Espelhos espaciais capazes de refletir radiação, mangueiras voadoras com jatos de aerossol de sulfato e árvores artificiais que absorvem CO2 são as apostas da ciência no controle do clima global
Por Ramon Voltolini
Por Ramon Voltolini
Conheça os tipos CDR e SRM de geoengenharia. (Fonte da imagem: Reprodução/Redicecreations)
Pode parecer papo de um apaixonado por livros ou filmes de ficção científica, mas o controle do clima por mãos humanas pode estar prestes a se tornar realidade. Enviar radiação solar de volta às estrelas, fertilizar plantas marinhas com ferro ou fazer com que tubos gigantes voem pelos céus despejando aerossol de sulfato por toda atmosfera são algumas das ousadas propostas da geoengenharia – ciência que consiste no estudo de técnicas que podem possibilitar o controle das condições climáticas da Terra pelo homem.
Fato é que o contundente fenômeno do aquecimento global tem feitos as mentes de cientistas mundo afora “transpirar”. E desta vez, ideias que vão para além da criação de chuvas ou nevascas artificiais fazem parte do “plano B”: como conter a absorção de radiação pela Terra? É possível absorver o gás carbônico presente na atmosfera? Espelhos espaciais gigantes, tubos voadores de 20 km e outros mirabolantes projetos protagonizam hoje pesquisas que ganham cada vez mais solidez.
Um aumento de 0,5 ºC na temperatura global foi registrado em 2012. (Fonte da imagem: Reprodução/Mises)
Este efeito, conhecido como “cloud-seeding”, é capaz de reduzir o estrago provocado por granizos, aumentar, naturalmente, a frequência de chuvas e dispersar também neblina por cidades. Atualmente, ao menos 20 países conduzem projetos relacionados ao cloud-seeding – somente nos EUA, 10 estados chefiam mais de 60 programas do tipo. Mas o quão eficaz a criação de chuvas artificias é?
Em 2003, uma pesquisa realizada pela Academia Nacional de Ciências dos EUA concluiu que não há provas concretas sobre a eficiência do cloud-seeding. De acordo com Michael Garstang, professor da universidade de Virginia, “tudo permanece como um leque de evidências definitivas”. Bruce Boe, especialista da Weather Modification Inc., empresa privada especializada em climatologia dos EUA, diz que “o processo não é capaz de aumentar a precipitação em cerca de 50% dos casos”.
Trocando em miúdos, significa dizer que os pesquisadores concordam em reconhecer a eficácia baixa do cloud-seeding no combate ao aquecimento global. Novas ferramentas e instrumentos têm sido usados pelos persistentes cientistas do clima, é verdade – na China, de 32 a 35 mil pessoas são empregadas pela indústria de controle climático. Ainda assim, o surgimento de técnicas mais ousadas mostrou-se necessário.
Controlar a emissão de gases estufa não é o suficiente. (Fonte da imagem: Reprodução/Bgjnejr)
O cenário mostra-se ainda mais quente a partir de outra constatação feita pela Royal Society: até 2050, a emissão de gases estufa deverá ser reduzida em 50%. Acontece, porém, que um aumento de 1,4% na liberação de CO2 foi notado em 2012. E mais: se todo o carbono emitido pelo homem fosse expurgado hoje mesmo, a temperatura de nosso planeta iria continuar a subir durante décadas. “Não sabemos a qual escala de 'invencibilidade' o clima pode chegar”, diz Hugh Hunt, engenheiro da universidade de Cambridge e especialista da SPICE (Injeção Estratosférica de Partículas para a Engenharia Climática - EUA).
Pois assim as evidências falam por si: combater somente a emissão de gases estufa não é o suficiente. Conheça, portanto, o que a geoengenharia tem a dizer sobre o gerenciamento do clima em escala global.
Trilhões de dólares e décadas seriam gastos na construção dos espelhos. (Fonte da imagem: Reprodução/Dailymail)
Formação de nuvens pode ser prejudicada pela reflexão. (Fonte da imagem: Reprodução/Amazonaws)
Certos tipos de gramas são efetivos na reflexão de radiação. (Fonte da imagem: Reprodução/Fanpop)
Imagem ilustrativa. (Fonte da imagem: Reprodução/TheGuardian)
Em detalhe, técnica de cloud-seeding. (Fonte da imagem: Reprodução/Kesq)
Fertilização oceânica é uma das técnicas já feitas. (Fonte da imagem: Reprodução/CBC)
A técnica biochar faz com que o CO2 do solo seja absorvido. (Fonte da imagem: Reprodução/Cerpch)
Milhões de máquinas deveriam ser construídas. (Fonte da imagem: Reprodução/Inhabitat)
Ao evitar a chegada de raios de sol à terra, toda a cinza gerada pelo fenômeno natural resfriou, em somente 2 anos, 0,5 ºC a temperatura de todo o planeta. “Se você começar a evitar a entrada de radiação, a temperatura vai cair rapidamente”, alerta ainda Parker.
