A rede social anuncia que tomará medidas para evitar outro escândalo como o de Cambridge Analytica
Mark Zuckerberg em uma imagem de arquivo STEPHEN LAM REUTERS
Mark Zuckeberg, CEO e fundador do Facebook, deu a cara a bater. Através de uma chamada telefônica seguida de uma rodada de perguntas com os principais veículos de imprensa. O diretor começou com uma mensagem sobre o tiroteio do dia anterior na sede do YouTube: “O Vale do Silício é uma comunidade, temos muitos amigos no Google e no YouTube, estamos muito próximos de todos os afetados”, para depois entrar diretamente nos problemas de sua rede social com um pedido de desculpas: “Deveríamos ter feito mais. Não vou defender, mas vou tentar explicar. Nosso trabalho é dar ferramentas aos desenvolvedores e, aos usuários, a responsabilidade de saber o que estão compartilhando e como. Mudamos isso porque muitos estavam compartilhando sem saber direito o quê. Percebemos que podíamos fazer mais e vamos tomar esse caminho.”
Na manhã de quarta-feira, o Facebook admitiu que não foram 45 milhões, mas 87 milhões as contas afetadas pelo vazamento de dados da Cambridge Analytica, sendo 81,6% delas (70.632.350) de norte-americanos: “Poderia ser menos, mas quisemos incluir o maior número possível. Se suspeitamos, incluímos.” No Brasil, o número de afetados foi de 443.117, segundo anunciou o diretor de tecnologia da empresa, Mike Schroepfer.
Minutos antes da entrevista de Zuckeberg, o Facebook anunciou mudanças em seu sistema para evitar que a situação se repita: “O essencial é termos controle sobre nosso serviço e é nisso que estamos trabalhando. Somos uma empresa otimista. Pensamos em construir. Não basta oferecer ferramentas, também precisamos garantir que os desenvolvedores serão responsáveis e protegerão os dados.” Zuckeberg reconheceu que falta didática da parte de sua plataforma para que os usuários assumam o controle de seus perfis: “Vamos criar ferramentas para que saibam que informação estão dando. Nos dois últimos dias vimos que muitos não configuraram sua privacidade para evitar a tomada de dados.”
A Rússia e sua ingerência nas eleições foi um dos pontos mais quentes da conversa e Zuckeberg procurou ressaltar o esforço para diminuir seu impacto: “Ontem desativamos páginas russas que estão atacando seu próprio país. Queremos proteger a integridade das eleições. Nas últimas da França fomos muito cuidadosos. O mesmo aconteceu com a Alemanha. Percebemos que páginas de veículos de imprensa russos também se dedicam a envenenar e influenciar.”
Logo depois da vitória de Donald Trump em novembro de 2016, o líder da rede social disse que era loucura pensar que o Facebook teria afetado os resultados das eleições dos Estados Unidos. Agora, Zuckeberg reconheceu sua falha: “Claramente me confundi ao não avaliar o impacto das fake news. O que está claro é que, neste ponto, vamos corrigir isso com um trabalho cuidadoso e um esforço extraordinário. Deveríamos ter feito mais.”
A Europa está prestes a colocar em vigor a chamada GDPR, uma nova lei comum de proteção de dados. A pergunta foi direta: “Aceitaria a adoção dessas medidas nos Estados Unidos?” “As normas sociais são diferentes em cada país. Tentamos nos adaptar. É uma das coisas mais peculiares de administrar esta empresa. Acho muito positivo e bem construído. Não faz sentido ter uma interface de programação de aplicativos (API) que observa o comportamento de grupos ao longo do tempo”, afirmou.
Vários investidores importantes se pronunciaram para pedir a substituição de Zuckerberg à frente da empresa. À pergunta “você é a pessoa certa para segurar as rédeas do Facebook?”, respondeu com desembaraço: “Viver é aprender com os erros e saber o que deve saber para seguir em frente. A verdade é que, quando você constrói algo sem precedentes como o Facebook, vai cometer erros. Ninguém é perfeito, mas deve prestar contas e assumir responsabilidades. Milhares de milhões de pessoas usam nossos serviços. É algo de que me orgulho.”
Zuckeberg, que é especialmente cuidadoso com sua privacidade – desde pôr um adesivo sobre a câmera de seu celular até contratar um serviço de proteção pessoal –, deu alguns conselhos adicionais: “Uso muitos aplicativos. Sou um usuário muito ativo. Procuro mudar as senhas regularmente e sou cuidadoso. Muitos ataques são de engenharia social.”
As críticas a seu modelo de negócios, baseado na publicidade centrada nos gostos dos usuários, continuam presentes. “Por anos não fomos claros sobre a forma como tratamos os dados, mas, em termos de atividade, não os revendemos nem traficamos. Fomos capazes de apagar essa ideia”, lamentou. A publicidade é sua fonte de renda, mas também alvo de críticas: “Por um lado, os usuários querem ver coisas relevantes. Por outro, se incomodam com anúncios.”
As eleições de julho no México ocupam um lugar prioritário para o Facebook: “Isso é muito importante. Em 2018, México, Índia e Brasil realizam eleições. Nesses processos há três tipos de atores que desequilibram: os que divulgam spam, a polarização que se dá na imprensa e os próprios partidos e Governos. Os primeiros, os do spam e os trolls, têm interesse econômico, mas não ideológico. A imprensa tem estratégias diferentes para conseguir audiência e influência. No México temos um sistema de checagem de notícias criado especialmente para aquele país. Queremos que se confie no jornalismo que faz um trabalho limpo e profissional, de qualidade. No caso político é mais complicado. Pensamos que precisam conquistar a confiança e jogar limpo”.
Durante mais de uma hora, admitiu ter se sentido impotente no caso da ingerência russa: “Esperávamos ataques tradicionais de roubo de dados ou ataques da Rússia, mas não essa desinformação. Não soubemos prever. Foi um erro grave. A divulgação de notícias falsas através de contas falsas foi lamentável. Estamos fazendo um esforço para manter a integridade do processos eleitorais. Não existe uma receita, é algo flexível e inconstante.”
Despediu-se com um desejo: “Gostaria de poder estalar os dedos e resolver tudo. Mas como o Facebook é complexo, vamos levar anos. Prometo melhorá-lo mês a mês. No final deste ano teremos encurralado o problema. Em três anos espero que esteja resolvido.”
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