1/33Fidel Castro discursa durante cerimônia em homenagem a Hugo Chávez em Havana, em fevereiro de 2006 (Sven Creutzmann/Mambo Photography/Getty Images)
2/33Papa Francisco e o líder cubano Fidel Castro se encontram em Havana (Alex Castro/AP)
3/33Dilma Rousseff visita ditador Fidel Castro em Havana (Alex Castro / Cubadebate.cu/VEJA)
4/33O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou o ditador cubano Fidel Castro na quarta-feira, em Havana. (veja.com/AFP)
5/33Presidente Lula conversa com Fidel Castro durante visita a Havana, Cuba, em 24/02/2010 Ricardo Stuckert/PR (Ricardo Stuckert/PR/VEJA)
6/33Foto de arquivo divulgada pelo jornal cubano Granmataken mostra o ex-ditador Fidel Castro durante uma reunião com o primeiro ministro japonês Shinzo Abe em Havana, em setembro de 2016 (Alex Castro/Granma/AFP)
7/33Em Portugal, José Saramago com Fidel Castro, 1998. (veja.com/AFP)
8/33O ex-ditador cubano Fidel Castro, durante cerimônia de encerramento do congresso do Partido Comunista Cubano em Havana no ano de 2011 (Desmond Boylan/Reuters)
9/33Fidel Castro fotografado durante missão diplomática dos Estados Unidos em Havana em janeiro de 2006 (Claudia Daut/Reuters)
10/33O ex-ditador cubano Fidel Castro fala durante as celebrações do 50º aniversário da criação dos Comitês para a Defesa da Revolução (CDR) em Havana em setembro de 2010 (Desmond Boylan/Reuters)
11/33Fidel Castro e Hugo Chávez brincam durante uma sessão de rebatidas, durante amistoso de beisebol entre Cuba e Venezuela em outubro do ano 2000 (Andrew Winning/Reuters)
12/33O ex-ditador cubano Fidel Castro gesticula durante uma viagem a Paris março de 1995 (Charles Platiau/Reuters)
13/33O papa emérito Bento XVI durante encontro com o ex-ditador cubano Fidel Castro em Havana em março de 2012 (Alex Castro/Cubadebate/Reuters)
14/33O ex-ditador cubano Fidel Castro e a lenda do futebol argentino Diego Maradona jogam bola durante uma entrevista em Havana, em outubro de 2005 (Canal 13/Reuters)
15/33O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela abraça o ex-ditador cubano Fidel Castro durante uma visita à casa de Mandela em Houghton, Joanesburgo, em setembro de 2001 (Chris Kotze/Reuters)
16/33Fidel Castro durante a ECO-92 no Rio de Janeiro em 1992 (UN Photo/VEJA)
17/33Fidel Castro conversa com o Papa João Paulo II durante a apresentação de suas delegações no Palácio da Revolução, em Havana, em janeiro 1998 (Paul Hanna/Reuters)
18/33O ex-ditador cubano Fidel Castro, olha para a multidão durante manifestação em Córdoba, na Argentina, em julho de 2006 (Andres Stapff/Reuters)
19/33O então primeiro-ministro cubano Fidel Castro durante o 19º aniversário de sua chegada aos seus companheiros revolucionários no iate Granma, em Havana, em novembro de 1976 (Prensa Latina/Reuters)
20/33Fidel Castro relaxa em uma piscina durante uma visita à Romênia em maio de 1972 (Prensa Latina/Reuters)
21/33O então o primeiro-ministro cubano Fidel Castro joga beisebol em Havana em agosto de 1964 (Prensa Latina/Reuters)
22/33O então ditador cubano Fidel Castro e o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev trocam documentos durante a cerimônia de assinatura do tratado em Havana em abril de 1989 (Gary Hershorn/Reuters)
23/33Fidel Castro fuma um charuto durante entrevista em ocasião da visita do senador dos Estados Unidos, Charles McGovern, em Havana em maio de 1975 (Prensa Latina/Reuters)
24/33O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez durante visita ao ditador cubano Fidel Castro em Havana em agosto de 2006 (Estudios Revolucion-Granma/Reuters)
25/33O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter e o então ditador cubano Fidel Castro ouvem o hino nacional cubano no estádio de beisebol "Latinoamericano" em Havana em maio de 2002 (Rafael Perez/Reuters)
26/33Fidel Castro durante audiência como presidente do Movimento dos Não-Alinhados nas Nações Unidas em Nova York em outubro de 1979 (Prensa Latina/Reuters)
27/33O guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara joga golfe com Fidel Castro em Colina Villareal, Havana (Prensa Latina/Reuters)
28/33O ex-ditador cubano Fidel Castro dá uma piscada a uma mulher durante cerimônia de graduação de centenas de estudantes de arte cubanos na Cidade Esportiva de Havana em outubro de 2005 (Claudia Daut/Reuters)
29/33O então ditador cubano, Fidel Castro fuma um charuto durante uma reunião da Assembleia Nacional em Havana, em dezembro de 1976 (Prensa Latina/Reuters)
