segunda-feira, 10 de junho de 2013

EUA: responsável por revelar vigilância pode ser capturado em Hong Kong

Edward Snowden se apresentou como a fonte das informações que geraram levaram às denúncias dos jornais The Guardian e The Washington Post


Edward Snowden se refugiou em Hong Kong para tentar evitar ser processados nos EUA Foto: Reuters
Edward Snowden se refugiou em Hong Kong para tentar evitar ser processados nos EUA
Foto: Reuters
A decisão tomada por Edward Snowden de fugir para Hong Kong antes de revelar os programas de vigilância secreta do governo americano podem não poupá-lo de um processo judicial, devido a um tratado de extradição em vigor desde 1998.

Snowden, 29 anos, ex-agente da CIA, se identificou como sendo a pessoa que entregou aos jornais The Guardian e The Washington Post documentos sigilosos mostrando como a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA obtinha dados sobre clientes de empresas norte-americanas de telefonia e Internet.

Ele contou ao Guardian que, enquanto preparava as revelações, viajou do Havaí para Hong Kong, em 20 de maio, para poder estar em um lugar onde conseguisse resistir a tentativas dos EUA de puni-lo judicialmente.

"A China continental tem de fato restrições significativas à liberdade de expressão, mas as pessoas em Hong Kong tem um longo histórico de protestar nas ruas, tornando suas opiniões conhecidas", disse Snowden em vídeo divulgado no site do Guardian.

A NSA solicitou um inquérito criminal sobre os vazamentos, e no domingo o Departamento de Justiça afirmou estar na etapa inicial da investigação.

Nesta segunda-feira, o republicano Peter King, membro do Comitê de Segurança Interna da Câmara de Deputados americana, afirmou que Snowden é um "desertor" que pode representar um risco à segurança dos Estados Unidos. King também negou a alegação de Snowden de que a correspondência pessoal do presidente Barack Obama também seria um potencial alvo de vigilância. "Muito do que se diz é mentira. Esse cara é perigoso para o país", disse o deputado. 

EUA e Hong Kong assinaram um tratado de extradição em 1996, um ano antes de a então colônia britânica ser devolvida à China. Esse tratado permite a troca de suspeitos de cometerem crimes, em um processo formal que pode envolver também o governo chinês.

De acordo com o tratado, as autoridades locais podem manter Snowden detido durante até 60 dias depois que os EUA apresentarem uma solicitação, citando o possível crime cometido, enquanto Washington prepara um pedido formal de extradição.

Especialistas dizem que Snowden terá dificuldades para driblar o tratado caso o governo dos EUA decida processá-lo. "Eles (Hong Kong) não vão colocar em risco sua relação com os EUA por causar do senhor Snowden, e pouquíssima gente já descobriu ter influência para persuadir outro país a mudar de rumo por sua causa", disse Robert Anello, advogado de Nova York que já lidou com vários processos de extradição.

Mas uma lei de Hong Kong prevê que Pequim pode emitir uma "instrução" ao governo do território determinando que ele acate ou não um pedido de extradição, caso os interesses chineses "em questões de defesa ou assuntos internacionais estejam significativamente afetados".

Hong Kong goza de significativa autonomia em relação ao resto da China, mas Pequim tem a responsabilidade sobre questões de defesa e política externa do território, além de exercer nos bastidores considerável influência política, financeira, judicial e acadêmica.

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Conheça Edward Snowden e os motivos que o levaram a vazar programa da CIA

 
Um ex-funcionário da CIA (a Agência de Inteligência americana) que admitiu ter revelado detalhes secretos de um sistema de monitoramento de informações pessoais adotado pelo governo americano diz que agiu para defender a "liberdade das pessoas em todo o mundo" e para "ajudar a defender as pessoas da opressão".
Edward Snowden, em foto divulgada pelo jornal britânico The Guardian Foto: The Guardian / AP
Edward Snowden, em foto divulgada pelo jornal britânico The Guardian
Foto: The Guardian / AP

Edward Snowden, 29 anos, revelou voluntariamente sua identidade ao jornal britânico The Guardian e é agora alvo de uma investigação criminal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Na semana passada, ele revelou que agências de inteligência americanas estavam monitorando secretamente milhões de telefonemas, e-mails e outras mensagens - algo que as autoridades americanas dizem ser legítimo.

"Eu não quero viver em uma sociedade que faz esse tipo de coisas... eu não quero viver em um mundo em que tudo que eu faço e digo é gravado. Isso é algo que eu não tenho vontade de apoiar ou a que tenho vontade de me sujeitar", disse ele ao The Guardian.

