Cerca
de cinco mil abortos foram realizados no Uruguai desde a
descriminalização, mas ainda há "dificuldades" para a interrupção da
gravidez, de acordo com estimativas oficiais e estudos da organização
Mulher e Saúde do Uruguai (MYSU). Hoje faz um ano que a lei que
descriminaliza o aborto no país foi aprovada.
O governo anunciou recentemente que nos primeiros meses
de 2014 poderá ser divulgado o "número oficial" de abortos realizados em
instituições médicas no primeiro ano de aplicação da lei. No entanto, o
vice-ministro de Saúde Pública, Leonel Briozzo, estimou ontem que "se
mantém a tendência" do primeiro semestre da nova legislação.
Em julho deste ano, Briozzo informou que foram
registrados 2.550 abortos nos primeiros seis meses de descriminalização,
com uma média de 456 mensais. Neste período, não foram registradas
mortes maternas por interrupções da gravidez praticadas em situações de
risco.
O vice-ministro de Saúde Pública destacou ainda que
estes dados representam dez abortos a cada mil mulheres em idade
reprodutiva. Isso contrasta com os mais de 40 a cada mil que se estima
que foram realizados no país entre os 1995 e 2002, quando o aborto era
ilegal e não existiam políticas educativas sobre sexualidade.
A diretora de MYSU, Lilián Abracinskas, afirmou hoje que
os abortos no Uruguai eram 16 mil anuais em 1978 e houve uma "explosão"
de até 33 mil em 2003 "em plena crise econômica".
Se as autoridades estimam que na atualidade são cinco
mil os abortos anuais no país "há um incompatibilidade grande com os
números históricos e terão que estudar os motivos", assinalou.
A organização advertiu também sobre um "número
significativo" de abortos que "por diferentes razões seguem sendo
realizados de forma clandestina".
Com a aprovação da Lei de Interrupção Voluntária da
Gravidez, se materializaram "progressos" na defesa dos direitos da
mulher, mas, ao mesmo tempo, "existem dificuldades" para "poder
concretizar" os abortos, acrescentou.
A solicitação da interrupção voluntária da gravidez pode
ser feita até a 12ª semana de gestação. O período se amplia a 14
semanas em caso de estupro e não há restrições nos caso de má-formação
do feto ou risco de vida para a mãe.
Antes, as pacientes devem passar por uma comissão
formada por um ginecologista, um psicólogo e um assistente social. Entre
outras ações, eles conversam sobre a possibilidade de concluir a
gravidez e dar a criança para adoção.
Posteriormente, há cinco dias para a reflexão. Depois,
se decidir por confirmar sua vontade, é feito o aborto que é
farmacológico e seguindo os critérios recomendados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).
A diretora da MYSU destacou que "ainda há muita
desinformação" entre as uruguaias sobre seus direitos e pediu às
autoridades sanitárias "uma campanha ampla e clara" para que os
conheçam.
A organização reivindica uma campanha de informação para
"evitar a gravidez não desejada" após assinalar que, segundo uma
recente pesquisa, 25% das uruguaias entre 15 e 49 anos "não utilizam
qualquer método anticoncepcional".
0 comentários:
Postar um comentário
Faça seu comentário aqui ou deixe sua opinião.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.