Entrevista especial com Jefferson Lobato Em vistoria de rotina no município de Novo Aripuanã, na floresta amazônica, técnicos do Ibama apreenderam quatro toneladas de herbicidas que seriam utilizadas para desmatar cerca de três mil hectares da floresta. Em outra região, encontraram árvores secas, com poucos indícios de queimadas, características que levam os profissionais a cogitar a possibilidade de ter ocorrido desmatamento químico em áreas florestais. De acordo com Lobato, o uso de agrotóxico para desmatar grandes extensões de terras é recorrente e se intensifica porque não há fiscalização na venda de herbicidas. "Se alguém chegar a uma loja agropecuária de Porto Velho-RO e perguntar quanto agrotóxico é necessário para desmatar uma área florestal X, os vendedores fazem os cálculos de acordo com o número de hectares e vendem o produto. Isso demonstra que o uso de agrotóxico para desmatamento deve ser uma prática comum", relata ele à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.
Segundo Lobato, o desmatamento tradicional feito com motosserras é caro e o recrutamento de pessoas gera denúncias de desmatamento. Por isso, grileiros e fazendeiros optam pela pulverização de herbicidas. Além de não chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores, relata, "eles podem desmatar as áreas até em períodos chuvosos porque utilizam um óleo mineral para fixar o agrotóxico nas plantas".
Jefferson Lobato é graduado em Biologia pela Universidade Federal do Pará e em Agronomia pela Universidade Federal Rural da Amazônia. Atualmente, é analista ambiental do Ibama.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O Ibama identificou uma área da floresta amazônica, do tamanho de 180 campos de futebol, destruída pela ação de herbicidas. Pode nos relatar como ocorreu essa investigação?
Jefferson Lobato – Nós estávamos monitorando áreas no município de Novo Aripuanã, no Amazonas, e identificamos que um dos fazendeiros iria fazer uma pulverização de herbicidas para desmatar uma área de três mil hectares. Esse crime não aconteceu porque os fiscais do Ibama chegaram antes e evitaram que a área fosse desmatada. Achávamos que esta não era uma prática comum. Porém, ao vistoriar outra área da região, identificamos que ela estava com um aspecto diferente de desmatamento: as árvores estavam secas e com poucos indícios de queimadas. Essas características nos remetem ao uso de agrotóxicos, portanto, essa área pode ter sido desmatada com o uso de produtos químicos ou pode ter ocorrido um incêndio florestal.
Segundo Lobato, o desmatamento tradicional feito com motosserras é caro e o recrutamento de pessoas gera denúncias de desmatamento. Por isso, grileiros e fazendeiros optam pela pulverização de herbicidas. Além de não chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores, relata, "eles podem desmatar as áreas até em períodos chuvosos porque utilizam um óleo mineral para fixar o agrotóxico nas plantas".
Jefferson Lobato é graduado em Biologia pela Universidade Federal do Pará e em Agronomia pela Universidade Federal Rural da Amazônia. Atualmente, é analista ambiental do Ibama.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O Ibama identificou uma área da floresta amazônica, do tamanho de 180 campos de futebol, destruída pela ação de herbicidas. Pode nos relatar como ocorreu essa investigação?
Jefferson Lobato – Nós estávamos monitorando áreas no município de Novo Aripuanã, no Amazonas, e identificamos que um dos fazendeiros iria fazer uma pulverização de herbicidas para desmatar uma área de três mil hectares. Esse crime não aconteceu porque os fiscais do Ibama chegaram antes e evitaram que a área fosse desmatada. Achávamos que esta não era uma prática comum. Porém, ao vistoriar outra área da região, identificamos que ela estava com um aspecto diferente de desmatamento: as árvores estavam secas e com poucos indícios de queimadas. Essas características nos remetem ao uso de agrotóxicos, portanto, essa área pode ter sido desmatada com o uso de produtos químicos ou pode ter ocorrido um incêndio florestal.
No dia 18 de julho, dois técnicos do Ibama e um perito farão uma análise na região para averiguar qual foi o real motivo do desmatamento. Pensamos que ocorreu desmatamento químico porque conseguimos impedir o uso de agrotóxicos em outra região. Sem a análise, porém, não podemos afirmar que foi este o real motivo do desmatamento.
Geralmente os fazendeiros e grileiros desmatam as áreas e depois colocam fogo. Esse é um processo caro e, com a prática do herbicida, eles podem desmatar as áreas até em períodos chuvosos porque utilizam um óleo mineral para fixar o agrotóxico nas plantas.