Rede 'aterradora'
Snowden, que teria sido entrevistado em Hong Kong, trabalha na empresa Booz Allen Hamilton, que atua na área de administração de sistemas de informática e presta serviços para a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês).

Na companhia, até agora o americano trabalhava como administrador de sistemas, lidando diretamente com a conta da NSA.

De acordo com ele, agentes da NSA teriam acesso direto aos servidores de nove grandes empresas que atuam na internet, incluindo Google, Microsoft, Facebook, Yahoo, Skype e Apple.

O acesso seria parte de um programa de espionagem chamado Prism (Métodos Sustentáveis de Integração de Projetos, na sigla em inglês).

Ele disse que a extensão do monitoramento feito pelos agentes americanos é "aterradora". "O NSA construiu uma infraestrutura que lhe permite interceptar quase qualquer coisa", explicou.

"Nós podemos colocar grampos em máquinas (computadores). Uma vez que você esteja na rede, nós podemos identificar sua máquina. Você nunca estará seguro, não importa que medidas de proteção você adote."

Snowden disse que não acredita que cometeu um crime. "Nós já vimos suficiente criminalidade por parte do governo. É hipocrisia fazer essa acusação contra mim."

O americano vivia com sua namorada no Estado americano do Havaí antes de decidir ir para Hong Kong "por causa da longa tradição de liberdade de expressão" no território chinês. Ele estaria hospedado em um hotel.

Os jornalistas que o entrevistaram no local secreto o descreveram como "quieto, inteligente, descontraído e humilde. Um mestre em computadores".

'Desiludido'
Snowden teria crescido em Elizabeth City, no Estado da Carolina do Norte, e depois ter se mudado para o Estado de Maryland, perto do quartel-general da NSA, no complexo militar de Fort Meade.

Ele se descreve como um estudante "menos do que brilhante" e afirma ter estudado computação em uma faculdade comunitária em Maryland para conseguir os créditos necessários para obter o diploma do segundo grau. No entanto, ele nunca concluiu o curso.

Em 2003, Snowden foi para o Exército e treinou com as Forças Especiais, mas foi dispensado após quebrar ambas as pernas acidentalmente durante um treinamento.

Seu primeiro trabalho com a NSA foi como segurança em uma das instalações secretas da agência na Universidade de Maryland. Em seguida, ele trabalhou em segurança de tecnologia da informação na CIA.

Apesar da falta de qualificação formal, seu conhecimento de computação o ajudou a subir rapidamente na agência. Em 2007, Snowden passou a ocupar um posto da CIA em Genebra, na Suíça.

"Muito do que eu vi em Genebra me desiludiu a respeito de como o governo funciona e qual é seu impacto no mundo. Eu percebi que era parte de algo que estava fazendo mais mal do que bem", afirmou ao The Guardian.

O ex-técnico disse ainda que considerou ir a público antes, mas esperou para ver se a eleição do presidente Barack Obama em 2008 mudaria a abordagem americana. No entanto, ele afirma que Obama "continuou com a política de seu predecessor".

Futuro incerto
Em 2009, Snowden deixou a CIA e começou a trabalhar na NSA como empregado de vários prestadores de serviços, incluindo a Booz Allen. Em um comunicado, a empresa confirmou que ele estava empregado há menos de três meses na equipe do Havaí.

"A notícia de que este indivíduo teria divulgado informações secretas é chocante e, se verdadeira, representa uma grave violação do código de conduta e dos valores da nossa empresa", diz a nota.

O salário de Snowden seria de US$ 200 mil (cerca de R$ 427 mil). Ele e sua namorada deixaram sua casa em Waipahu, na ilha de Oahu, no Havaí, no dia 1º de maio sem deixar nada para trás, segundo agentes imobiliários.

Um vizinho do casal disse à rede de TV americana ABC que os dois geralmente mantinham as portas e janelas fechadas e "não falavam muito com ninguém por aqui". Falando ao The Guardian em Hong Kong, Snowden disse ter receio que pessoas que o conhecem sejam monitoradas.

"Minha família não sabe o que está acontecendo. Meu principal medo é que eles vão atrás da minha família, meus amigos, minha namorada. Qualquer pessoa com quem eu tenha um relacionamento", disse.

"Eu terei que viver com isso o resto da minha vida. Não poderei me comunicar com eles . (As autoridades) vão agir agressivamente contra qualquer um que tenha me conhecido. Isso me impede de dormir."

Snowden também admitiu que pode acabar sendo preso, dizendo que "se eles (os agentes do governo) quiserem pegar você, eles acabam conseguindo". "Eu não sei o que será do meu futuro... Eu não espero ver minha casa de novo, apesar de ser isso o que eu quero", afirmou o técnico.



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