Os efeitos colaterais de manipulações climáticas são desconhecidos. (Fonte da imagem: Reprodução/Samtaztic)
Grande parte das propostas de SRM e CDR para manipulação climática é ainda mera idealização – efetivamente, pouca coisa foi de fato feita ou sequer testada. As limitações técnicas que impedem o desenvolvimento de algumas propostas justificam, por exemplo, o não desenvolvimento de espelhos gigantes espaciais.
A fertilização com ferro de plantas marinhas tem sido feita por cientistas, deve-se dizer. Contudo, os resultados deste processo só poderão ser notados dentro de décadas. A manipulação climática poderá se tornar prática corriqueira ou tudo não passa de um bem fundamentado e fantástico "placebo científico"?
Pode parecer papo de um apaixonado por livros ou filmes de ficção científica, mas o controle do clima por mãos humanas pode estar prestes a se tornar realidade. Enviar radiação solar de volta às estrelas, fertilizar plantas marinhas com ferro ou fazer com que tubos gigantes voem pelos céus despejando aerossol de sulfato por toda atmosfera são algumas das ousadas propostas da geoengenharia – ciência que consiste no estudo de técnicas que podem possibilitar o controle das condições climáticas da Terra pelo homem.
Fato é que o contundente fenômeno do aquecimento global tem feitos as mentes de cientistas mundo afora “transpirar”. E desta vez, ideias que vão para além da criação de chuvas ou nevascas artificiais fazem parte do “plano B”: como conter a absorção de radiação pela Terra? É possível absorver o gás carbônico presente na atmosfera? Espelhos espaciais gigantes, tubos voadores de 20 km e outros mirabolantes projetos protagonizam hoje pesquisas que ganham cada vez mais solidez.
Uma ciência nascida às pressas
O mundo já está familiarizado com o efeito estufa – um dos principais “culpados” pelo aquecimento global. Mas quais tipos de medidas podem conter as altas de temperatura? Em 2009, cientistas chineses do Beijing Weather Modification Office fizeram com que 16 toneladas de neve caíssem a partir do lançamento de foguetes carregados com prata ionizada.Um aumento de 0,5 ºC na temperatura global foi registrado em 2012. (Fonte da imagem: Reprodução/Mises)
Este efeito, conhecido como “cloud-seeding”, é capaz de reduzir o estrago provocado por granizos, aumentar, naturalmente, a frequência de chuvas e dispersar também neblina por cidades. Atualmente, ao menos 20 países conduzem projetos relacionados ao cloud-seeding – somente nos EUA, 10 estados chefiam mais de 60 programas do tipo. Mas o quão eficaz a criação de chuvas artificias é?
Em 2003, uma pesquisa realizada pela Academia Nacional de Ciências dos EUA concluiu que não há provas concretas sobre a eficiência do cloud-seeding. De acordo com Michael Garstang, professor da universidade de Virginia, “tudo permanece como um leque de evidências definitivas”. Bruce Boe, especialista da Weather Modification Inc., empresa privada especializada em climatologia dos EUA, diz que “o processo não é capaz de aumentar a precipitação em cerca de 50% dos casos”.
Trocando em miúdos, significa dizer que os pesquisadores concordam em reconhecer a eficácia baixa do cloud-seeding no combate ao aquecimento global. Novas ferramentas e instrumentos têm sido usados pelos persistentes cientistas do clima, é verdade – na China, de 32 a 35 mil pessoas são empregadas pela indústria de controle climático. Ainda assim, o surgimento de técnicas mais ousadas mostrou-se necessário.
Motivação é o que não falta
Bill Gates tem se mostrado interessado em pesquisas sobre manipulação climática nos últimos anos (o figurão já doou US$ 4,5 milhões a instituições de pesquisas em geoengenharia). E a boa vontade do executivo parece ter sido inspirada por um relatório datado de 2009: de acordo com o centro de pesquisas inglês Royal Society, se o gelo da Groelândia derreter, o nível do mar poderá aumentar em pouco mais de 7 metros – cidades como Londres e Los Angeles ficariam completamente submersas.Controlar a emissão de gases estufa não é o suficiente. (Fonte da imagem: Reprodução/Bgjnejr)
O cenário mostra-se ainda mais quente a partir de outra constatação feita pela Royal Society: até 2050, a emissão de gases estufa deverá ser reduzida em 50%. Acontece, porém, que um aumento de 1,4% na liberação de CO2 foi notado em 2012. E mais: se todo o carbono emitido pelo homem fosse expurgado hoje mesmo, a temperatura de nosso planeta iria continuar a subir durante décadas. “Não sabemos a qual escala de 'invencibilidade' o clima pode chegar”, diz Hugh Hunt, engenheiro da universidade de Cambridge e especialista da SPICE (Injeção Estratosférica de Partículas para a Engenharia Climática - EUA).
