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Ao
olharmos para os bons velhos tempos a partir dos dias de hoje ficamos
admirados com a sua previsibilidade. Quase todos os medos estavam
associados ao confronto global entre a URSS e os EUA, mas no fundo todos
entendiam que, por mais inflamado que fosse o confronto ideológico, o
mundo seria capaz de parar a um passo do limite.
Hoje
é diferente. Se antes as armas nucleares eram consideradas as armas dos
fortes, agora essas são as armas dos fracos, a sua última defesa e a
mais eficaz contra uma agressão externa. A ordem de lançamento de
mísseis nucleares poderá ser ouvida quase em qualquer região do mundo,
considera o analista Piotr Topychkanov:
“A
existência de armas nucleares nos arsenais dos países significa que
esses países têm um planejamento militar para a utilização dessas armas.
Em casos de crises ou conflitos elas poderão ser usadas por esses
países. Tomemos como exemplo a Índia e o Paquistão. Podemos imaginar que
durante um conflito convencional na disputada província de Caxemira os
governos de ambos os países resolvam colocar em estado de prevenção as
suas armas nucleares e que uma das partes por qualquer falha, por
casualidade (ou supondo erradamente que o inimigo já está lançando um
ataque) pode se decidir um ataque nuclear. Esse é um cenário bastante
provável de como podem ser hoje usadas as armas nucleares.”
Se
o cenário mais trágico se tornar realidade, o ataque irá atingir uma
das regiões mais densamente povoadas e pobres do planeta. Nos primeiros
segundos podem morrer, devido à radiação direta e à onda de choque,
cerca de 12 milhões de pessoas e cerca de 100 milhões de outras nos
primeiros um ou dois dias. A contaminação radioativa do local, a fome e
outros fatores da catástrofe ambiental e humanitária global irá provocar
mensalmente 10 a 20 milhões de mortos. Dessa forma, durante o primeiro
ano posterior ao “dia do Juízo Final” indo-paquistanês cerca de 300
milhões de pessoas irão perder suas vidas.
Em
condições de caos descontrolado, elas não terão quem as enterre. Os
sobreviventes irão tentar abandonar os locais de perigo. Como
consequência a região será atingida por uma catástrofe humanitária de
proporções nunca vistas. Durante o período seguinte as baixas irão se
multiplicar devido ao alastramento da radiação aos países vizinhos –
sobretudo a uma China sobrepovoada, aos países do Sudeste Asiático e do
Oriente Médio. Na opinião de Piotr Topychkanov as consequência do uso de
armas nucleares serão dramáticas por toda a parte:
“Se
falarmos de uma só explosão nuclear, as consequências serão
provavelmente de caráter regional. Apesar de todo o mundo vir a sentir
as suas consequências, tal como ele sentiu as consequências da
catástrofe na usina nuclear de Chernobyl. Também podemos falar de uma
situação de uma troca de ataques nucleares (entre a Índia e Paquistão,
por exemplo). Segundo alguns cálculos, se a Índia e o Paquistão se
atacarem mutuamente com armas nucleares, isso irá provocar uma
catástrofe em escala global. Já não será localizada. As suas
consequências serão sentidas por todas as pessoas no planeta.”
Esse
cenário trágico demonstra todo o perigo de subestimar os fenômenos das
crises regionais potencialmente capazes de abrir uma “caixa de Pandora”
nuclear. Isso não abrange apenas a Índia e o Paquistão, mas todos os
países que pretendem desempenhar um papel especial na geopolítica e que
têm acesso a tecnologias nucleares. Por trás deles estão praticamente
sempre as potências líderes, as quais, defendendo os seus próprios
interesses egoístas, no pior dos casos alimentam uma escalada e no
melhor – não deixam que a situação se resolva de uma forma positiva.
Essa
é a realidade objetiva que deve ser tida em consideração pelos que
continuam a pensar com categorias da época geopolítica anterior e que
utilizam a sua força para fazer ajoelhar os mais fracos. Esse tipo de
comportamento funcionava no século passado, neste ele é capaz de
libertar uma carga potencial com uma enorme força destrutiva.
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