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Veja-se um recente escândalo ocorrido na
Grã-Bretanha, causado pela decisão da rede comercial Marks and Spencer
(M&S) no sentido de permitir aos funcionários muçulmanos não
venderem carne de porco e álcool. Segundo um representante oficial da
empresa, a M&S procura criar um “ambiente livre de discriminação” e
vai ao encontro com os desejos de seus funcionários. De notar ainda que a
rede mencionada se esforça por expandir tal política a representantes
de outras religiões, inclusive aos cristãos, que não querem trabalhar
aos domingos e aos judeus que respeitam o dia de sábado. Perante
múltiplos protestos veementes, a decisão foi cancelada, o que, contudo,
não fez diminuir o número dos descontentes que desejam boicotar a
atividade da empresa “moralizante”.
Convém referir que
na vida social da Europa vão ocorrendo dois processos simultâneos com
vetores diferentes e contrários: os muçulmanos residentes na Europa
gozam do direito exclusivo ao modo de vida tradicional, assente na
respectiva religião. Mas os cristãos europeus ou os habitantes da
Europa, cujo modelo de comportamento, se assente no paradigma cristã,
são privados de tal privilégio. E isto, sem dúvida, se enquadra bem no
processo de secularização. Assim, estamos diante da prática de duplos
padrões, considera o perito Konstantin Voronov:
“O
fenômeno está ligado aos processos de erosão na esfera
histórico-cultural perante a globalização crescente e os processos
internos que decorrem no Ocidente, o que levou a mudanças na área
religiosa e moral. A meu ver, são processos objetivos. Antigamente, a
humanidade vivia em recintos civilizacionais fechados, mas hoje, devido
aos processos migratórios, a conflitualidade tem vindo a aumentar.”
Segundo
os defensores da política imigratória ativa, os imigrantes têm
contribuído para a receita fiscal, ajudando a compensar as despesas
sociais com os aposentados. No seu entender, os imigrantes vão
acumulando funções de empregados e consumidores, aumentando assim a
procura no mercado de consumo. Isto leva ao aumento do emprego, já que
os imigrantes podem abrir novas empresas, participando na criação de
novos postos de trabalho. Resumindo, contribuem, em certa medida, para o
desempenho da economia europeia.
Mas a economia
constitui apenas uma parte da vida cotidiana dos europeus. Do ponto de
vista da preservação da civilização europeia, tais processos não podem
ser encarados como positivos por estarem abalando os alicerces
civilizacionais da Europa. Falando de forma mais simples, os imigrantes
se tornam portadores de outros valores culturais e religiosos, criando
cópias das suas práticas originárias em pleno centro do Velho Mundo. Mas
acontece que as autoridades europeias, favoráveis a tais fenômenos,
fazem tudo para que os habitantes da Europa não se sintam à vontade na
sua terra natal. Daí resultam vários excessos semelhantes ao caso da
M&S, ressalta o professor catedrático da Escola Superior de
Economia, Oleg Matveichev:
“A globalização torna atual a
antiga ideia de dividir para reinar”. Daí surge um “culto da
diferença”, resultante da filosofia do pós-modernismo. Mas esta
filosofia nada tem a ver com os valores cristãos, sendo, ainda por cima,
incompatível com qualquer identidade coletiva. O primeiro alvo desta
tendência foi e continua sendo o Cristianismo. Hoje em dia, é muito
difícil encontrar um cristão europeu praticante. Se não existissem a
Espanha e a Polônia – países católicos tradicionais ativos – o número de
muçulmanos teria ultrapassado o dos cristãos”. Em vez da tradição
cristã, Bruxelas engendrou uma nova crença no globalismo, igualitarismo,
abertura de fronteiras e governo mundial. Na opinião do establishmenteuropeu,
as pessoas em todo o mundo se sentem favoráveis a aceitar os valores
ocidentais, as suas instituições e a cultura por estes traduzirem “uma
mentalidade universal, mais liberal, mais racional e mais moderna”. Tal
crença virou, contudo, um erro crasso para os arquitetos da nova Europa.
Como
se verificou, a ética tem limites geográficos. Aqueles que foram
chamados a apoiar a economia europeia não desejam compartilhar os
valores éticos europeus. Os imigrantes têm a sua própria opinião sobre o
bem o mal. Isto virou uma grande surpresa para a parte anfitriã, realça
Oleg Matveichev:
“Quanto mais imponente for a cortesia
política, tanto mais conflituosa será a sociedade. Mas isto requer uma
direção globalista, um rigoroso controle sobre os processos caóticos:
quanto maior for o número de conflitos, tanto mais forte tem o poder que
ser.”
Os políticos europeus estão envidando esforços
enérgicos para criar um mundo multicivilizacional, ou seja, um mundo que
não pertença a nenhuma civilização, privado de um núcleo cultural. Mas
eles estão enganados, tal mundo não poderá existir.
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