Teólogos discordam sobre sentido da declaração
O papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar, o sheik Ahmed al-Tayeb, assinaram, nesta segunda-feira (4), um documento chamado “Fraternidade em prol da paz mundial e da convivência comum“. Durante a segundo dia de sua visita aos Emirados Árabes Unidos, o líder da Igreja Católica participou de uma conferência inter-religiosa na grande Mesquita Zayed, uma das mais importantes do Islã sunita.
Ao fim do encontro, Francisco e o imã Ahmed assinaram a declaração conjunta, na qual comprometeram os esforços das duas religiões para “lutar contra o extremismo”. Sem mencionar a perseguição historicamente imposta aos cristãos pelos muçulmanos, o texto faz uma declaração genérica, pedindo “o diálogo, a compreensão, a difusão da cultura da tolerância, da aceitação do outro”.
Ambos argumentaram em prol da não violência, da paz e do desarmamento, “expressando firme oposição à utilização da religião para fins que não sejam pacíficos”, dizendo que “usar o nome de Deus para justificar o ódio e a violência contra o irmão é uma grave profanação”.
Contudo, o trecho mais polêmico do documento é o que afirma que “o pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos”.
Diferenças teológicas
O uso de “desígnio divino” gerou divisão entre teólogos católicos. Em um artigo na revista online Catholic Herald, o Dr. Chad Pecknold, professor de teologia sistemática na Universidade Católica da América, em Washington, tentou minimizar a controvérsia, dizendo que a frase deveria ser lida “em seu contexto apropriado”.
Embora admita que a passagem “é intrigante e potencialmente problemática”, defendeu que “o Santo Padre claramente não estava se referindo ao mal de muitas falsas religiões, mas positivamente se refere à diversidade de religiões somente no sentido de que eles são evidência de nosso desejo natural de conhecer a Deus”.
Contudo, ao site conservador LifeSite, um teólogo dominicano que preferiu permanecer anônimo disse que o texto controversa “em seu sentido óbvio é falso e, de fato, herético”.
“As diferentes religiões dizem coisas incompatíveis sobre quem é Deus e como Ele quer ser adorado. Portanto, elas não podem ser todas verdadeiras. Portanto, Deus, que é a verdade, não pode querer todas as religiões”, explicou.
“Mesmo a diversidade de línguas, embora originalmente fosse uma punição, foi desejada e causada por Deus”, observou o teólogo. “Mas a diversidade das religiões é devida ao pecado e, portanto, não é desejada e causada por Deus”, encerrou.
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