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quinta-feira, 4 de julho de 2019

Plano econômico dos EUA é condição para paz árabe-israelense, diz genro de Trump

Palestinos protestam contra iniciativa apresentada por Jared Kushner no Bahrein.

Palestinos seguram cartazes contra plano econômico dos EUA para conflito árabe-israelense na cidade de Gaza Foto: MOHAMMED ABED / AFP/25-06-2019

MANAMA — O plano econômico dos Estados Unidos é uma condição para a paz entre Israel e palestinos, disse nesta terça-feira o genro e conselheiro do presidente Donald Trump, Jared Kushner. O marido de Ivanka Trump discursou na abertura de uma conferência internacional de dois dias no Bahrein, na qual está lançando o projeto chamado de "Paz para a prosperidade" , que prevê investimentos de US$ 50 bilhões nos territórios palestinos e países vizinhos.

A iniciativa americana liderada por Kushner, que estava em gestação havia dois anos, é criticada pelos palestinos por não incluir desde já os aspectos territoriais e políticos do conflito com Israel, que se prolonga há 71 anos. No seu discurso, Kushner disse que questões políticas não seriam discutidas no evento de dois dias no Bahrein e que chegaria a elas "no tempo certo", mas reconheceu que a prosperidade dos palestinos não é possível sem uma solução política.

— Aceitar um caminho econômico para a frente é uma condição prévia para resolver as questões políticas sem solução até o momento — afirmou Kushner. — Devemos ser claros: o crescimento econômico e a prosperidade para o povo palestino não podem ser alcançados sem uma solução política justa e duradoura que garanta a segurança de Israel e respeite a dignidade do povo palestino — acrescentou, chamando seu plano de "oportunidade do século".

Diante de protestos que ocorrem desde segunda-feira nos territórios palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, Kushner ainda negou que os Estados Unidos e que Trump tenham "desistido dos palestinos". Em entrevista no início de junho, ele havia questionado se os palestinos estavam preparados para se autogovernar, intensificando os temores de que Washington abandone oficialmente a chamada solução de dois Estados, apoiada pela ONU e pela grande maioria dos países.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas,já havia afirmado que não poderia aceitar que os Estados Unidos circunscrevessem "todo o conflito a uma questão econômica".

— Dinheiro é importante, a economia é importante, mas a solução política é mais importante — afirmou ele nesta terça.


Jared Kushner ao lado da sua mulher, Ivanka Trump, na Florida Foto: MANDEL NGAN / AFP/18-06-2018

Segundo a proposta de Kushner, o plano de uS$ 50 bilhões seria financiado pelos países árabes, em especial as monarquias do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que se aproximaram ainda mais de Washington ao fazer causa comum contra o Irã.

As negociações entre Israel e os palestinos, que deveriam levar à criação do Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia, estão paralisadas desde 2014, quando foram suspensas pelo governo israelense em reação a uma tentativa de reconciliação entre a Autoridade Nacional Palestina e o grupo islâmico Hamas, que controla Gaza.

Os palestinos deixaram de ver os Estados Unidos como um mediador crível depois que o governo Trump transferiu a embaixada americana em Israel para Jerusalém, cujo setor oriental é reivindicado por eles como capital do seu futuro Estado. A Casa Branca também cortou no ano passado o financiamento anual de US$ 300 milhões para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA).

Nesta terça-feira, enquanto Kushner discursava em Bahrein, o secretário-geral da ONU, António Guterres, participava em Nova York de uma conferência de arrecadação de fundos para a UN RWA. 

— Hoje peço humildemente a todos os doadores que mantenham seu apoio à UNRWA no mesmo nível de antes — disse. — Sabemos o que está em jogo: a educação de meio milhão de crianças, oito milhões de exames médicos por ano, assistência emergencial para um milhão e meio de pessoas. Só em Gaza, 1 milhão de refugiados depende da UNRWA para comer.

Protestos palestinos

Os territórios palestinos e campos de refugiados palestinos nos países vizinhos assistem a greves e protestos desde segunda-feira contra o plano de Kushner. Cerca de 3 mil pessoas se concentraram em Nablus, no norte da Cisjordânia, e outras dezenas participaram de manifestações em Ramallah e Hebron.

Os manifestantes acreditam que líderes de países árabes, incluindo aqueles que abrigam campos de refugiados palestinos, poderiam reduzir o apoio à sua causa em troca de incentivos econômicos.

— Este acordo não avançará, e nós não vamos aceitar a venda da Jordânia ou da Palestina — disse Ibrahim Abu Sayed, residente do campo de Baqaa, nos arredores da capital jordanianaa, Amã, e deputado no Parlamento jordaniano.



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