quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Donald Trump ganha eleição americana em vitória que abala a ordem mundial




Conquista da Casa Branca pelo bilionário republicano, com seu discurso populista e xenófobo, significa uma revolução política

Donald Trump, candidato do Partido Republicano, ganhou as eleições presidencias americanas ao derrotar a democrata Hillary Clinton, na madrugada desta quarta-feira, 9 de novembro, numa vitória surpreendente que equivale a uma revolução política nos Estados Unidos e deverá abalar a ordem política mundial. O bilionário do ramo imobiliário fez uma campanha populista, isolacionista e xenofóbica, em que seus principais alvos foram os imigrantes, a abertura das fronteiras e as elites que impulsionaram a globalização da economia e o crescimento do comércio mundial nas últimas décadas. A vitória de Trump significa também um triunfo da revolta de eleitores no mundo ocidental desenvolvido contra as mudanças provocadas pela globalização, que, ao mesmo tempo que aumentou a riqueza e levou desenvolvimento a regiões do planeta antes fora do mapa econômico, criou bolsões de pobreza e aumentou as desigualdades nos países mais ricos. Assim como na vitória da Brexit no referendo do Reino Unido que decidiu pela saída da União Europeia, em junho, um dos motores da campanha de Trump foi o eleitorado de classe média, branco e de baixa escolaridade que acha que sofreu perdas com a globalização e se sente ameaçado pelo aumento da imigração para seus países.

O impacto da vitória de Trump na ordem mundial liberal pode ser medida pelo mote do seu discurso na convenção do Partido Republicano que o consagrou como candidato presidencial, em julho. “Americanismo e não globalismo será nosso credo”, declarou Trump. Os choques de sua eleição já começaram a ser sentidos no mercado financeiro internacional. A partir da Ásia, as Bolsas mundiais começaram a entrar em convulsão a partir do momento em que ficou clara a chance de êxito de Trump. As ondas de propagação causadas pela espantosa vitória de Trump devem logo chegar também às Bolsas políticas da Europa, onde há um ascendente movimento nacionalista, populista e xenofóbico em vários países. No ano que vem, a França vai realizar eleições presidenciais – e a candidata Marine Le Pen, do partido de extrema-direita Front National, tem grandes chances de vencê-las. Se isso ocorrer, a própria União Europeia poderá entrar em xeque. A vitória de Trump significa também um alento político e tanto para o governo autoritário de Vladimir Putin na Rússia, principal liderança internacional a expressar, sem reservas, apoio à candidatura de Trump.

A chegada de Trump ao poder representará também uma revolução política nos Estados Unidos. Sua vitória já está sendo considerada a maior surpresa na história das eleições presidenciais americanas desde 1948 – quando o democrata Harry Truman derrotou, de forma inesperada, o republicano Thomas Dewey e conquistou a Casa Branca. Até as vésperas da eleição, a democrata Hillary Clinton era apontada como ampla favorita pelas pesquisas de opinião. Hillary contou com o apoio quase unânime dos principais veículos de comunicação dos Estados Unidos e do establishment político americano que rejeitou Trump, desde o iníco de sua campanha, por causa de seu estilo bombástico, histriônico e totalmente fora das convenções da política americana. Quando um vídeo, revelado em outubro pelo jornal The Washington Post, mostrou Trump vangloriando-se de abusos sexuais e investidas indecorosas contra mulheres, houve uma debandada em massa da cúpula do Partido Republicano da campanha do bilionário. Dos últimos candidatos republicanos à Casa Branca, apenas Bob Dole, que perdeu para Bill Clinton em 1996, declarou apoio a Trump. O último presidente republicano, George W. Bush, votou em Hillary Clinton. O tradicional Partido Republicano, o Grand Old Party, um bastião do liberalismo econômico, deve ser moldado, a partir de agora, pelo trumpismo.

Com seu farto histórico de mentiras, casos de abusos sexuais e manobras fiscais altamente questionáveis para fugir do pagamento de impostos, Trump atraiu a rejeição de uma grande parcela do eleitorado americano – em geral, formado por pessoas mais jovens, instruídas e cosmopolitas. Na batalha das rejeições que virou a eleição americana, a vitória de Trump foi facilitada por ele ter a impopular Hillary Clinton como adversária. Embora vista como a mais qualificada para ocupar a Casa Branca, graças a uma longa trajetória pública, em que foi primeira-dama, senadora por Nova York e secretária de Estado do governo Barack Obama, Hillary carregou a pecha de representante da elite (e da dinastia dos Clintons) em uma campanha em que a tônica foi a raiva do eleitor contra o establishment. Além disso, Hillary ganhou a imagem, aos olhos de boa parte dos eleitores americanos, de uma política fria, distante, pouco confiável e manipuladora. Essa imagem foi reforçada pelo caso do uso de sua conta de e-mail particular para comunicações oficiais durante seu período como secretária de Estado. O uso do e-mail particular contraria os regulamentos do Departamento de Estado e virou uma investigação do FBI, reavivada na reta final da campanha

Para consolidar sua vitória no Colégio Eleitoral, em que são necessários 270 votos para conseguir a eleição, Trump venceu batalhas eleitorais decisivas em estados-chaves, como Flórida, Carolina do Norte e Ohio – os chamados estados pêndulos, que oscilam, a cada eleição, da posição de democrata para republicano, e vice-versa. Mas sua conquista foi coroada com vitórias em estados tradicionalmente democratas – como a Pensilvânia, em que Hillary contava vencer com folga, mas acabou perdendo.








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