Pois assim as evidências falam por si: combater somente a emissão de gases estufa não é o suficiente. Conheça, portanto, o que a geoengenharia tem a dizer sobre o gerenciamento do clima em escala global.
Tipos de geoengenharia
Existem dois conjuntos de técnicas capazes de proporcionar, em teoria, o controle do clima em escala global. A maioria dos projetos que compõe cada uma das metodologias é teórica. Conforme explica Andy Parker, renomado professor da universidade de Cambridge, os modelos idealizados são ainda incipientes. “Podemos fazer muito pouco agora, uma vez que a tecnologia [requerida pelos projetos] não foi desenvolvida para intervir em escala global”.SRM
O Solar Radiation Management (SRM) consiste na adoção de técnicas de reflexão de parte da radiação solar. Grosso modo, a Terra poderia ser resfriada por meio do controle da incidência dos raios solares sobre sua superfície. Mas como fazer isso? Espelhos gigantes em plena órbita, telhados de edificações urbanos com superfície branca, distribuição de aerossol de sulfato pela atmosfera e a adaptação do cloud-seeding são algumas das propostas de SRM.-
Espelhos gigantes em pleno espaço
Trilhões de dólares e décadas seriam gastos na construção dos espelhos. (Fonte da imagem: Reprodução/Dailymail)
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Tetos todos brancos
Formação de nuvens pode ser prejudicada pela reflexão. (Fonte da imagem: Reprodução/Amazonaws)
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Plantas refletoras
Certos tipos de gramas são efetivos na reflexão de radiação. (Fonte da imagem: Reprodução/Fanpop)
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Mangueiras voadoras
Imagem ilustrativa. (Fonte da imagem: Reprodução/TheGuardian)
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Nuvens “espelhadas” e spray
Em detalhe, técnica de cloud-seeding. (Fonte da imagem: Reprodução/Kesq)
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Frotas marinhas criadoras de nuvens
CDR
O segundo tipo de geoengenharia é conhecido como Carbon Dioxide Removal (CDR). Este conjunto de técnicas tem como prioridade remover o CO2 da atmosfera através da absorção. Reflorestamento, fertilização de plantas marinhas com ferro e a construção de árvores artificiais são algumas das principais propostas do CDR.-
Fertilização à base de ferro
Fertilização oceânica é uma das técnicas já feitas. (Fonte da imagem: Reprodução/CBC)
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"Cozinhar carvão"
A técnica biochar faz com que o CO2 do solo seja absorvido. (Fonte da imagem: Reprodução/Cerpch)
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Árvores artificiais e reflorestamento
Milhões de máquinas deveriam ser construídas. (Fonte da imagem: Reprodução/Inhabitat)
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Adição de alcalino aos oceanos
Controle de técnicas e efeitos incertos
Pesquisas sobre geoengenharia ainda caminham a passos curtos. Mas os especialistas reconhecem: o efeito provocado pela adoção de procedimentos de resfriamento global é ainda desconhecido. Bloquear a entrada de raios solares é uma saída arriscada, diga-se de passagem. Prova disso foi a erupção do vulcão de Mount Pinatubo, nas Filipinas, em 1991.Ao evitar a chegada de raios de sol à terra, toda a cinza gerada pelo fenômeno natural resfriou, em somente 2 anos, 0,5 ºC a temperatura de todo o planeta. “Se você começar a evitar a entrada de radiação, a temperatura vai cair rapidamente”, alerta ainda Parker.
Os efeitos colaterais de manipulações climáticas são desconhecidos. (Fonte da imagem: Reprodução/Samtaztic)
Grande parte das propostas de SRM e CDR para manipulação climática é ainda mera idealização – efetivamente, pouca coisa foi de fato feita ou sequer testada. As limitações técnicas que impedem o desenvolvimento de algumas propostas justificam, por exemplo, o não desenvolvimento de espelhos gigantes espaciais.
A fertilização com ferro de plantas marinhas tem sido feita por cientistas, deve-se dizer. Contudo, os resultados deste processo só poderão ser notados dentro de décadas. A manipulação climática poderá se tornar prática corriqueira ou tudo não passa de um bem fundamentado e fantástico "placebo científico"?
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