30/33Foto tirada nos anos 60 do então primeiro-ministro cubano Fidel Castro, ao lado do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara (Roberto Salas/Cubadebate/AFP)
31/33O então ditador cubano Fidel Castro durante a comemoração do Dia de Maio na Praça da Revolução em Havana em 2004 (Rafael Perez/Reuters)
32/33Fidel Castro em retrato feito logo após a derrubada do governo liderado pelo presidente Fulgencio Batista em 1959 (Lester Cole/Corbis/Getty Images)
33/33Fidel Castro acende seu charuto ao lado do argentino Che Guevara (1928-1967) durante os primeiros dias de sua campanha de guerrilha nas montanhas Sierra Maestra em Cuba, por volta de 1956 (Hulton Archive/Getty Images)
1/33Fidel Castro discursa durante cerimônia em homenagem a Hugo Chávez em Havana, em fevereiro de 2006 (Sven Creutzmann/Mambo Photography/Getty Images)
O homem que um dia disse que seria “absolvido” pela história morreu 22h29 de sexta-feira (horário de Havana, 1h29 de sábado em Brasília), em Havana, como uma das figuras mais emblemáticas do último século. Responsável pela morte de milhares de pessoas em julgamentos sumários, pela fuga de milhões para o exterior e pela penúria dos que permaneceram no país, Fidel Castro saiu da linha de frente da política cubana ao transferir a presidência para o irmão, Raúl, em 2006. Mas permaneceu assombrando o povo e preservando sua tenebrosa herança.
A saída de Fidel não significou uma abertura do país para a economia de mercado. Pelo contrário, a ilha seguiu emperrada, e melhorar de vida continuou a ser um ato tão subversivo quanto dar uma opinião sobre a política nacional. Se internamente as dificuldades não dão trégua, um sopro de esperança veio do inimigo externo, os Estados Unidos, que decidiu reatar relações diplomáticas com a ilha no apagar das luzes de 2014. Raúl, no entanto, fez questão de dizer que a aproximação não significará ‘tirar Cuba do rumo’, provando que Obama pode tentar a sua parte, mas alterações significativas dependem da saída de cena dos ditadores.
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Cultuado por partidos de esquerda latino-americanos, Fidel passava a maior parte de seu tempo livre em uma ilha paradisíaca ao sul de Cuba, onde levava um estilo de vida nababesco, em contraste com a miséria da população. Morreu em Havana, aos 90 anos. Como ocorre em todos os regimes ditatoriais, detalhes sobre a vida pessoal e principalmente a saúde do chefe de Estado sempre foram mantidos em sigilo. Fotos esporádicas invariavelmente o mostravam decrépito, vestindo um agasalho Adidas. Em fevereiro de 2014, a agência de notícias Associated Press eliminou de seus arquivos imagens alteradas digitalmente para esconder um aparelho auditivo. No mês anterior, o ditador havia comparecido à inauguração de um centro cultural em Havana. O registro de sua passagem pelo local mostraram o gerontocrata caminhando com ajuda, curvado e com uma aparência fragilizada.
Em 2006, quando complicações de uma hemorragia intestinal o obrigaram a entregar o poder – primeiro provisoriamente, e dois anos depois, de forma definitiva –, muito pouco foi divulgado sobre a doença que o acometeu. Boatos apontaram para diverticulite (inflamação no intestino grosso) e até câncer, mas nada foi confirmado oficialmente. Os rumores sobre sua morte só aumentaram desde sua renúncia. “Já me mataram não sei quantas vezes”, disse, em uma de suas entrevistas para desmentir notícias sobre sua morte. Fato é que sua onipresença em público deu lugar a aparições cada vez mais raras.
Trajetória
Fidel Castro Ruz nasceu no dia 13 de agosto de 1926, na província cubana de Oriente, filho do fazendeiro Angel Castro e da camponesa Lina Ruz. Aos 17 anos, mudou-se para a capital para estudar. Formou-se em direito na Universidade de Havana, em 1949, e começou a defender gratuitamente camponeses, operários e prisioneiros políticos – em troca, chamava todos a fazer parte da revolta que articulava contra o governo. O Partido Ortodoxo o escolheu para ser candidato à Câmara dos Deputados nas eleições de 1952, quando também seria escolhido o novo presidente do país. Mas o pleito não chegou a ser realizado. Em 10 de março de 1952, o sargento Fulgêncio Batista tomou o poder, com o reconhecimento do governo americano, e no dia seguinte fechou o Parlamento e suspendeu as eleições.