IHU On-Line – Antes de averiguar esses dois possíveis casos de uso de herbicidas, o Ibama tinha conhecimento de que os fazendeiros estavam usando agrotóxicos nas áreas florestais?
Jefferson Lobato – O Ibama já havia detectado esta prática no passado. Em 1999, uma área em Boca do Acre foi desmatada com o uso de agrotóxico e também ocorreu um caso no Mato Grosso. Em 2005 também identificamos uma área desmatada por uso de agrotóxico em Rondônia, mas não sei dizer qual o tamanho territorial.
O grande problema é que a venda de herbicidas não é fiscalizada: se alguém chegar a uma loja agropecuária de Porto Velho e perguntar quanto agrotóxico é necessário para desmatar uma área florestal X, os vendedores fazem os cálculos de acordo com o número de hectares e vendem o produto. Isso demonstra que o uso de agrotóxico para desmatamento deve ser uma prática comum.
IHU On-Line – Além do desmatamento, por quais razões o uso de agrotóxico se intensificou na floresta amazônica?
Jefferson Lobato – Geralmente, quem usa agrotóxicos são pessoas que querem ampliar a área de pastagem. Na Amazônia é difícil ter aumento de produtividade por área e tem pouco incentivo para que se amplie a produtividade. Para criarem mais gado ou plantarem mais soja, os fazendeiros desmatam a floresta e abrem novas áreas produtivas. Desmatar mais para produzir mais é uma prática recorrente na Amazônia. Talvez se existisse mais incentivo para aumentar a produtividade, não seria necessário desmatar mais áreas florestais.
IHU On-Line – Mas é possível aumentar a produtividade de forma sustentável, preservando a floresta?
Jefferson Lobato – Se houvesse manejo e licenciamento estatais adequados e rigorosos em relação à regulamentação das terras, seria possível fazer um trabalho sustentável junto às universidades e institutos de pesquisas. Os órgãos de fomento poderiam aplicar o conhecimento existente para aumentar a produtividades nessas áreas, evitando o desmatamento. Sabemos que existem muitos grileiros que desmatam as terras para depois vendê-las.
IHU On-Line – Como ocorre a fiscalização do uso de agrotóxicos nas áreas florestais? Quais as maiores dificuldades nesse processo?
Jefferson Lobato – Identificamos há pouco a possibilidade de os desmatadores estarem utilizando agrotóxico e, portanto, ficaremos alerta quanto a esse processo. Deveria ser fácil fiscalizar o uso de agrotóxicos porque o comércio de herbicidas tem que ser monitorado, mas isso não acontece. O Ibama terá de pensar uma nova estratégia para conter essa nova cadeia de destruição ambiental.
IHU On-Line – O uso de agrotóxicos em florestas tende a ser uma tendência?
Jefferson Lobato – Com certeza, essa é uma forma mais rápida para desmatar grandes extensões de terras. Além disso, o desmatamento feito com agrotóxico não chama muita atenção dos órgãos fiscalizadores. Geralmente, os fazendeiros utilizam homens e motosserras para desmatar, mas o recrutamento de pessoas gera denúncias de desmatamento e isso não é interessante para os desmatadores. Se o uso de agrotóxicos para desmatamento for mais barato e mais prático para burlar a legislação, certamente ele será intensificado.
IHU On-Line – Segundo uma notícia da Folha de S.Paulo, o Ibama apreendeu quatro toneladas de agrotóxicos. Em que região da floresta amazônica encontraram esse material e que destino deram a esses produtos?
Jefferson Lobato – Esses produtos foram encontrados no sudoeste do Amazonas, no município de Novo Aripuanã. Estávamos monitorando essa área porque já sabíamos que o responsável iria desmatá-la e encontramos quatro toneladas de herbicidas próximas a uma fazenda. Apreendemos o herbicida e o levamos para a base operativa do Ibama. Estamos aguardando que o Ministério da Agricultura venha buscar o produto porque não temos autorização para transportá-lo. Possivelmente, o material será disponibilizado para pesquisa, mas isso depende do Ministério da Agricultura.
IHU On-Line – Que danos ambientais os agrotóxicos podem causar à biodiversidade da floresta?
Jefferson Lobato – Geralmente, os desmatadores usam um herbicida sistêmico, que entra na planta e a mata por dentro. Esse é um produto altamente cancerígeno e tóxico, um multiplicador celular que pode prejudicar a microbiologia do solo, a vida dos animais e a saúde humana, além de contaminar rios.
Geralmente os fazendeiros e grileiros desmatam as áreas e depois colocam fogo. Esse é um processo caro e, com a prática do herbicida, eles podem desmatar as áreas até em períodos chuvosos porque utilizam um óleo mineral para fixar o agrotóxico nas plantas.
