Doug Mesner, mais conhecido pelo nome artístico de Lucien Greaves, é co-fundador e porta-voz do Templo Satânico, um grupo de ativistas que vem ganhando notoriedade nos Estados Unidos. Usando a legislação atual, eles defendem que todas as religiões devem ser tratadas da mesma forma pelo Estado, logo podem “ocupar” os mesmos espaços do cristianismo.
No início, lutavam para que imagens satanistas fossem exibidas ao lado de símbolos cristãos em lugares públicos, especialmente na época de festas religiosas como Páscoa e Natal. Em seguida, passaram a exigir autorização para distribuir literatura sobre satanismo para as crianças, alegando que em várias escolas os alunos recebiam Novos Testamentos de grupos como o Gideões Internacionais.
Mais recentemente, conquistaram o direito de fazer uma invocação a Lúcifer em reuniões de órgãos públicos, onde antes apenas os cristãos faziam orações. Sendo este um ano eleitoral, estão apoiando explicitamente candidatos que poderão representá-los no Senado. Fizeram inclusive passeatas pró-aborto em algumas cidades onde havia protestos de grupos pró-vida.
Seu passo mais ousado vem agora, com a proposta de oferecer “After School Satan”, um programa educacional que seria uma maneira de espalhar seus ensinamentos nas escolas de ensino fundamental. Em suma, eles querem ganhar espaço na educação pública, alegando que a separação constitucional entre igreja e estado não permite que apenas a religião majoritária (cristianismo) seja ensinada.
“É fundamental que as crianças compreendam que existem múltiplas perspectivas sobre todas as questões, e que elas têm uma escolha”, defende Doug Mesner, um dos líderes do Templo Satânico de Nova York. A primeira tentativa será feita em New York, Boston, Minneapolis, Detroit, San Jose, New Orleans, Pittsburgh, além de cidades na Florida, no Utah e no Arizona.
O vídeo promocional, que mais parece o trailer do filme de terror dá destaque às palavras como “racionalismo”, “pensamento livre” e “diversão”. É possível ver imagens da estátua de Baphomet, símbolo do movimento, ladeada por crianças.
Ele promove também o site do projeto que apresenta uma série de argumentos políticos e ideológicos para equiparar Satanás a Jesus como representação de uma crença. Ou ausência dela, já que oficialmente os membros do Templo Satânico afirmem ser ateus. Em seu site, eles dizem que são defensores da “visão de que a racionalidade científica fornece a melhor medida da realidade”.
Afirmam ainda não defenderem a crença na existência de um ser sobrenatural que outras religiões identificam solenemente como Satanás ou Lúcifer, ou Belzebu. Mesner justifica que a adoção do nome por seu grupo deriva do entendimento que Satã é apenas uma “construção metafórica”, que possui “a intenção de representar a rejeição de todas as formas de tirania sobre a mente humana”.
O currículo para os clubes escolares satanistas serviria como um tipo de contra turno, onde seriam desenvolvidos “o raciocínio e as habilidades sociais”. O grupo diz que suas reuniões incluem um lanche saudável, leitura de material satanista, atividades de aprendizagem criativas, aulas de ciências, brincadeiras e projeto de arte. Cada criança receberá um cartão de membro e precisaria da autorização dos pais para participar.
Governo ainda não autorizou
Essa ênfase em múltiplas perspectivas é baseada no que eles identificam como seu verdadeiro inimigo. O grupo irá lançar os clubes apenas nas escolas que já oferecem um programa evangélico de reforço escolar chamado “Clube das Boas Novas”.
Eles são patrocinados nos Estados Unidos pela Child Evangelism Fellowship (APEC, no Brasil), que desde 1937 investem na evangelização de crianças. Populares durante muitos anos, o “Clube das Boas Novas” começou a ser excluído da maioria das escolas públicas após alegações que sua existência violava a Constituição. Atualmente existem cerca de 3500 espalhados pelo país.
Em 2001, o caso chegou à Corte Suprema dos Estados Unidos. A decisão do tribunal considerou que sua existência era garantida pelos direitos à liberdade de expressão. O Templo Satânico usa essa mesma abordagem para que requerer a aceitação do “After School Satan”.
Curiosamente, a proposta dos satanistas está ganhando apoio de pessoas que não se identificam com sua ideologia, mas defendem a necessidade de “diversidade” em sala de aula.
Amy Jensen, pedagoga com mestrado na área de formação de currículo pela Universidade de Denver, decidiu iniciar um desses projetos na cidade de Tucson, Arizona, onde mora. Ela defende que os materiais preparados pelos satanistas “incentivam a benevolência e empatia entre todos os povos, além de defender o bom senso”. Para Jensen, isso é mais benéfico do que o material cristão. “Eles ensinam o medo e o ódio contra as outras pessoas”, sentencia.
Como o sistema político dos EUA é diferente do Brasil, cada Estado terá de avaliar as propostas separadamente. Até o momento, nenhum deles autorizou o Templo Satânico a iniciar as atividades. Isso deverá ser divulgado nas próximas semanas, uma vez que o ano letivo no América do Norte só inicia no final de agosto.
Curiosamente, no site do Washington Post existe uma pesquisa interativa e, no momento, 52% dos leitores acreditam que o projeto do “After School Satan” deveria ser implantado nas escolas públicas.
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