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sábado, 13 de abril de 2019

Com extradição pedida por EUA, fundador do WikiLeaks é preso na embaixada do Equador em Londres

Julian Assange estava asilado na missão diplomática desde 2012; governo de Lenín Moreno revogou asilo.

Preso em Londres, Julian Assange deixa delegacia de polícia rumo a tribunal Foto: HENRY NICHOLLS 11-04-2019 / REUTERS

LONDRES — O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, foi preso na manhã desta quinta-feira pela polícia britânica em Londres. Os agentes foram autorizados pela embaixada do Equador a entrar na sede diplomática do país, na qual o ativista estava exilado desde 2012. O governo equatoriano do presidente Lenín Moreno revogou o asilo do australiano e suspendeu a cidadania que lhe havia sido concedida. Moreno rompeu com Rafael Correa, seu antecessor que concedeu o asilo a Assange, e desde o ano passado vinha indicando que a proteção poderia ser cancelada.
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A polícia de Londres confirmou que Assange foi preso em resposta a um pedido de extradição das autoridades dos Estados Unidos, onde ele vinha sendo processado secretamente, segundo revelou a imprensa americana em novembro de 2018. Nesta quinta, depois da prisão, promotores americanos informaram que Assange é acusado de conspirar com a ex-analista de Inteligência do Exército dos EUA Chelsea Manning para tentar acessar um computador do governo americano em 2010. A pena máxima prevista para o crime é de cinco anos, segundo o Departamento de Justiça.

Manning, que servia no Iraque, foi a fonte de documentos militares americanos e de mais de 250 mil telegramas da diplomacia dos EUA vazados em 2010 e 2011 pelo WikiLeaks, a maior parte deles revelando os bastidores da chamada "guerra ao terror". Mais recentemente, a organização publicou e-mails da campanha à Presidência de Hillary Clinton em 2016 que, segundo a Justiça americana, foram obtidos por hackers russos, o que Assange sempre negou. Detida em 2010, Manning foi condenada a 35 anos de prisão, mas teve a pena comutada por Barack Obama depois de cumprir sete.

A prisão de Assange, de 47 anos, também atendeu a um pedido da Justiça britânica, que determinara sua detenção quando ele pediu refúgio na embaixada equatoriana, acusando-o de violar as condições da liberdade condicional que lhe havia sido imposta no âmbito de uma investigação de estupro na Suécia. Essa investigação foi posteriormente arquivada pela Justiça sueca, mas os advogados de Assange não conseguiram derrubar o pedido de prisão por violação da condicional. Nesse caso, ele pode ser condenado a até 12 meses de prisão.



A Polícia Metropolitana de Londres, conhecida como Scotland Yard, informou ter sido chamada à embaixada depois da revogação do asilo. O australiano foi levado a uma delegacia no centro de Londres e depois ao Tribunal de Magistrados de Westminster, onde se declarou inocente de violação da condicional, mas foi condenado pelo juiz de plantão, Michael Snow. Novas audiências foram marcadas para 2 de maio e 12 de junho, nas quais será examinado o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos.

Imagens de televisão mostraram como agentes da polícia de Londres levaram Assange, abatido e com uma longa barba branca, do edifício da embaixada, no bairro londrino de Knightsbridge. Ele foi conduzido por sete homens e levava na mão o livro "A História do Estado de Segurança Nacional", do americano Gore Vidal. O fundador do WikiLeaks não saía do local desde 19 de junho de 2012.

Quando se refugiou na embaixada, Assange era alvo de um pedido de extradição feito pela Suécia, no processo depois arquivado. Ele alegou, na época, que temia que a Justiça sueca o extraditasse para os Estados Unidos, hipótese que agora se torna uma possibilidade concreta.

Em resposta à prisão de Assange, o WikiLeaks destacou que o Equador violou a lei internacional ao revogar seu asilo "ilegalmente". O fundador do WikiLeaks recebeu o apoio do ex-presidente Rafael Correa, que lhe concedera o asilo. "Lenín Moreno, nefasto presidente do Equador, demonstrou sua miséria humana ao mundo, entregando Julian Assange, não só asilado, como também cidadão equatoriano, à polícia britânica", escreveu Correa, que hoje vive asilado na Bélgica, no Twitter. "Isso põe em risco a vida de Assange e humilha o Equador."

