Apesar de não se desculpar pelo ataque, Adnan Rasheed ofereceu a Malala um conselho sobre sua educação, sugerindo que ela volte ao Paquistão e se matricule em uma escola islâmica para meninas. “Use sua caneta pelo Islã e pelo sofrimento da comunidade muçulmana, e revele a conspiração da pequena elite que quer escravizar a humanidade inteira em nome de uma nova ordem mundial maligna”, escreveu Rasheed.
Rasheed, que tem relações próximas com os líderes do Taleban, disse também que o atentado foi “chocante” e que ele desejava que não tivesse acontecido. Rasheed disse que deixaria nas mãos de Deus decidir se a ativista pelo direito de as meninas estudarem deveria ou não ser alvo.
“Você disse em seu discurso ontem que a caneta é mais poderosa que a espada”, escreveu Rasheed em referência ao discurso de Malala na ONU , “então eles te atacaram por sua espada, não pelos seus livros ou escolas”.
Rasheed afirmou que a carta, recebida na noite de terça-feira pela Associated Press, expressa sua opinião pessoal e não a do grupo militante. A AP entrou em contato com outro comandante do Taleban na quarta-feira, que confirmou a autenticidade da carta.
Malala tinha 15 anos quando ela e duas amigas foram atacadas no caminho de casa para a escola no Vale do Swat, noroeste do Paquistão. A tentativa de assassinato foi condenada por entidades de todo o mundo. Malala celebrou seu aniversário de 16 anos na semana passada com um discurso na sede da ONU, em Nova York, durante o qual afirmou que o ataque deu a ela mais coragem. Malala também pediu aos líderes mundiais que ofereçam educação para todas as crianças.
Segundo Rasheed, o Taleban não atacou Malala por causa de sua defesa da educação para meninas, mas porque ela criticou o grupo quando ele assumiu o controle de grande parte do Swat entre 2008 e 2009. A declaração reflete declarações de outros militantes na época do atentado.
Rasheed, que fugiu da prisão no ano passado, disse que os militantes do Taleban apoiam que meninos e meninas frequentem a escola, contanto que recebam uma educação islâmica e não estudem o que chamou de “currículo satânico ou secular”. Malala escreveu um um blog da BBC na época em que o Taleban tomou o controle do Swat que muitas estudantes se mudaram da região depois que o grupo divulgou um documento proibindo as meninas de irem à escola.
O Taleban sequestrou e atirou em outras ativistas em favor da educação como Malala, e também explodiu centenas de escolas no noroeste paquistanês. O Exército do país lançou uma forte ofensiva contra o Taleban no Swat e conseguiu retomar o controle do local em meados 2009, mas os ataques esporádicos continuaram.
Rasheed diz que o Taleban explodiu apenas as escolas que os soldados paquistaneses usavam como esconderijo. Professores e ativistas afirmam que isso é apenas parcialmente verdade. Apesar de algumas escola de fato terem sido usadas por militares, muitos dos ataques foram motivados pela oposição do Taleban à educação das meninas ou pelo fato de algumas escolas não seguirem uma interpretação estrita do Islã.
Rasheed também justificou os recentes ataques a funcionários de saúde do Paquistão que estavam vacinando crianças contra a pólio , alegando que o ocidente está tentando esterilizar os muçulmanos. No passado, o Taleban havia negado ter sido o autor desses atentados.
O comandante do Taleban também criticou a ONU pela homenagem a Malala e afirmou que o mundo ignora que civis estão sendo mortos por ataques de drones(aviões não tripulados) americanos no noroeste do Paquistão. A ONU tem uma investigação em curso sobre denúncias de mortes de civis em ataques de drones dos EUA.
O ex-premiê britânico Gordon Brown, enviado especial da ONU para a educação global, criticou Rasheed por escrever a carta enquanto o Taleban continua atacando escolas. “Ninguém vai acreditar em nenhuma palavra do que o Taleban diz sobre o direito de meninas como Malala irem para a escola até que parem de queimar escolas e massacrar alunos”, declarou.
FONTE:
ultimosegundo.ig.com.br
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