terça-feira, 28 de outubro de 2014

O que Pútin pensa sobre a política externa americana

Nikolai Litóvkin, Gazeta Russa

Em sua apresentação na conferência internacional do Clube de Discussão Valdai, Vladímir Pútin fez um discurso de 40 minutos com criticas à política externa norte-americana. De acordo com analistas russos, Pútin ressaltou o posicionamento inabalável da Rússia em relação às grandes questões mundiais e incitou o Ocidente a dialogar para resolver os vários problemas já existentes.

Pútin deu claramente a entender aos EUA e seus aliados da OTAN que a Rússia vai defender seus interesses nacionais Foto: RIA Nóvosti


A Gazeta Russa reuniu as visões de especialistas sobre a apresentação de Vladímir Pútin na conferência internacional do Clube de Discussão Valdai, em que o presidente fez um discurso de 40 minutos direcionado para a crítica à política externa norte-americana.

Nikolai Zlóbin, presidente do Centro Americano Para os Interesses Globais

A tese principal se assentou no fato de a Rússia não estar caminhando para se tornar um país totalitário. Essa foi a principal mensagem que o mundo queria escutar, porque é precisamente isso que preocupa a opinião pública mundial. No geral, eu estava esperando uma relação muito menos pacífica na avaliação tanto dos EUA, como da situação no geral. Eu acho que Pútin está procurando seriamente um compromisso. As suas respostas em relação à Ucrânia foram de grande compromisso.

Me parece que Washington, depois de ter criticado o discurso, tentará provavelmente, apesar de tudo, ver o seu lado positivo. O positivo está no fato de não terem sido feitas críticas muito contundentes.

Entre as coisas que vão comentar em desfavor de Pútin está o fato de ele ter omitido quaisquer críticas à atuação da Rússia. Quando alguma coisa dá errado devemos tentar entender qual foi a nossa culpa nisso. A Rússia tem a sua cota de responsabilidade pela deterioração da situação internacional. E isso não tem a ver só com a Ucrânia, mas com o que já existia antes. Há muitas questões nas quais a Rússia poderia ter agido com mais sabedoria.

Aleksêi Fenenko, colaborador sênior do Instituto de Questões Para a Segurança Internacional 

O discurso feito pelo presidente Vladímir Pútin no clube de discussão Valdai foi a continuação do famoso discurso de Munique e um apelo à mudança do “status quo” nas relações internacionais.

Em seu discurso de sexta-feira em Sôtchi, Pútin disse que a Guerra Fria terminou sem ter se levado o tratado de paz até o final. Ele ressaltou que, depois disso, o sistema das relações internacionais precisava ter sido renovado, mas que os Estados Unidos, ao se declararem vencedores e "seguros de si mesmos, não viram qualquer necessidade nisso", tendo surgido a impressão de que os EUA decidiram reformular o mundo inteiro "para se adaptar a ele" segundo os seus interesses.

Mas eles não "aguentaram a puxada" do mundo unipolar e agora tentam recriar uma espécie de "sistema quase-bipolar", disse Pútin. O presidente russo mencionou ser necessário definir claramente os limites da atuação unilateral para resolver o dilema entre os interesses de segurança e dos direitos humanos e o princípio da soberania.

A ideia do discurso do presidente é que a Rússia não embarca na tentativa norte-americana de construir uma nova ordem mundial. Até agora, a base das relações internacionais, tal como nos anos da Guerra Fria, se assentava na paridade nuclear dos EUA e na distância que separa o seu potencial de todos os outros. Eu diria que a gente vive não em uma nova ordem mundial, mas em uma ordem moderna “pós Conferência de Ialta e Acordo de Potsdam”.

Se eliminarmos a retórica antiamericana do discurso de Pútin, a mensagem que fica é visível: estamos entrando em um período em que podemos iniciar as discussões sobre a revisão das regras do jogo. Nós ainda vivemos pelas regras estabelecidas nos anos 1943-45 pelos países vencedores. Toda a lógica do desenvolvimento do atual sistema mundial está conduzido à necessidade de saber se esse modelo vai ou não ser revisto.

Pútin apela aos norte-americanos para essa revisão da ordem mundial. Qual será a sua essência e a negociação a ser feita é coisa que ainda não está clara. Mas o apelo, definitivamente, existe.

Víktor Litóvkin, analista militar independente

Pútin descreveu de um modo muito severo, mas realista, a política dos Estados Unidos que visa o domínio do mundo moderno. Além do mais, esse domínio não se assenta em quaisquer vantagens na esfera intelectual e econômica, mas na força militar e na destruição dos regimes dominantes dos países que possuam alguns parâmetros que não agradem à liderança americana.

Pútin deu claramente a entender aos EUA e seus aliados da OTAN que a Rússia vai defender seus interesses nacionais acirradamente e que não existem ameaças ou sanções que mudem o posicionamento do Kremlin relativamente às principais questões que afetam os interesses nacionais do nosso país.

A Rússia é bastante resistente e, para ela, o mundo tem mais opções de escolhas para além da liderança dos Estados ocidentais. Moscou vai construir a sua política externa soberana baseada na cooperação com os principais países do mundo em todos os continentes e, em primeiro lugar, com os países do BRICS e também com aqueles países que não se dobram às pressões de Washington e Bruxelas.

Pútin sublinhou que a Rússia é uma potência com mísseis nucleares e que é contraproducente falar com ela assumindo uma posição de força.

FONTE:
http://br.rbth.com/politica/2014/10/28/o_que_putin_pensa_sobre_a_politica_externa_americana_28025.html

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