Foto: NATO
O diálogo entre a OTAN e a Rússia foi interrompido. Na semana passada a Aliança Atlântica anunciou o cancelamento da cooperação com a Rússia. Por seu lado, Moscou mandou regressar o seu representante militar permanente na sede da OTAN em Bruxelas. Segundo foi comunicado por Moscou, o relacionamento posterior irá acompanhar os passos concretos da Aliança.
A Aliança Atlântica cumpriu seu 65º aniversário a 4 de abril mas, tal como no dia da sua fundação, a OTAN procura ver na Rússia um inimigo e em tempos de crise prefere o corte de relações ao diálogo. Devido à posição de Moscou relativamente à Ucrânia, a Aliança cancelou a cooperação com a Federação Russa, inclusive na esfera humanitária.
Entretanto a OTAN dinamiza sua cooperação com Kiev. A Ucrânia vai receber especialistas da OTAN e estão planejadas manobras conjuntas. Apesar de não se falar de uma adesão oficial da Ucrânia à OTAN, o Ocidente acabou por, na prática, declará-la como zona dos seus interesses, refere o analista Serguei Ermakov:
“O princípio da existência da própria OTAN é o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte que prevê a responsabilidade coletiva e a defesa coletiva de todos os países-membros perante uma agressão militar externa. Contudo, hoje a OTAN está mais interessada em “fornecedores” de segurança do que nos seus “consumidores”. Desse ponto de vista, o alargamento do número de países-parceiros, ou seja o alargamento da sua área de atuação a países que eles treinam pelos seus padrões, armam, com quem realizam manobras conjuntas, é de extrema importância para a OTAN. Dessa forma eles alargam sua zona de influência. Contudo eles não querem assumir grandes responsabilidades por essa zona de influência. Por isso, à Ucrânia foi oferecida uma participação alargada em diversos programas da OTAN, mas não o estatuto de membro formal.”
Outro assunto são os países que já são membros da Aliança. Desde 1999 e até 2009 foram 12 os países da Europa Oriental que se tornaram membros da OTAN. Eles foram necessários para uma aproximação geográfica à Rússia. Durante o período de “desanuviamento”, quando a Rússia e a OTAN estabeleceram o diálogo e anunciaram o fim da Guerra Fria, o bloco do Atlântico Norte não necessitava de um reforço da sua componente militar. Ele acabou mesmo por registrar em documentos a ausência dessas intenções.
Mas surge uma nova crise, e eis que na Estônia, a escassos 300 quilômetros da cidade russa de Pskov, é decidida a instalação de uma segunda base aérea da OTAN, a Romênia recebe mais 175 marines e para o mar Negro é enviado o contratorpedeiro norte-americano USS Donald Cook equipado com o sistema antimísseis Aegis. Esses atos são claramente contrários aos acordos existentes entre a OTAN e a Rússia, declarou o ministro das Relações Exteriores da Rússia Serguei Lavrov:
“Nós partimos do princípio que nas relações entre a OTAN e a Rússia funcionam determinadas regras, incluindo a Declaração de Roma e o documento de criação do Conselho OTAN-Rússia, de acordo com as quais não deveria existir uma presença militar adicional permanente nos territórios dos países da Europa Oriental.”
Em vez de uma tentativa de compromisso, a Aliança preferiu o aumento da confrontação e anunciou o fim da cooperação alargada com a Rússia. Na prática, durante estes 65 anos de existência, a visão da OTAN permaneceu imutável, comenta o editor principal da revista Natsionalnaya Oborona (Defesa Nacional) Igor Korotchenko:
“A OTAN continua a ser um instrumento global da dominação militar ocidental. Ao longo dos anos de existência da Aliança, desde a sua fundação, aconteceu a sua transformação de uma organização de defesa regional numa organização de projeção global. A OTAN quer desempenhar o papel de polícia mundial. Nesse aspeto nós iremos assistir nos próximos anos ao alargamento do leque de competências da OTAN e a uma intervenção da OTAN em cada vez mais situações de conflito em todo o mundo. Já não existe a Organização do Pacto de Varsóvia, mas a OTAN continua existindo, se vai alargando e já começou a erguer uma nova “cortina de ferro” ao longo do perímetro da fronteira ocidental da Rússia.”
Contudo, ao terminar com a cooperação, a OTAN deixa para si um espaço de manobra. O secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, expressou a esperança que os projetos de cooperação relativos ao Afeganistão tenham, apesar de tudo, continuidade. A Rússia garantia o trânsito para o Afeganistão da missão militar ocidental. Para sua própria comodidade a Aliança já está disposta a corrigir mais uma vez suas declarações.
OTAN, Ucrânia, Rússia, Ocidente, Internacional
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