Era o começo da farsesca carreira política de Fidel. Em 1953, ele liderou um grupo de rebeldes em um ataque suicida ao quartel de La Moncada. Foi preso e levado a julgamento no mesmo ano, quando assumiu a própria defesa, exercitando a retórica inflamada e arrogante que o caracterizaria por toda a vida pública. Dois anos depois, foi solto e exilou-se no México, onde começou a organizar seu retorno a Cuba.
No dia 30 de dezembro de 1958, seu escudeiro, o argentino Ernesto ‘Che’ Guevara, e mais quatrocentos guerrilheiros sob seu comando conseguiram conquistar Santa Clara, que era defendida por 3.500 soldados do governo. Essa vitória foi fatal para Fulgêncio, que abandonou o país na madrugada de 31 de dezembro. Em janeiro, Fidel já estava no poder.
Um dos primeiros atos do principiante ditador foi mandar fuzilar colaboradores do ex-sargento. Começou promovendo a reforma agrária e nacionalizando empresas, transformando em unidades de produção cerca de 70% da superfície cultivável do país, pertencente a companhias estrangeiras e latifundiários locais. Milhares de cubanos deixaram o país e se estabeleceram na Flórida (EUA), onde passaram a representar uma força política contrária ao regime castrista.
Enquanto isso, Cuba ia se afastando dos americanos, que decretaram bloqueio comercial ao país em 1960 e romperam relações diplomáticas em 1961 – ano em que o comunismo foi formalmente estabelecido. No ano seguinte, foi implementado o racionamento de alimentos – que prossegue até hoje e segundo o qual cada família cubana tem um limite mensal de produtos registrado em uma “libreta” de controle.
Economia
O país, então, começou a depender da União Soviética. Mas a ajuda durou apenas até o início dos anos 90. Depois disso, o colapso do regime soviético suspendeu o repasse financeiro e afundou Cuba em uma grave crise econômica, que obrigou Fidel a ensaiar tímidas reformas. A abertura de restaurantes familiares passou a ser permitida, assim como feiras livres para complementar a escassa ração oficial. Houve também incentivo ao turismo e investimentos estrangeiros. Fatalmente, algumas pessoas começaram a sentir uma leve melhora na qualidade de vida. Bastou para que, em 1996, o comandante-em-chefe engatasse a marcha a ré nas mudanças, que na visão dele teriam passado a afrontar o princípio revolucionário da igualdade. A repressão política ficou mais dura e dissidentes foram condenados a longas penas de prisão.
A Venezuela do caudilho Hugo Chávez (1954 – 2013) passou a pagar a “mesada” que antes cabia à União Soviética, o que possibilitou, por exemplo, reduzir os cortes de energia elétrica na ilha. Mas os recursos concedidos ao regime, que vieram também dos cofres da China, do Canadá e do Brasil, nunca tiveram como reflexo o bem-estar da população. Dois terços dos 11 milhões de cubanos que nasceram depois de 1959 não conheceram outro regime que o de miséria imposto pelos irmãos Castro – nenhum outro ditador de sua época permaneceu tanto tempo no poder. Há ainda 2 milhões de cubanos exilados.
Mesmo oficialmente aposentado, Fidel continuou mandando e desmandando no governo. Raúl e todos os demais dirigentes ainda eram obrigados a consultá-lo a respeito de qualquer assunto importante. Governavam, portanto, de mãos atadas. E quando perdeu as forças também para manter o padrão de seus célebres e longos discursos – no auge, chegou a falar por 8 horas ininterruptas – Fidel trocou o palanque da oralidade pelo texto escrito, mas igualmente nada sucinto: seu proselitismo foi reunido em um livro com nada menos que 896 páginas.
Os cubanos que viram nas promessas de reforma de Raúl a possibilidade de recuperar os anos perdidos decepcionaram-se ao perceber que nenhuma mudança foi para melhor. A vida ficou mais difícil. O Estado, dominado pelos militares, mantém o controle de todas as atividades relevantes. A perseguição política não foi aliviada. Apenas mudou sua natureza. Se antes era realizada buscando algum suporte na lei, agora se dá de forma clandestina, com milícias governistas reprimindo os opositores. E a população continua impedida de avançar pois, aos olhos do regime castrista, a concentração da propriedade contradiz a essência do socialismo e jamais será permitida.
Com a morte do ditador, Cuba tem o desafio de (finalmente) começar a caminhar com as próprias pernas e oferecer uma vida melhor (e livre) à população.
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