O especialista em
política internacional Miguel Monjardino defendeu hoje que o líder russo
tem de decidir rapidamente o que vai fazer face aos resultados do
referendo da Crimeia, já que isso vai mudar a História da Europa.
Mundo
Lusa
"A opção da Rússia tem que ser tomada nos próximos dias",
afirmou em declarações à Lusa, explicando que, se a opção for pela
anexação da Crimeia, é "perfeitamente possível que estejamos a entrar
num período bastante diferente daquele que conhecemos nos últimos 25
anos, do ponto de vista de segurança e política europeia".
Face aos resultados do referendo de domingo na Crimeia, que
apresentou um esmagador 'sim' à união com a Rússia, o investigador do
Instituto Estudos políticos Universidade Católica portuguesa sublinha
que o Presidente russo tem agora três hipóteses.
"A primeira é não fazer nada, ou seja, os russos na Crimeia votaram
neste referendo, querem ser russos, mas o Kremlin decide não fazer
nada", referiu Miguel Monjardino, considerando esta possibilidade como
"improvável, tendo em conta a onda emocional que a sociedade russa sente
em relação a este assunto".
A segunda hipótese, adiantou, é Vladimir Putin "aceitar um estatuto
especial ambíguo que permita à Rússia, de facto, controlar a Crimeia -
coisa que já fazia por via do acordo que deu origem à independência da
Ucrânia em 1991 --, mas a Crimeia continuar formalmente como território
ucraniano".
Esta é uma opção que o especialista em política internacional vê como
"uma escada dada [pelos negociadores estrangeiros] a Putin e que
permita que ele desça um pouco o perigo que esta crise pode
representar".
A terceira hipótese é "aceitar a anexação do território da Crimeia na
Rússia -- embora não seja provavelmente legal do ponto de vista do
Direito Internacional -- e avançar para a desestabilização interna da
Ucrânia, especialmente no leste do país", descreveu Monjardino.
Esta última possibilidade é "a mais perigosa" e dará "quase inevitavelmente lugar a operações militares no leste da Ucrânia".
Caso a situação derrape para uma guerra, o professor da Universidade
Católica acredita que "só envolverá russos e ucranianos" e sublinha que
ninguém sabe como reagirá a sociedade ucraniana se houver uma
intervenção mais visível de forças armadas russas no leste do país.
No entanto, apesar de rejeitar qualquer hipótese de os países da
União Europeia ou da Aliança Atlântica (NATO) se envolverem nas
operações no terreno, Miguel Monjardino chama a atenção para as mudanças
que surgirão inevitavelmente.
"Toda a segurança, política e economia europeia baseia-se no
pressuposto de que certas coisas já não acontecem no território europeu.
E esta é uma delas: o uso da força armada para conquistar território de
um país", afirmou.
Para Miguel Monjardino, a possibilidade de este cenário passar a existir na Europa, levanta várias questões.
"Como é que as sociedades europeias, principalmente junto à Rússia,
se adaptam? E para que serve então a União Europeia e a NATO? Tudo isto
vai levantar problemas muito diferentes e provavelmente respostas muito
diferentes daquelas que nos habituámos", referiu, lembrando que as
respostas a estas questões são as que irão ter consequências reais para
os portugueses.
"Nós estamos longe, a maioria da população não vê isto [a Crimeia]
como um grande problema, mas as duas instituições vitais para toda a
estratégia nacional portuguesa são a União Europeia e a NATO. Tudo o que
ponha em causa a sua credibilidade é mau para Portugal", concluiu.
FONTE:
http://www.noticiasaominuto.com/mundo/189571/proxima-decisao-de-putin-vai-mudar-a-historia#.Uyb_AM7N29s
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