- Publicado em: Quarta, 25 Setembro 2013 17:58
Matéria publicada na Folha de S. Paulo revela que ONG de FHC é
financiada por grandes grupos norte-americanos. Veja a matéria abaixo:
Quem paga a conta?
O anúncio de que a Open Society, instituição de George Soros, iria
cortar a subvenção a sites latino-americanos de reportagem acelerou a
corrida por novas formas de financiamento. Doações de indivíduos e de
empresas de tecnologia ganham força, mas podem trazer riscos ao
jornalismo dos veículos.
Em abril, durante encontro de jornalismo no Texas, a Open Society
Foundations (OSF), instituição mantida pelo investidor George Soros,
patrocinador de campanhas democratas nos EUA e de bandeiras como a
legalização da maconha, alertou uma série de sites latino-americanos de
reportagem de que iria cortar a subvenção que lhes provinha. Entre os
meios eletrônicos beneficiados listam-se o salvadorenho El Faro, o
colombiano La Silla Vacía, o chileno Ciper e o brasileiro Agência
Pública.
O apoio fornecido pela Open Society, em muitos casos realizado em
paralelo ao da Fundação Ford, ambas sediadas em Nova York, ajudou a
estabelecer uma rede on-line de jornalismo alternativo na região.
Com o anúncio do corte, ainda não concretizado, acelerou-se a corrida
por outras formas de financiamento que permitam a sobrevivência dos
sites. Os veículos passaram a procurar outras fundações, além de
"crowdfunding" (mecanismo de financiamento direto, por indivíduos).
A Open Society foi formada por Soros em 1993, nos Estados Unidos, para
coordenar ações que o investidor americano de origem húngara apoiou no
período de transição do Leste Europeu para a democracia e o capitalismo.
Com o tempo, diversificou seu campo de atuação para a América Latina e a
África.
O advogado Pedro Abramovay, 33, ex-secretário nacional de Justiça
(governo Lula), assume neste mês a direção da Open Society para a
América Latina. Ele explica que a instituição passa por uma "grande
reestruturação interna". Os programas regionais, como o
latino-americano, estão "ganhando força" em detrimento dos temáticos,
como o programa de mídia, que vinha financiando os sites de jornalismo
--não só na América Latina mas em outras áreas do globo, como o Leste
Europeu.
Abramovay foi indicado para a fundação pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, que preside a Comissão Global sobre Política de
Drogas, "financiada em grande medida", segundo o advogado, pela própria
Open Society. Ele chegou a ser o secretário nacional de Políticas
Antidrogas do governo Dilma Rousseff, mas deixou o cargo em poucos dias,
depois de defender penas alternativas para pequenos traficantes.
A reestruturação e a escolha do diretor brasileiro apontam para a
priorização do tema das drogas nas ações regionais da instituição. Além
da aproximação com FHC e Abramovay, o próprio Soros se encontrou com
Lula há quatro meses, quando o ex-presidente recebeu prêmio do
International Crisis Group, organização nova-iorquina também financiada,
em parte, pela Open Society.
Paralelamente, o fundo de investimento de Soros, baseado nas ilhas
Cayman, passou a investir no setor brasileiro de comunicações, um ano
atrás. O primeiro passo foi a aquisição da operadora de TV paga Sunrise,
de São Paulo. O segundo, o lançamento, há um mês, da On Telecom,
operadora que começa oferecendo acesso à internet de banda larga no
interior paulista.
Questionado sobre os interesses comerciais de Soros no Brasil,
Abramovay --lembrando ainda não ter assumido seu cargo na Open Society--
diz ter sido informado de que "há uma política muito rígida de
separação das coisas, para que não exista nenhum conflito de
interesses". Para tanto, a fundação vem buscando cada vez mais uma
"governança própria, independente da vontade" do investidor.
DEMOCRATIZAÇÃO
Se a Open Society revê suas subvenções, cujos beneficiados incluem
ainda organizações como o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas,
no Texas, e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji), a Fundação Ford segue firme na área de "democratização da
mídia", que começou a se desenvolver na última década, segundo Mauro
Porto, coordenador do projeto dedicado a "mídia e liberdade de
expressão" na instituição.
Há mais de meio século no país, a Fundação Ford tem linhas tradicionais
de doação, como direitos humanos e igualdade racial. "A área mais nova,
que é de acesso à mídia, tem um portfólio de doações principalmente
para organizações da sociedade civil", diz ele. Além da Pública, do
Centro Knight e da Abraji, lista o Coletivo Intervozes e o Observatório
da Imprensa.
As subvenções seguem "dois eixos estratégicos: a necessidade de
atualização do marco regulatório para as comunicações e o monitoramento
de como os meios tratam determinadas temáticas". Segundo Porto, o
projeto surgiu há dez anos, quando a fundação avaliou ser "fundamental,
para consolidação da democracia no Brasil, a democratização dos meios de
comunicação".
Questionado sobre as doações de mídia da Fundação Ford nos anos 50 e
60, que seguiam a política externa dos EUA, como relata o livro "The
Cultural Cold War" (no Brasil, "Quem Pagou a Conta?", Record, 2008),
Porto responde que "certamente ocorreram erros na história" da
instituição, mas agora ela "atua com a mais absoluta independência e
transparência".