IHU On-Line – Antes de averiguar esses dois possíveis casos de uso de herbicidas, o Ibama tinha conhecimento de que os fazendeiros estavam usando agrotóxicos nas áreas florestais?
Jefferson Lobato – O Ibama já havia detectado esta prática no passado. Em 1999, uma área em Boca do Acre foi desmatada com o uso de agrotóxico e também ocorreu um caso no Mato Grosso. Em 2005 também identificamos uma área desmatada por uso de agrotóxico em Rondônia, mas não sei dizer qual o tamanho territorial.
O grande problema é que a venda de herbicidas não é fiscalizada: se alguém chegar a uma loja agropecuária de Porto Velho e perguntar quanto agrotóxico é necessário para desmatar uma área florestal X, os vendedores fazem os cálculos de acordo com o número de hectares e vendem o produto. Isso demonstra que o uso de agrotóxico para desmatamento deve ser uma prática comum.
IHU On-Line – Além do desmatamento, por quais razões o uso de agrotóxico se intensificou na floresta amazônica?
Jefferson Lobato – Geralmente, quem usa agrotóxicos são pessoas que querem ampliar a área de pastagem. Na Amazônia é difícil ter aumento de produtividade por área e tem pouco incentivo para que se amplie a produtividade. Para criarem mais gado ou plantarem mais soja, os fazendeiros desmatam a floresta e abrem novas áreas produtivas. Desmatar mais para produzir mais é uma prática recorrente na Amazônia. Talvez se existisse mais incentivo para aumentar a produtividade, não seria necessário desmatar mais áreas florestais.
IHU On-Line – Mas é possível aumentar a produtividade de forma sustentável, preservando a floresta?
Jefferson Lobato – Se houvesse manejo e licenciamento estatais adequados e rigorosos em relação à regulamentação das terras, seria possível fazer um trabalho sustentável junto às universidades e institutos de pesquisas. Os órgãos de fomento poderiam aplicar o conhecimento existente para aumentar a produtividades nessas áreas, evitando o desmatamento. Sabemos que existem muitos grileiros que desmatam as terras para depois vendê-las.
IHU On-Line – Como ocorre a fiscalização do uso de agrotóxicos nas áreas florestais? Quais as maiores dificuldades nesse processo?
Jefferson Lobato – Identificamos há pouco a possibilidade de os desmatadores estarem utilizando agrotóxico e, portanto, ficaremos alerta quanto a esse processo. Deveria ser fácil fiscalizar o uso de agrotóxicos porque o comércio de herbicidas tem que ser monitorado, mas isso não acontece. O Ibama terá de pensar uma nova estratégia para conter essa nova cadeia de destruição ambiental.
IHU On-Line – O uso de agrotóxicos em florestas tende a ser uma tendência?
Jefferson Lobato – Com certeza, essa é uma forma mais rápida para desmatar grandes extensões de terras. Além disso, o desmatamento feito com agrotóxico não chama muita atenção dos órgãos fiscalizadores. Geralmente, os fazendeiros utilizam homens e motosserras para desmatar, mas o recrutamento de pessoas gera denúncias de desmatamento e isso não é interessante para os desmatadores. Se o uso de agrotóxicos para desmatamento for mais barato e mais prático para burlar a legislação, certamente ele será intensificado.
IHU On-Line – Segundo uma notícia da Folha de S.Paulo, o Ibama apreendeu quatro toneladas de agrotóxicos. Em que região da floresta amazônica encontraram esse material e que destino deram a esses produtos?
Jefferson Lobato – Esses produtos foram encontrados no sudoeste do Amazonas, no município de Novo Aripuanã. Estávamos monitorando essa área porque já sabíamos que o responsável iria desmatá-la e encontramos quatro toneladas de herbicidas próximas a uma fazenda. Apreendemos o herbicida e o levamos para a base operativa do Ibama. Estamos aguardando que o Ministério da Agricultura venha buscar o produto porque não temos autorização para transportá-lo. Possivelmente, o material será disponibilizado para pesquisa, mas isso depende do Ministério da Agricultura.
IHU On-Line – Que danos ambientais os agrotóxicos podem causar à biodiversidade da floresta?
Jefferson Lobato – Geralmente, os desmatadores usam um herbicida sistêmico, que entra na planta e a mata por dentro. Esse é um produto altamente cancerígeno e tóxico, um multiplicador celular que pode prejudicar a microbiologia do solo, a vida dos animais e a saúde humana, além de contaminar rios.
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