Foi assim em 2013, quando da primeira grande
demonstração de força de aplicativos como Facebook, Youtube e Twitter
por aqui. Falo da onda repentina de manifestações motivada pelo aumento
das tarifas de transportes coletivos - movimento que ainda ressoa no
país e muito provavelmente ecoará com força nos próximos meses, na
esteira de uma impopular Copa do Mundo de futebol e uma eleição ainda
imprevisível para as posições federais e estaduais do executivo e do
congresso.
Mas enquanto isso ainda é previsão, coisa
apenas passível de acontecer, o Brasil inicia 2014 no embalo do
"rolezinho", uma nova modalidade de mobilização, também organizada pelas
redes sociais e que, nos últimos dias, ganhou de assalto o interesse
das pessoas.
O "rolezinho", sejamos justos, começou no
final do ano passado, precisamente no dia 7 de dezembro de 2013. Mas
atingiu seu apogeu na agenda de discussões há coisa de poucos dias, com
direito a debates públicos pela Internet e opiniões balizadas por
cientistas sociais em veículos de mídia tradicional.
Não
vou gastar tinta para explicar o que é um "rolezinho". Nem precisa.
Além de fartamente noticiado, o movimento é simples demais: um encontro
agendado entre jovens para ouvir música e fazer barulho no shopping center.
Mas o que chama a atenção é a resposta da população, daqueles que não
têm perfil para a aderir ao "rolezinho". O que depõe claramente sobre
como pensa uma parte do povo.
O primeiro evento desse
tipo aconteceu em um destino de compras tradicionalmente frequentado por
consumidores de baixa renda de São Paulo, no bairro de Itaquera, a
pouquíssimos metros do local onde se constrói o estádio de abertura da
Copa do Mundo. Milhares de jovens atenderam ao convite e lotaram o
estacionamento do shopping. Teve confusão com os seguranças e alguns casos de assaltos realizados dentro do centro de compras.
Dali
pra frente, outros eventos semelhantes foram realizados, com e sem
confusão, mas o negócio seguia relativamente à margem do interesse
nacional até que recentemente um incidente foi determinante. Na
iminência de receber um "rolezinho", um shopping de luxo da
cidade recorreu à justiça e conseguiu dela liminar improvável,
expediente que autorizou o espaço a organizar uma triagem de seus
clientes. Na prática, seguranças e políciais militares e civis (estes
munidos de fuzil de assalto Colt M4A1) postaram-se plantados na porta de
entrada do shopping escolhendo quem entrava ou não no local.
Foi
como jogar farinha no ventilador. No outro canto da cidade, novamente
em Itaquera, a polícia reprimia mais uma tentativa de "rolezinho" no shopping center
local, dessa vez com balas de borracha e spray de pimenta. Como
resposta, os militantes do Facebook retomaram a carga de denúncias
contra a polícia. Alguém disse que a manifestação popular era como massa
de bolo, bastava bater para crescer. E rapidamente estava armado
novamente o clima de indignação que galgou durante a crise de junho todo
o Brasil.
No momento em que escrevo essas linhas, 300 manifestantes convocados por movimentos populares marchavam em direção a um shopping
da zona sul de São Paulo para armar o primeiro "rolezão", em defesa da
moradia. Sinal claro de apropriação de um evento relativamente simples
por grupos políticos. Outros dez "rolezinhos" estavam armados para o
sábado do dia 18, em São Paulo e no Rio de Janeiro, convocados por gente
comum como apoio ao que se registrou em São Paulo.
De
fato, o clima passou de brincadeira de adolescentes a tensão social em
muito pouco tempo, prova de que uma insatisfação geral permanece em
alerta entre as pessoas. Uma fagulha de reprovação, o caldo ferve e
entorna.
Dilma já está preocupada com isso. Ciente da
incapacidade da polícia metropolitana em se relacionar com tumultos, já
se movimenta para tentar resolver a situação, inclusive com a
possibilidade de convidar as lideranças do "rolezinho" para uma
conversa. Mas a verdade é que nem ela sabe muito bem o que fazer. Dilma
está claramente tentando se adiantar aos fatos, numa tentativa de
caminhar por vias distintas das que seguiu em 2013, quando foi duramente
criticada pela demora em se manifestar publicamente e procurar resolver
o problema.
Agora há pouco, o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, homem
responsável em dialogar com grupos sociais e políticos, defendeu a
convivência dos lojistas de shoppings com os "rolezinhos".
Disse que os "conservadores deste país" têm de se conformar com o fato
de os direitos agora serem iguais para todos e criticou a concessão de
liminares para conter os movimentos.
O ministro não
está errado. Assim como também não erra Geraldo Alckmin, governador
paulista, que ressaltou que o "rolezinho" não é caso de polícia, desde
que não aconteçam tumultos. Todos eles, inclusive acadêmicos e
observadores internacionais, sabem que o que está em jogo é a atividade
de um grupo de jovens acostumados com a sobrevivência marginal,
encastelada na periferia pobre de grandes cidades, e que agora encaram o
poder de aglutinação que uma simples plataforma de relacionamento,
gratuita e tecnicamente fácil de se operar, oferece. Ao lado deles,
quietinho e esperando por uma oportunidade de aparecer, há uma
infinidade de grupos insatisfeitos, que esperam por tumulto para darem o
ar de sua graça. Sem nunca se esquecer dos black blocks, com todo o potencial destrutivo que são capazes. Como bem observa o leitor, o Brasil não é mais o mesmo.
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