Há certas decisões tão absurdas que fariam com que o
menos controlado perdesse as estribeiras. Uma dessas decisões emergiu na semana
passada na Grã-Bretanha.
Protesto contra o aliciamento de crianças em Rotherham, em 5 de outubro de 2014, organizado pelo grupo "Britain First". (imagem: Britain First) |
Há onze anos, em 2004, a emissora Channel 4 iria
transmitir um documentário chamado "Edge of the City". Fazia parte da
filmagem pais de meninas de apenas 11 anos que foram aliciadas para o sexo por
gangues de homens retratados como "asiáticos". Mas havia um problema.
As eleições para o Parlamento Europeu estavam se aproximando. O Partido
Nacional Britânico (BNP em inglês), extremista e supostamente racista, esperava
se sair bem nas eleições em determinadas regiões do norte da Inglaterra. A
organização "Uni-vos Contra o Fascismo", (grupo este que não
raramente também se comporta de maneira racista) estava entre as associações
que pediam a não transmissão do documentário. O timing, com certeza, era
problemático: líderes do BNP, entre outros, estavam eufóricos acreditando que o
documentário seria bom para o partido, como se fosse uma propaganda política. A
polícia tomou o lado daqueles que expressavam preocupação, o Channel 4 decidiu
então não transmitir o programa até depois das eleições.
Independentemente dos aspectos positivos e negativos
da decisão do Channel 4, o assunto estava encerrado. Ninguém queria ajudar
grupos extremistas que poderiam tirar proveito dessa história. Mas a história
estava aí e tinha que ser divulgada. O escândalo em relação ao adiamento da transmissão
aumentou ainda mais a ebulição em torno do caso, não sem motivo, afinal das
contas houve uma ingerência do alto escalão, inclusive da polícia e das
autoridades locais para minimizar as revelações.
Esse enfoque tem perdurado desde então. Unicamente por
conta do destemido Times of London, seu jornalista Andrew Norfolk e um punhado
de outros, que alguns casos de curra foram parar nas primeiras páginas, onde
merecem estar.
Nos últimos anos a população se conscientizou não
apenas que o número de crimes era bem maior do que se podia imaginar, mas
também que era mais generalizado. E não foi somente no norte da Inglaterra que
esses casos de "aliciamento" apareceram.
Há dois anos, no julgamento da Operação Bullfinch em
Old Bailey em Londres, sete homens, todos com background muçulmano, foram
considerados culpados de 59 acusações de aliciamento e exploração de crianças.
Os detalhes do caso são angustiantes: entre eles estão drogar e currar pelo
menos seis meninas menores de idade durante vários anos. Esses estupros
aconteceram em alguma cidade do norte "esquecida", mas dentro e no
entorno da cidade universitária de Oxford. Crimes de natureza semelhante
começaram, finalmente, a aparecer em tribunais nos últimos anos. Jornais como o
Times merecem renome e credibilidade pela cobertura séria, cuidadosa e
ostensiva desses casos.
Contudo, permanece a sensação que esses crimes de
estupro infantil ainda são preteridos e acobertados. Os resultados de uma investigação
oficial independente sobre a exploração de meninas jovens em
Rotherham, denunciados no ano passado, descobriram falhas em praticamente todos
os níveis da instituição do estado. "O Relatório Jay" constatou que pelo
menos 1400 meninas foram vítimas somente na região de Rotherham entre 1997 e
2013. O relatório também expõe, sem dó nem piedade, como a polícia, câmara e
serviços de assistência social falharam clamorosamente no período em questão.
Fica difícil imaginar uma amostra com uma falha institucional mais
incriminatória do que essa.
No entanto, mesmo na esteira desse escândalo nacional,
ao que tudo indica, persiste o tabu em relação a esse assunto. Na semana
passada, em Bradford, 14 homens e um adolescente de 16 anos de idade foram
acusados de crimes "relacionados a estupro e abuso sexual de uma criança
com menos de 16 anos de idade". Os crimes teriam acontecido entre 2011 e
2012. Os homens, em sua maioria na casa dos 20 anos de idade, o mais velho tinha
62, constituída de uma lamentável lista, já bem conhecida de sobrenomes: Khan,
Ali, Mahmood, Younis, Hussain. Muito embora tenha sido denunciado
na imprensa local, o caso apareceu, de maneira bem discreta, somente uma vez no
noticiário nacional da BBC. Pode ser que a imprensa nacional esteja aguardando
o início do julgamento, ou será que estão acontecendo mais coisas? E estão
mesmo. Crimes dessa natureza ainda estão sendo jogados debaixo do tapete,
motivados pela "correção política", sem a preocupação com o mal
perpetrado contra as crianças. O problema é realmente explosivo.
É isso que motiva a perda das estribeiras. Em meio a
tudo isso, todos esses anos de inegável acobertamento, fuga e medo que grupos
terroristas poderiam rechaçar a história, o rancor público está explodindo em
cidades onde esses aliciamentos continuam. Em regiões no norte da Inglaterra
houve protestos contra o aliciamento de meninas menores de idade. Alguns desses
protestos podem se tornar generalizados e bem execráveis, eles podem incluir
indivíduos que erroneamente alegam que "todos os muçulmanos" são, de
certo modo, responsáveis por esses crimes. Mas enquanto esses protestos
estiverem dentro da lei, devem continuar a ser permitidos. Nem todos têm uma
coluna na imprensa nacional ou condições de se fazer ouvir em transmissões de
rádio e televisão. Isso não significa que alguns dos grupos que organizaram os
protestos, incluindo a English Defence League e um grupo chamado "Britain
First" são moralmente respeitáveis. Mas dá para imaginar alguém decente
querer que sua voz seja ouvida, disposto a marchar contra o total fracasso das
autoridades da cidade que a tornaram tão execrável.
E agora, ao que tudo indica, a câmara municipal de
Rotherham espera retirar até essa prerrogativa da população da cidade. Na
semana passada, a câmara municipal de Rotherham entrou com um pedido para a
Secretaria do Interior para promulgar poderes emergenciais para que possa
proibir as manifestações contra o aliciamento de crianças na região de
Rotherham. O motivo segundo eles é o custo. De acordo com um jornal local, uma
manifestação apenas no último mês de setembro custou mais de um milhão de
libras esterlinas, inegavelmente um dreno terrível de recursos.
Ninguém irá negar que esses protestos e
contraprotestos podem causar grandes prejuízos para o comércio, entre outras
coisas, na região de Rotherham. Mas só de pensar em proibir os protestos, os
membros da câmara municipal de Rotherham estão fazendo um dos maiores erros
possíveis de se imaginar. O fato do aliciamento continuar na região e ser
acobertado ou ignorado pelas autoridades não é mera opinião, é um fato comprovado.
O ressentimento da população em relação a esses horrores é compreensível. Mas
se expressões que estiverem de acordo com a lei forem proibidas, a única coisa
que poderá acontecer é o seguinte: as pessoas assumirão que há algo ainda pior
acontecendo. Uma cidade em que as autoridades permitiram que estupros infantis
continuassem por uma década e que agora proíbe manifestações contra o estupro
de crianças, está projetando uma versão totalmente nova de vitimização da qual
não sairá nada de bom. Gritos de fúria, principalmente a perda das estribeiras
nesses casos, devem ser protegidos pela liberdade de expressão, principalmente
quando estão fundamentados em fatos.
Traduzido
por Joseph Skilnik do original em inglês: Child-Rape
Crimes Covered Up
Fonte:
Instituto
Gatestone
Divulgação:
www.juliosevero.com
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