Foto: Voz da Rússia
Não
bastasse os incendiários países periféricos de sempre mas que ganham
importância por estarem localizados em palcos estratégicos – e por isso
arrastam as intrometidas superpotências e suas ambições geopolíticas a
estes destinos sangrentos –, estas também sempre inventam um pretexto
para fazer soar os tambores de guerra. Mesmo se essas intenções não são
declaradas e, quando não, servindo apenas ao público interno, a qualquer
hora a situação poderá fugir ao controle.
A
mais nova é a criada pela China com a tal Zona de Identificação de
Defesa Aérea (Zida), uma vasta área imaginária que pretende exigir
identificação de aeronaves mesmo em espaço aéreo internacional ou de
vizinhos. Abrangendo regiões que os chineses querem para seu domínio,
como as ilhas japonesas de Senkaku (ou Diaoyu, para eles) e territórios
pertencentes às Filipinas e ao Vietnã, além de afetar diretamente a
Coreia do Sul, só serve mesmo para demonstrar força diretamente aos
Estados Unidos.
Naturalmente
que Barack Obama e seus falcões não vão aceitar, em se tratando de
países protegidos por eles a partir da base de Okinawa, no Japão. E para
lá os caças-bombardeiros B52 já circulavam sem se identificarem,
enquanto em baixo navegava o único porta-aviões chinês.
O
que de fato a China ganha com isso, dias depois de surpreender o mundo
com reformas liberalizantes? Com interesses globais e numa escalada que
poderá vir a sair da segunda para a primeira economia em alguns anos,
além de potência nuclear, é patético imaginar seus dirigentes
acreditarem que os americanos poderão atacá-la um dia.
Por muito mais, os Estados Unidos e a União Soviética não chegaram a isso.
O
direito de defender seu território e armar-se até os dentes, ainda que
com tecnologia inferior (por enquanto) a daqueles dois, o país tem, vá
lá. Mas fustigar quase gratuitamente é dar chance para um erro de
cálculo ou até para um ‘dia de fúria’ – infortúnios que Ele até agora
tem pacientemente controlado desde que meia dúzia de nações passou a ter
a capacidade de pulverizar o mundo.
Na
verdade, a China sofre de baixa autoestima, vítima do menosprezo e
preconceito do Ocidente – e de alguns vizinhos - durante séculos e,
mesmo hoje, seu invejado desenvolvimento não é suficiente para
restituir-lhe a glória. É um problema de ordem psicológica, não fosse os
dedos nos botões.
Enquanto
isso, seu imprevisível apadrinhado Kim Jong-um, o ditador da Coreia do
Norte, dá sinais de impaciência querendo sair do recesso e voltar a ser
estrela, depois de passar meses ameaçando o mundo via Coreia do Sul e,
naturalmente, os americanos.
Em
rompante rotineiro, anunciou recentemente ter completado a última fase
de enriquecimento de urânio e vai construir novas armas nucleares. É com
o gordinho, às suas barbas, que a China tem que se preocupar, porque o
risco de explosão ali vai arrastar todo mundo, com ou sem Zida.
Não
à toa, a vizinha Rússia está inquieta. Vladimir Putin tratou de assinar
há dois dias um decreto renovando as restrições de cooperação com a
Coreia do Norte, em linha às sanções do Conselho de Segurança da ONU
decretadas em março último.
Por
falar no presidente Putin, ele ficou estranhamente calado diante do
estabelecimento da zona de identificação aérea do seu vizinho bem mais
poderoso. Mesmo sendo um teatro de operações de interesse da Rússia e
bastante frequentado pela aviação civil e militar do país.
Naturalmente
que o Kremlin reconhece que a Zida chinesa é endereçada aos Estados
Unidos e europeus, mas está disposto a aceitar candidamente que seus
aviões informem suas identificações a Pequim? Está disposto a colaborar
para, na pior das hipóteses, ser vítima de erro de avaliação dos caças
chineses? Ou há algum acordo nos bastidores livrando os russos - que não
são exatamente objeto de admiração também dos chineses - de qualquer
exigência?
Agora
que há uma chance mínima, daquelas de pegar ou largar, de sossegar o
Irã – não se sabe por quanto tempo –, e escantear a estridência de
Israel contra o acordo que abre as portas para controle das ambições
nucleares iranianas, o mundo acorda sob renovadas ameaças.
Ainda
levando em conta que de outro país periférico, a Síria, com potencial
incendiário, Rússia e até os Estados Unidos largaram mão, sob a
patrocínio do primeiro, já que mais vale um Assad do que os jihadistas
(hoje no controle dos rebeldes), no comando do país e espalhando com
mais força sua sangrenta Jihad.
Enfim, se Deus jogar a toalha, salve-se quem puder.
0 comentários:
Postar um comentário
Faça seu comentário aqui ou deixe sua opinião.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.