David Miranda,
namorado do jornalista Glenn Greenwald, que revelou os casos de
espionagem por parte da NSA, deu detalhes da campanha
David Miranda, mentor e líder da campanha para que Dilma Rousseff dê asilo ao ex-agenda da NSA Foto: Mauro Pimentel / Terra
Uma grande oportunidade de o Brasil dar uma resposta
concreta aos casos de espionagem e, sobretudo, uma forma soberana de
“peitar os EUA”. Esta é a premissa básica da campanha pelo asilo
político do ex-agente da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward
Snowden, e liderada por David Miranda, publicitário e namorado do
jornalista Glenn Greenwald – o responsável pela divulgação dos casos de
espionagem do governo Barack Obama no mundo.
Em entrevista ao Terra, Miranda não só
confirmou que abraçou a causa, como está otimista no sucesso da
empreitada, já que “conversei com diversos senadores (cujos nomes ele
não pode revelar) e todos, de vários setores, se mostraram bastante
receptivos. Vai ser algo que vai acontecer logo”, afirmou. Uma audiência
nesta terça-feira, em Brasília, pela Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Espionagem deve discutir o assunto.
“Se o Brasil der asilo, os EUA não poderão fazer nada.
Nós precisamos dos EUA na economia? Sim, mas eles também precisam da
gente. Estamos pensando em ajudar uma pessoa. Ele é um grande herói para
o mundo inteiro e o Brasil pode peitar os EUA”, explicou ainda, antes
de completar. “Eu acredito que não seria só uma resposta aos casos de
espionagens, seria algo mais de orgulho nacional mesmo.”
Snowden revelou este ano diversos casos de espionagem
por parte da NSA junto a diversos líderes globais, entre eles, a
presidente da República, Dilma Rousseff, que teve seus e-mails pessoais
invadidos pelo serviço de inteligência. A Petrobras também teve seu
sistema invadido pelos americanos, ainda de acordo com o delator.
Vivendo de um asilo temporário concedido pelo governo da
Rússia desde junho deste ano, cerca de dois meses após deixar os EUA e
revelar ao mundo detalhes do sistema de espionagem americano, Edward
Snowden tem permissão para ficar em solo russo até a metade do ano que
vem.
Em carta aberta, em inglês, divulgada nesta terça-feira,
o ex-agente da NSA afirma que “até que um país conceda asilo
permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir em minha
capacidade de falar”. Snowden teria seus movimentos limitados vivendo em
solo russo. A ideia é ter o mesmo tipo de liberdade que goza hoje, no
Rio de Janeiro, o jornalista americano Glenn Greenwald, que revelou,
quando trabalhava para o britânico The Guardian, todo o aparato de
espionagem dos EUA.
David Miranda (direita) divulgou a carta escrita por Snowden nesta terça-feira Foto: AFP
David Miranda (direita) divulgou a carta escrita por Snowden nesta terça-feira Foto: AFP
Na época em que vivia numa zona internacional do
aeroporto de Moscou, a espera do asilo temporário, Snowden recebeu
propostas dos governos da Nicaragua, Venezuela e Bolívia. E especialista
em segurança, de qualquer forma, prefere o Brasil e estaria disposto a
colaborar com o governo brasileiro. Ele cita em sua carta que o governo
brasileiro é signatário de um texto aprovado por uma comissão na
Assembleia Geral da ONU, no qual fica expresso que os casos de
espionagem violam os direitos humanos internacionais.
“O Brasil é forte. Não está mais engatinhando
politicamente. Nós somos um país escutado no mundo inteiro. Isso não só
vai demonstrar para o mundo e para os brasileiros que nós entendemos de
política e falamos uma língua internacional, mas vamos estar cobrindo o
dever de uma coisa que assinamos”, destaca ainda David Miranda, braço direito de Greenwald, tido no mundo como o jornalista mais odiado pelos EUA.
“Vai ser um bom debate”, finaliza, otimista com sua
campanha, hospedada no site da ONG Avaaz, cujo foco principal é
justamente estes tipos de petições. Miranda divulga o link da sua
campanha em seu perfil na rede social.
Veja a carta de Snowden, na íntegra:
"Uma carta aberta ao povo do Brasil, de Edward Snowden
Há
seis meses, saí das sombras da Agência de Segurança Nacional do governo
dos Estados Unidos para ficar na frente da câmera de um jornalista. Eu
compartilhei com evidências provando que alguns governos estão
construindo um sistema de vigilância em todo o mundo para monitorar
secretamente o modo como vivemos, que nós falamos e o que dizemos. Eu me
coloquei diante de uma câmera com os olhos abertos, sabendo que a
decisão iria custar a minha família, minha casa e que arriscaria a minha
vida. Eu fui motivado por uma crença de que os cidadãos do mundo
merecem entender o sistema em que vivem.
