A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, criticou hoje o apoio dado pelo Governo brasileiro a Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela, afirmando que "o Brasil só tem a perder com esta intervenção".
"Começamos hoje na América Latina a caminhada dos conflitos que tanto repudiamos em outros continentes. Líbia, Iraque, Síria são lembranças atuais das decisões arrogantes dos Estados Unidos e dos seus parceiros políticos. O Brasil só tem a perder com esta intervenção na Venezuela", afirmou Gleisi na rede social Twitter.
A mensagem da presidente do PT surge após o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ter reconhecido Juan Guaidó, Presidente da Assembleia Nacional venezuelana, como Presidente interino da Venezuela.
"O Brasil reconhece o senhor Juan Guaidó como Presidente Encarregado [interino] da Venezuela", escreveu na plataforma social Twitter o chefe de Estado brasileiro, atualmente em Davos, na Suíça, onde participa no Fórum Económico Mundial.
Na mensagem partilhada naquela plataforma, Bolsonaro disse que a entrada em funções por Guaidó está "de acordo com a Constituição daquele país".
"O Brasil apoiará, política e economicamente, o processo de transição para que a democracia e a paz social volte à Venezuela", concluiu Jair Bolsonaro, empossado no início do ano.
O chefe de Estado brasileiro já se tinha referido anteriormente ao Governo do Presidente Nicolás Maduro como um regime ditatorial. Por sua vez, o Presidente venezuelano afirmou que o seu homólogo brasileiro é um "Hitler dos tempos modernos".
Hoffmann, que preside ao maior partido da oposição no Brasil, esteve presente, no passado dia 10 de janeiro, na tomada de posse de Nicolá Maduro como Presidente da Venezuela, tendo recebido duras críticas, inclusive da própria esquerda, por ter realizado essa viagem.
Antes de se deslocar à Venezuela, Gleisi disse que a sua presença na cerimónia de Maduro seria para denunciar "a posição agressiva do Governo de [Jair] Bolsonaro [Presidente brasileiro] contra a Venezuela", que "é contrária à tradição diplomática" do país.
A presidente do Partido dos Trabalhadores considerou ainda que seria "cobardia" e uma "concessão à direita" faltar à posse de Maduro para um segundo mandato presidencial venezuelano, não reconhecido por grande parte da comunidade internacional.
Juan Guaidó autoproclamou-se hoje Presidente interino da Venezuela, perante milhares de pessoas concentradas em Caracas.
"Levantemos a mão: Hoje, 23 de janeiro, na minha condição de presidente da Assembleia Nacional e perante Deus todo-poderoso e a Constituição, juro assumir as competências do executivo nacional, como Presidente Encarregado da Venezuela, para conseguir o fim da usurpação [da Presidência da República], um Governo de transição e eleições livres", declarou.
Para Juan Guaidó, "não se trata de fazer nada paralelo", já que tem "o apoio da gente nas ruas".
O engenheiro mecânico de 35 anos tornou-se rapidamente o rosto da oposição venezuelana ao assumir, a 03 de janeiro, a presidência da Assembleia Nacional, única instituição à margem do regime vigente no país.
Nicolás Maduro iniciou a 10 de janeiro o seu segundo mandato de seis anos como Presidente da Venezuela, após uma vitória eleitoral cuja legitimidade não foi reconhecida nem pela oposição, nem pela comunidade internacional.
A 15 de janeiro, numa coluna de opinião publicada no diário norte-americano The Washington Post, Juan Guaidó invocou artigos da Constituição que instam os venezuelanos a rejeitar os regimes que não respeitem os valores democráticos, declarando-se "em condições e disposto a ocupar as funções de Presidente interino com o objetivo de organizar eleições livres e justas".
Os Estados Unidos, o Canadá, a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Brasil, a Colômbia, o Peru, o Paraguai, o Equador, o Chile e a Costa Rica também já reconheceram Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela.
Até agora, só o México anunciou que se mantém ao lado de Nicolás Maduro.
A Venezuela enfrenta uma grave crise política e económica que levou 2,3 milhões de pessoas a fugir do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Esta crise num país outrora rico, graças às suas reservas de petróleo, está a provocar carências alimentares e de medicamentos.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação deverá atingir 10.000.000% em 2019.
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