Por , iG São Paulo
Ideia de instituto é erguer obra no mesmo local que abrigou o Primeiro Templo, em Israel; no Brasil, rabinos atacam iniciativa
Reconstruir o Templo de Salomão não é ideia exclusiva da Igreja
Universal do Reino de Deus. Composto por judeus ortodoxos, o Instituto
do Templo, sediado em Israel, tem feito grandes esforços para erguer o
Terceiro Templo Sagrado da religião no mesmo local onde teria existido a
construção original – o Monte Moriá, de acordo com a narrativa do
Antigo Testamento. E não é só uma ideia jogada: já existem plantas
feitas por arquitetos especializados na Torá (conjunto de livros
sagrados do judaísmo), lista de materiais a serem usados na obra e até
estratégia completa para arrecadar doações – atualmente em quase US$ 65
mil.
Entretanto, assim como a construção orçada em R$ 680 milhões
promovida pelo bispo Edir Macedo, o templo dos ortodoxos israelenses
também é alvo de críticas. E de seus próprios pares. Ao menos foi assim
que expuseram ao iG o tema representantes da comunidade
judaica no Brasil, que parecem unânimes ao se dizerem totalmente contra
a possibilidade da construção de um edifício semelhante ao da Universal
para a sua religião em Israel.
“O judaísmo é completamente contra a construção de um
templo”, afirma o rabino Alon (o nome foi trocado a pedido do
entrevistado). “Isso porque o Templo, principalmente esse terceiro, não é
uma construção para vir das mãos do ser humano. O que se acredita é que
ele virá pronto do céu. Nós, homens, não temos que nos envolver com
isso.”
Também conhecido como Primeiro Templo ou Templo de Jerusalém (Beit
Hamikdash, em hebraico), o templo original foi erguido pelo Rei Salomão
no longínquo século IX A.C., em Jerusalém. O objetivo principal do
espaço era guardar a Arca da Aliança que protegia os Dez Mandamentos –
ou tábuas da lei, conjunto de regras básicas passadas por Deus a Moisés
durante o êxodo judaico do Egito. A Universal, por sinal, inseriu em seu
edifício uma réplica de como a arca era descrita, em uma das inúmeras
“inspirações” para seu mega-monumento.
Veja anúncio sobre a construção do Templo em Jerusalém:
Mas a tradição judaica
acredita que o aguardado Terceiro Templo - o sucessor do Templo de
Heródes, destruído em 70 D.C. - só poderá surgir com a vinda ao mundo do
Messias (o escolhido, em hebraico), um descendente direto do Rei David
que o reconstruiria e levaria judeus espalhados em todo o mundo a se
reunirem na Terra de Israel.
“Não adianta se construir um templo sem ter toda a
união do povo judeu. Seria forçar uma situação superficial porque o
templo em si não é a estrutura física, mas o que ele representa, que é a
união total do povo judeu. O mashiach [messias] tem de vir antes para,
assim, o templo descer do céu”, explica outro rabino ortodoxo, Dvir, que
também pediu para não ter seu verdadeiro nome identificado. É o mesmo
posicionamento da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp), que
congrega instituições judaicas de todo o Estado. “É uma construção
divina. Em Israel temos judeus mais ortodoxos e outros menos ortodoxos,
cada um com a sua visão. Mas sem entrarmos na Era Messiânica o templo
simplesmente não deve existir”, diz Ricardo Berkiensztat,
vice-presidente-executivo da entidade.
O Instituto que prega a construção do Terceiro Templo tem uma visão
diferente e chama de mito a ideia de que o edifício descerá
milagrosamente do céu. Para o Rabino Yisrael Ariel, fundador do grupo
que existe há quase 30 e atualmente mantém um museu sobre a história dos
monumentos sagrados em Jerusalém, existe uma visão deturpada da religão
a respeito do tema. “Ao longo do tempo em que investi em meus estudos
descobri que as expectativas sobre o templo estavam simplesmente
erradas”, afirma ele no site oficial do grupo. “Deus não tem a pretensão
de que esperemos por um dia de milagres: a expectativa é de que ajamos
por conta própria.”
Veja rabino que quer construir templo em Israel criticando Igreja Universal:
Em vídeo divulgado quando do anúncio da construção da réplica do
Templo de Salomão em São Paulo, o diretor do departamento internacional
do instituto, Rabino Chaim Richman, foi bastante crítico em relação aos
planos da Igreja Universal do Reino de Deus. Para ele, a obra de
orçamento astronômico – R$ 680 milhões – “sequestraria o conceito mais
profundo do Templo Sagrado judaico e do que ele significa a Israel”.
“Para quem esse templo está sendo construído? Quem será nele
verdadeiramente cultuado? Isso corrompe totalmente a santidade do Templo
Sagrado”, disse na ocasião.
Em nota, a Universal afirma compartilhar com o povo de Israel “a
esperança de que o tão aguardado Terceiro Templo seja construído em
Jerusalém” e ressaltou o fato de nunca ter tido como objetivo de
“comparar ou transferir a santidade e a importância” do edifício
original para sua obra na capital paulista: “A Universal respeita a
opinião do Instituto do Templo, contudo ressalta que tal posição não é
compartilhada por inúmeros membros das comunidades judaicas brasileira e
internacional. Prova é que contamos com a presença de vários
representantes de Israel e do povo judeu na inauguração oficial do
Templo de Salomão e em outras ocasiões”.
Atualmente, a meta do instituto é atingir US$ 100 mil em doações para
se chegar aos US$ 300 mil necessários para o encerramento da fase
inicial do projeto, que inclui um completo detalhamento dos planos para
quando o templo iniciar sua construção. No entanto, além do desafio
financeiro e da crítica de parte da comunidade judaica, o grupo ainda
terá de enfrentar outros obstáculos se quiser atingir seu objetivo. Um
deles, e talvez o maior, é o fato de o Monte Moriá, onde pretendem
construí-lo, atualmente abrigar a Mesquita de Al-Aqsa, a maior de
Jerusalém e o terceiro lugar mais sagrado do islamismo. O iG contatou o instituto mas não obteve um posicionamento até o fechamento desta reportagem.
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