Usando o filtro em homenagem à liberação do casamento gay nos EUA, Zuckerberg e cia. podem ter aprendido ainda mais sobre nós
Ficamos muito felizes ao ver nossa
timeline no Facebook recheada de fotos de perfil com o filtro de
arco-íris disponibilizado pela própria rede. Para quem ainda não sabe, a
açaõ foi uma comemoração à decisão da Suprema Corte dos EUA de que o
casamento de pessoas do mesmo sexo é um direito constitucional.
A ferramenta em si era simples, como explicamos aqui.
Era só clicar em um link e autorizar o Facebook a colocar o filtro na
imagem de perfil. Em poucas horas, mais de um milhão de pessoas já havia
aderido ao filtro, de acordo com dados da própria rede social.
Mas a movimentação, como aponta a Atlantic, gerou certa dúvida entre quem já conhece o Facebook melhor - será que a campanha "Celebrate Pride" seria mais uma forma de obter mais dados sobre os usuários?
Já falamos aqui na GALILEU sobre experimentos que o próprio Facebook fez em seus usuários, como analisar o seu humor ou entender melhor suas inclinações políticas. E eles também analisam movimentos sociais online. Tanto que, em março, eles publicaram um estudo
em que analisavam que fatores comportamentais poderiam prever o apoio
de uma pessoa ao casamento gay. Na época, foram usados dados de uma
campanha de 2013 que usou, como símbolo, o igual vermelho com o mesmo
propósito: pessoas mudaram sua foto de perfil para essa imagem.
Mas qual é a vantagem de se analisar isso? Basicamente,
entender se e como grupos podem se organizar online e, coletivamente,
afetar movimentos sociais.
E aí, mudar a imagem de perfil funciona? Essa é a pergunta que acadêmicos se fazem desde 2009, quando o Twitter permitiu que seus perfis ficassem verdes e que a sua localização fosse alterada para Teerã,
como sinal de apoio aos protestantes iranianos. Muita gente criticou a
ação, como uma forma nada efetiva de ocidentais terem suas fantasias
sobre a realidade no Irã, aquela história de 'ativismo de sofá' - uma
forma de manifestação 'preguiçosa' que não teria valor político real.
Mas dificilmente podemos dizer o mesmo da campanha da última semana.
Colocar um arco-íris na foto de perfil, mesmo na sociedade brasileira,
supostamente mais liberal, é assumir um risco. Em nossos perfis
pessoais, ficamos orgulhosos ao ver uma troca de 'curtir' frenética
entre as imagens de amigos após a adição do filtro. Porém, na página da
GALILEU, recebemos comentários negativos, homofóbicos e várias
'descurtirdas' - tudo por uma celebração de igualdade. Ou seja, a causa
da luta daquela bandeira não está tão distante de nós. E, tirando nossa
marca e nós mesmos da equação e pensando em pessoas que vivem em
círculos mais opressores, não dá para imaginar que usar o filtro como um
símbolo de seus ideais possa ser considerado 'preguiçoso'.
Mas o que faz com que pessoas se arrisquem? Será que, quanto mais
amigos se envolvem em campanhas como essas, maior é a chance de
participação? Essa pergunta foi feita em 1964 por um sociólogo de
Stanford chamado Doug McAdam. Ele analisou o "Verão da Liberdade", uma
ação que colocou 700 universitários dentro de famílias negras no
Mississipi para registrar eleitores negros. E McAdam descobriu alguns
fatores comuns aos envolvidos no Verão da Liberdade: um grande número de
afiliações a organizações, priorização de atividades relacionadas ao
direito civil e uma maior quantidade de relações com outros
participantes. Ou seja, a partir do momento em que alguém entrava no
movimento, maiores eram as chances de seus amigos entrarem também. Esse
estudo foi citado pela pesquisa publicada em março do Facebook como uma
inspiração - era uma chance de entender como a participação nesses movimentos se espalha entre amigos.
Uma das questões era 'quantas vezes você precisa ver amigos mudando a
imagem de perfil (em uma campanha como a de 2013) antes de decidir mudar
a própria foto?'. A primeira hipótese era de que essa mudança de imagem
tinha o mesmo padrão de popularização de um meme, ganhando mais
influência com maiores compartilhamentos. A outra era a de que pessoas
precisam ver várias pessoas adotando a posição antes de assumirem a
própria.
Eles descobriram que vários fatores determinavam a adesão de uma pessoa
à campanha. Afiliações políticas, religião e idade eram alguns mais
óbvios. Mas o mais surpreendente foi ver que as pessoas se sentiam mais
encorajadas a mudar a foto de perfil depois de seis amigos terem mudado
também. E seis é o número mágico: se mais pessoas na
timeline mudavam a foto, a chance de adesão permanece alta do mesmo
jeito. Mas, menos do que isso, e a chance era mais baixa.
Há uma grande diferença entre a forma com que um meme se espalha: um
meme não precisa da validação de amigos, como a mudança da foto de
perfil por uma imagem de campanha.
Mas aí surge outra questão: usuários influenciam seus amigos ou já têm
amigos que dividem suas crenças? Essa pergunta ainda não tem resposta
para os estudos do Facebook.
Experimento? Deixando isso de lado e voltando à recente campanha de mudança de perfil: ela é um experimento?
De acordo com o Facebook, a ferramenta em si foi criada por dois
estagiários em um hackathon da empresa - bem a tempo de estar disponível
para todo mundo na sexta-feira, após a decisão da suprema corte. De
acordo com um porta-voz da rede social, não é um experimento ou teste,
já que o algoritmo da timeline das pessoas não foi alterado. Todos vêem a
mesma coisa - ao contrário de estudos passados nos quais o algoritmo
foi mudado para entender melhor o humor dos usuários.
Mas mesmo que a ferramenta não tenha sido criada como parte de um
experimento, nada impede pesquisadores da rede de obter dados sobre ela
para analisar o comportamento dos usuários. Afinal, de toda a forma,
qualquer ação nossa por lá, até clicar em um 'curtir', já é analisada.
Via Atlantic
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