom das críticas ao dizer que a iniciativa não era política e sim pastoral. "[Visa] permitir que os fiéis tenham bispos em comunhão com Roma, mas, ao mesmo tempo, reconhecidos pelas autoridades chinesas".
O governo taiwanês reagiu à notícia afirmando que o Vaticano assegurou a natureza religiosa da iniciativa e que o movimento não afetaria seu relacionamento diplomático.
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