Meu
maior medo era de que ninguém ouvir minha advertência. Nunca fui tão
feliz em ter errado tanto. As reações de alguns países têm sido
particularmente inspiradoras para mim e o Brasil é certamente um deles.
A
NSA e outras agências de espionagem aliadas nos dizem que, pelo bem da
nossa própria segurança, em nome da segurança de Dilma, em nome da
segurança da Petrobras, revogaram nosso direito à privacidade e
invadiram nossas vidas. E o fizeram sem pedir a permissão da população
de qualquer país, nem mesmo do deles.
Hoje,
se você carrega um telefone celular em São Paulo, a NSA pode manter o
controle de sua localização: eles fazem isso 5 bilhões de vezes por dia
com as pessoas ao redor do mundo . Quando alguém em Florianópolis visita
um site, o NSA mantém um registro de quando isso aconteceu e o que essa
pessoa fez lá. Se uma mãe em Porto Alegre chama seu filho para
desejar-lhe boa sorte no vestibular, a NSA pode manter esse registo de
chamadas por cinco anos, ou mais. Eles ainda controlam quem está tendo
um caso ou vendo pornografia, em caso de necessidade de prejudicar a
reputação de seu alvo.
Senadores norte-americanos dizem que o Brasil não deve se preocupar, porque isso não é "vigilância” e sim "coleta de dados". Eles
dizem que é feito para mantê-lo seguro, mas eles estão errados . Há uma
enorme diferença entre os programas legais, espionagem legítima,
legítima aplicação da lei - em que os indivíduos são direcionados com
base em uma suspeita razoável individualizada - e estes programas de
vigilância em massa que põem populações inteiras sob um olho que tudo vê
e guardar cópias para sempre. Esses programas nunca foram destinados ao
combate do terrorismo: são sobre espionagem econômica, controle social e
manipulação diplomática. Elas (espionagem) são sobre o poder.
Muitos
senadores brasileiros pediram minha ajuda com suas investigações sobre
suspeita de crimes contra cidadãos brasileiros. Expressei minha
disposição de auxiliar, quando isso for apropriado e legal, mas,
infelizmente, o governo dos EUA vem trabalhando muito arduamente para
limitar minha capacidade de fazê-lo - indo tão longe a ponto de forçar o
pouso do avião presidencial de Evo Morales para me impedir de viajar
para América Latina! Até que um país conceda asilo político permanente, o
governo dos EUA vai continuar a interferir em minha capacidade de
falar.
Seis
meses atrás, eu revelei que a NSA queria ouvir o mundo todo. Agora, o
mundo inteiro está escutando de volta, e quer falar também. E a NSA não
gosta do que está ouvindo. A cultura de vigilância em todo o mundo
indiscriminada, exposto a debates públicos e investigações reais em
todos os continentes está entrando em colapso. Há apenas três semanas, o
Brasil levou o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas a
reconhecer pela primeira vez na história que a privacidade não para onde
a rede digital começa e que a vigilância em massa de inocentes é uma
violação dos direitos humanos.
A
maré virou e, finalmente, podemos ver um futuro onde podemos desfrutar
de segurança sem sacrificar a nossa privacidade. Nossos direitos não
podem ser limitados por uma organização secreta e as autoridades
americanas nunca deverão decidir as liberdades dos cidadãos brasileiros.
Mesmo os defensores da vigilância em massa, aqueles que não podem ser
persuadidos de que as nossas tecnologias de vigilância já ultrapassou
perigosamente controles democráticos, agora concordam que, nas
democracias, a vigilância do público deve ser debatido pelo público.
Meu
ato de consciência começou com uma declaração: "Eu não quero viver em
um mundo onde tudo o que eu digo, tudo o que faço, todos com quem eu
falo, cada expressão de criatividade, amor ou amizade seja registrada.
Isso não é algo que eu estou disposto a apoiar, não é algo que eu estou
disposto a construir e não é algo que eu estou disposto a viver sob".
Dias
depois, foi-me dito que meu governo me fez apátrida e queria me
prender. O preço para o meu discurso era o meu passaporte, mas eu
pagaria de novo: eu não vou ser o único a ignorar a criminalidade por
causa do conforto político. Eu prefiro ficar sem um estado do que não
ter voz.
Se
o Brasil ouve apenas uma coisa de mim, que seja esta: quando todos nós
nos unirmos contra as injustiças e em defesa da privacidade e os
direitos humanos básicos, poderemos nos defender até mesmo os sistemas
mais poderosos."
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden.
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden.
A
NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma
empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de
comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de
diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de
redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem
da inteligência do governo dos EUA.
Ainda
segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes
da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília,
pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da
Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações
Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do
governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio
Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que
o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou
também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço
secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal tambéminstaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De
acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação
chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e
Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente
do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele
país quando o relatório foi produzido.
O
nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um
desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no
entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear
e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP
(código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos
de mensagens ou ligações.
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