As relações de Assange com seus anfitriões azedaram desde a mudança na Presidência do Equador, em 2017. No mês passado, o governo de Lenín Moreno acusou o fundador do WikiLeaks de vazar informações sobre sua vida pessoal. As informações, ainda sem comprovação, implicam o irmão do presidente em lavagem de dinheiro em contas no exterior.

Em vídeo no Twitter, nesta quinta-feira, Moreno confirmou que o Equador "soberanamente" cancelou o asilo diplomático a Assange porque o ativista "violou reiteradamente disposições expressas das convenções sobre asilo". Segundo o presidente, o australiano violou a norma de "não intervir em assuntos de outros Estados". Moreno ressalvou que o australiano não será extraditado para países que poderiam condená-lo à pena de morte, e afirmou que Londres aceitou a condição.

"O governo britânico confirmou isso por escrito, de acordo com suas próprias regras", disse Moreno, que vinha recompondo as relações com os Estados Unidos, estremecidas desde que Correa ordenou o fechamento da base americana de Manta, que funcionava em território equatoriano. Moreno também acabou de assinar um pacote de ajuda do Fundo Monetário Internacional.

A relatora especial da ONU sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias, Agnes Callamard, criticou o governo equatoriano pela revogação do asilo, que segundo ela expõe Assange "a um verdadeiro risco de graves violações dos direitos humanos". O ministro do Interior equatoriano, José Valencia, disse depois à Assembleia Nacional em Quito que o governo não sabia do pedido de extradição americano quando revogou o asilo.

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que Assange "não é nenhum herói" e que o ativista "se escondeu da verdade por anos". Segundo o chanceler, o fundador do WikiLeaks "não está acima da lei" e terá o destino decidido pela Justiça britânica.

Edward Snowden, ex-funcionário da Agênciade Segurança Nacional americana que também é alvo dos EUA por vazar documentos secretos sobre programas de espionagem de Washington, denunciou um "dia sombrio para a liberdade de imprensa". "As imagens do embaixador do Equador convidando a polícia secreta a entrar na embaixada para tirar de lá um editor de material jornalístico terminará nos livros de História. Os críticos de Assange podem celebrar, mas é um dia sombrio para a liberdade de imprensa", escreveu Snowden no Twitter.

Na quarta-feira, o WikiLeaks havia denunciado que Assange fora alvo de uma operação de espionagem na embaixada equatoriana. Segundo o grupo, vídeos, áudios, fotografias, cópias de documentos legais e até mesmo um relatório médico apareceram na Espanha, onde um grupo ameaçou publicá-los a menos que recebesse € 3 milhões (R$ 12,9 milhões).

Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, disse, na ocasião, que aumentavam as tentativas de expulsar Assange da embaixada. Ele não deu provas de suas afirmações, mas apontou que a vigilância fazia parte de um complô com a intenção de conseguir extraditar Assange para os Estados Unidos.


Van da polícia britânica estaciona na frente da embaixada do Equador de Londres Foto: DANIEL LEAL-OLIVAS 11-04-2019 / AFP

Já a mulher que o acusara de estupro na Suécia, em 2010, pediu a reabertura das investigações, interrompidas em maio de 2017, três anos antes da prescrição prevista, dada a impossibilidade de avançar na apuração com ele asilado na embaixada.

— Faremos todo o possível para que os procuradores reabram a investigação sueca e que Assange seja entregue à Suécia e julgado por estupro — destacou à agência France Presse a advogada da mulher, Elisabeth Massi Fritz.

A vice-chefe da Procuradoria sueca, Eva-Marie Persson, foi encarregada de analisar o caso. Em nota, ela destacou que não tem prazo para decidir se reabre a apuração.

Ataque de helicóptero

Assange apareceu nas manchetes internacionais no início de 2010, quando o WikiLeaks publicou o vídeo de um ataque de helicópteros Apache (modelo de ataque com visão noturna e sensores sensíveis de alvo) que matou 12 civis in Bagdá, capital do Iraque, em 2007. Entre os mortos estavam dois repórteres da Reuters. O vídeo era informação confidencial do Exército americano.

Mais tarde naquele ano, o grupo divulgou mais de 90 mil documentos secretos detalhando a campanha militar liderada pelos EUA no Afeganistão, seguido por quase 400 mil relatórios militares internos dos Estados Unidos detalhando as operações no Iraque. Em seguida, mais de 250 mil telegramas confidenciais de embaixadas dos EUA vieram à tona.


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