A exemplo de Abramovay sobre a Open Society, ele afirma que a Fundação
Ford é hoje mantida "única e exclusivamente pelo seu endowment'",
dotação de grande volume feita pela família Ford, cujos rendimentos
financeiros sustentam "tudo o que a instituição faz ao redor do mundo e
no Brasil". Enfatiza que "a fundação não recebe dinheiro de nenhuma
empresa nem de nenhum governo".
AMEAÇA
A Fundação Ford, porém, não quer ser o sustentáculo da mídia
alternativa na América Latina e, segundo Porto, "incentiva a que nenhum
dos parceiros dependa dela", o que representaria "ameaça à
sustentabilidade e à independência financeira" dos meios apoiados pela
instituição.
O problema é que no Brasil, acrescenta Pedro Abramovay, "falta cultura
de doação", tanto de fundações como de indivíduos. Nos últimos dois
anos, fora do governo, Abramovay esteve à frente do site global Avaaz,
de campanhas e petições, que não aceita financiamento de governos ou
fundações, só "crowdfunding". Com base na sua experiência, avisa que,
junto aos brasileiros, não é tarefa fácil. "O Brasil tem o maior número
de membros da Avaaz, está em primeiro lugar, com 5 milhões, mas em
doações fica lá atrás."
Natália Viana, da Agência Pública, que iniciou em agosto um programa de
financiamento coletivo para reportagens, discorda. "Se fosse dois anos
atrás, também teria essa visão, mas o fenômeno do crowdfunding' no
Brasil está muito forte, especialmente através do Catarse", diz, citando
o site escolhido pela agência para levantar recursos. "Há várias
campanhas bem-sucedidas no Catarse."
Ela apresenta dois argumentos contra "essa coisa de que brasileiro não
doa". O primeiro é que as experiências que já deram certo, aqui, seguem
estratégia diferente daquela usada nos EUA. "Não é uma lógica de doar
todo mês um valor para uma ONG, mas uma lógica de campanha mesmo. É o
momento em que todos se juntam. Depois, passou. No Brasil, com o
Catarse, tem funcionado."
O segundo é o exemplo de outras organizações. "O Greenpeace já tem
arrecadação muito grande no Brasil. E a Anistia Internacional reabriu no
Rio depois de anos, apostando que dá para fazer fund-raising'
[levantamento de fundos]." Até a última quarta, segundo Viana, a Agência
Pública havia levantado R$ 16 mil via Catarse --o valor salta para R$
32 mil, com a decisão da fundação americana Omidyar (entidade
filantrópica criada por Pierre Omidyar, fundador do site de leilões
eBay, e sua mulher) de doar R$ 1 para cada R$ 1 real arrecadado. O
objetivo é chegar a R$ 47,5 mil até o dia 20, quando acaba a campanha.
GIGANTES
Além de fundações e indivíduos, outros personagens têm surgido na
subvenção ao jornalismo alternativo: os gigantes da tecnologia. Carlos
Castilho, do Observatório da Imprensa, confirma que o Google Brasil
"financiou a ida de pessoas" ao Texas para o encontro de jornalistas em
que foi anunciada a retirada de cena da Open Society.
Na conferência, que reuniu representantes de 12 sites jornalísticos
latino-americanos, do México à Argentina, as ferramentas de mídia do
Google, como o YouTube, foram apresentadas como alternativa de
monetização. "O Google está começando a apresentar alguma coisa", diz
Castilho. "Mas está fazendo coisas pontuais. Não há um projeto de médio e
longo prazo. Pelo menos até agora."
A aproximação com o jornalismo começou no último ano, nos EUA, quando a
empresa passou a patrocinar a série de conferências TechRaking, do
Center for Investigative Reporting, organização americana voltada ao
jornalismo investigativo. E não é só o Google que tem "se achegado aos
jornalistas", segundo Nick Winfield, do "New York Times", que cita o
site de classificados Craigslist e outros.
Para Winfield, a movimentação talvez se deva ao sentido de
responsabilidade, até "culpa", pela disrupção do jornalismo nos meios
tradicionais. Na sua opinião, porém, "o dinheiro que as empresas de
tecnologia estão gastando para apoiar o jornalismo pode ser visto de
modo mais cínico: como investimento de relações públicas em uma
indústria que se debate, mas ainda pode causar problemas ou, pelo
contrário, favorecer seus interesses empresariais".
Quaisquer que sejam as intenções dos financiadores, da parte dos sites
sem fins lucrativos "o dilema é a sustentabilidade dos projetos", alerta
Castilho. "Não existe receita pronta para ser aplicada ou caso para ser
copiado. Está todo mundo tentando, na base de erro e acerto. E
provavelmente não haverá uma solução para todos."
Fonte: Folha de S. Paulo
VIA: http://www.umes.org.br/index.php/noticias/311-ong-de-fhc-recebe-dinheiro-da-ford-e-especuladores-de-wall-street-para-defender-legalizacao-das-drogas
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