A sublinhar a importância de África para Pequim,
Xi Jinping ainda em março do ano passado, tinha visitado a Tanzânia,
África do Sul e a República do Congo, numa primeira deslocação ao
estrangeiro depois de assumir o cargo de presidente.
No entanto, o crescente papel da China também contribuiu para criar tensões em alguns países africanos.
Conforme
escreve o Jornal de Madeira, editado no Funchal, centro administrativo
do arquipélago português, o Governo da Zâmbia assumiu no ano passado o
controlo de uma companhia chinesa de extração de carvão por não
respeitar os regulamentos de segurança e proteção ambiental. Refere
ainda que em 2012, trabalhadores da mina mataram um gerente chinês,
durante confrontos causados por divergências quanto às condições
laborais.
A imprensa madeirense segue de perto a
situação em países africanos já que existe a tradição de emigração da
Madeira para África, em especial para a África do Sul, onde se encontram
quase meio milhão de imigrantes, quase todos de origem madeirense.
Agência
noticiosa francesa AFP publicou recentemente uma entrevista da famosa
antropóloga britânica Jane Goodall, baseada na Tanzânia, a dizer que a
China está a explorar os recursos de África como os colonizadores
europeus fizeram, com efeitos desastrosos para o ambiente.
“África
continua a ser um destino muito importante e estratégico para as cerca
de 2 mil empresas chinesas que operam no continente”, diz um analista do
Standard Bank, uma instituição presente em 18 países africanos.
Pequim
tem interesse especial nas ex-colónias portuguesas, sendo Angola o
maior cliente da China na exportação de petróleo para aquele gigante
asiático. Recorde-se que Angola tem uma parceria estratégica firmada com
a China desde 2010, que veio reforçar três décadas de relações
comerciais mantidas entre os dois países. Com uma forte presença no
setor energético, as empresas chinesas têm ainda interesses em Angola
nas áreas da construção civil, tecnologia, minas, agricultura e
finanças.
Alguns exemplos recentes do envolvimento da
China em África incluem a aquisição de uma participação nos campos de
gás natural ao largo de Moçambique, o investimento na extração de ouro
na República do Congo, a aquisição de uma participação numa mina de
urânio namibiano, e o investimento numa mina de minério de ferro na
Serra Leoa.
Conforme vários analistas, o que
verdadeiramente faz movimentar a China e os seus interesses estratégicos
são as matérias-primas africanas. É um modelo de negócio em que os
países africanos trocam a exportação de recursos naturais (energéticas e
minerais) por investimentos em infraestruturas, assegurados pelas
empresas chinesas.
Aqui começam cada vez mais
problemas, até ao nível quotidiano, face ao aumento enorme de
mão-de-obra chinesa em África, às vezes em detrimento de populações
locais. Angola, por exemplo, tem sido invadida nos últimos tempos por um
exército de trabalhadores chineses, em números estimados de 100 a 500
mil.
Na internet angolana neste contexto pode-se
encontrar comentários como “Depois da colonização europeia nos séculos
passados, segue-se agora a chinesa, que vai durar tanto ou mais que a
europeia” e (sobre a qualidade de trabalho chines) “Chinês faz rápido,
mas a obra parte ainda mais depressa” e “Os chineses foram os últimos a
desembarcar por aqui, mas já formam o maior contingente. Ninguém sabe ao
certo, mas dizem que são mais de 600.000 deles espalhados pelo país –
dá algo como 3% da população”.
Os angolanos queixam-se
de que o asfalto de muitas estradas construídas no país por empresas
chinesas desaparece com as primeiras chuvas. O exemplo mais emblemático
são as obras de construção do Hospital Geral de Angola, em Luanda.
Passados vários anos após a inauguração, o centro de saúde teve de ser
evacuado por causa das fissuras que se abriram no edifício.
Muitos
dos analistas internacionais falam de falta de transparência na
cooperação sino-africana, de necessidade a divulgar os termos dos
acordos estabelecidos e proibir a empresas chineses a alimentar os
circuitos locais de corrupção, beneficiando desta maneira grupos
restritos ligados ao poder.
Os fatos citados e as opiniões expressas são de responsabilidade do autor
FONTE:
http://portuguese.ruvr.ru/2014_02_27/Africa-sofre-uma-nova-coloniza-o-6384/
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