A ofensa do jovem Al-Nimr?
O jovem saudita Ali al-Nimr, hoje com 20, foi condenado à morte por protestos contra o Governo.
O jovem saudita Ali al-Nimr, hoje com 20, foi condenado à morte por protestos contra o Governo.
Ele esgotou os recursos possíveis após a
sentença judicial para esta execução macabra, por isso os guardas podem
levar al-Nimr a uma praça pública e cortar sua cabeça com uma espada
enquanto os espectadores zombam dele. Então, seguindo o protocolo
saudita para a crucificação, eles penduram seu corpo na cruz como
advertência para os outros.
A ofensa de Al-Nimr? Ele foi preso aos
17 anos por participar de protestos contra o governo. O governo disse
que ele atacou policiais e se revoltou, mas a única evidência conhecida é
uma confissão aparentemente extorquida sob tortura que o deixou
sangrando desfigurado.
“Quando visitei meu filho pela primeira
vez, não o reconheci”, disse sua mãe, Nusra al-Ahmed, ao jornal “The
Guardian”. “Eu não sabia se aquele era realmente ou não meu filho Ali.”
Al-Nimr foi recentemente transferido
para o confinamento solitário como preparação para a execução. No Reino
Unido, onde a sentença chamou a atenção, o secretário de relações
exteriores diz que “não espera” que seja levada a cabo. Mas a família de
al-Nimr teme que a execução ocorra a qualquer dia.
O sistema de justiça criminal medieval da Arábia Saudita também executa “bruxas” e aprisiona e chicoteia homossexuais.
Já é hora de termos uma discussão
franca sobre a nossa aliada Arábia Saudita e o seu papel legitimando o
fundamentalismo e a intolerância no mundo islâmico. Os governos
ocidentais tendem a se conter nas críticas, porque eles veem a Arábia
Saudita como um pilar de estabilidade em uma região turbulenta -mas não
tenho certeza de que é bem assim.
A Arábia Saudita patrocinou madrassas
wahhabistas em países pobres da África e da Ásia, exportando o
extremismo e a intolerância.
A Arábia Saudita também exporta
instabilidade com a sua brutal guerra no Iêmen, destinada a conter algo
que considera como influência iraniana. Os ataques aéreos sauditas
mataram milhares de pessoas, e o bloqueio dos portos tem sido ainda mais
devastador. Há crianças iemenitas morrendo de fome, e 80% dos iemenitas
precisam de ajuda.
Há também hipocrisia no comportamento
saudita. Este é um país que condenou um britânico de 74 anos de idade a
350 chicotadas por posse de álcool (alguns relatórios britânicos dizem
que ele pode ser autorizado a deixar a Arábia Saudita, após a indignação
internacional), mas raramente vi tanta bebida destilada quanto nas
festas em Riad com membros do governo.
Um príncipe saudita, Majed Abdulaziz
al-Saud, acaba de ser detido em Los Angeles em uma mansão alugada de US$
37 milhões (em torno de R$ 110 milhões), depois de supostamente ter
bebido muito, contratado acompanhantes, usado cocaína, aterrorizado as
mulheres e ameaçado matar as pessoas.
“Eu sou um príncipe”, declarou ele, de acordo com uma reportagem no jornal “Los Angeles Times”. “Eu faço o que quero.”
A Arábia Saudita não é o inimigo, mas é
um problema. Poderia fazer tanta diferença positiva no mundo islâmico,
se usasse sua posição para acalmar as tensões sunitas e xiitas e para
incentivar a tolerância. Por um tempo, sob o rei Abdullah, parecia que o
país estava tentando fazer algumas reformas, mas agora, sob o rei
Salman, tudo parou.
Com efeito, a Arábia Saudita legitima o
fundamentalismo, a discriminação religiosa, a intolerância e a opressão
das mulheres. As mulheres sauditas não só não podem dirigir, mas também
recebem ordens de alguns clérigos para não usarem o cinto de segurança,
por medo que mostrem os contornos de seus corpos.
A Arábia Saudita inflama a divisão entre sunitas e xiitas e estabelece um exemplo pernicioso de intolerância, proibindo igrejas.
Até mesmo o Irã ultimamente tem
ridicularizado a Arábia Saudita por maltratar as mulheres –e quando os
radicais misóginos iranianos podem reivindicar uma posição superior
quanto aos direitos das mulheres, algo está errado.
Eu defendi o islã de críticos como Bill
Maher que, a meu ver, demonizam a fé de 1,6 bilhão de muçulmanos porque
uma pequena percentagem é de extremistas violentos. Mas cabe a nós que
nos opomos a essa demonização falar contra o extremismo genuíno.
Infelizmente, a Arábia Saudita é um presente para os islamofóbicos; faz
muito mais danos para a reputação do islã do que qualquer cartunista
blasfemador.
É verdade que muitos sauditas estão pressionando por reforma. Um jovem escritor brilhante, Raif Badawi,
31, clamou de forma eloquente pelos direitos das mulheres, por uma
reforma na educação e pela liberdade de pensamento. A Arábia Saudita
sentenciou-o a 10 anos de prisão, uma multa de US$ 267 mil e 1.000
chibatadas (50 de cada vez; até agora, uma sessão foi administrada).
Sua mulher, Ensaf Haidar, diz-me que a
sua flagelação deve ser retomada logo após esta longa suspensão e ela
teme que ele não vá sobreviver ao processo.
O governo dos EUA, em geral, faz vista
grossa para tudo isso, pelo menos em público, meramente expressando
profunda preocupação com a sentença de crucificação enquanto ainda
fornece armas para permitir o ataque saudita no Iêmen.
Isso é realpolitik. A Arábia Saudita
tem petróleo e influência, e o governo Obama precisava se alinhar com a
Arábia Saudita para fechar o acordo nuclear iraniano. Mas agora que esse
acordo foi alcançado, será que devemos manter o silêncio?
Não é bom para nós nem para o povo saudita quando damos consentimento a um aliado que crucifica seu povo.
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