Os habitantes da Crimeia decidem em referendo sobre o futuro da península. Segundo a mídia ucraniana, votação está sendo manipulada por Moscou. Diante da tensão, Rússia e Ucrânia aprovam cessar-fogo
O
controverso referendo na República Autônoma da Crimeia sobre uma
anexação à Rússia transcorre sem incidentes neste domingo (16/03),
informaram as autoridades da península no Mar Negro. No entanto, diante
da tensão na península, Rússia e Ucrânia acertaram um cessar-fogo que
deverá valer ao menos até a próxima sexta-feira, declarou neste domingo
em Kiev o ministro ucraniano da Defesa, Ihor Tenyukh.
De acordo com o ministro, até a próxima sexta-feira os
soldados russos estacionados na Crimeia não vão atacar bases militares
ucranianas. A Rússia prometeu ainda suspender temporariamente o bloqueio
a bases militares ucranianas na Crimeia.
Por sua vez, o chefe de governo pró-russo da região,
Serguei Aksyonovo, declarou na TV russa que a participação eleitoral no
referendo para definir o futuro da Crimeia giraria em torno de 50%. Após
o fechamento dos locais de votação, previsto para 20h (15h em
Brasília), os primeiros resultados estão sendo esperados ainda para a
noite deste domingo.
Os chefes das mesas de votação de diferentes regiões
informaram que muitos membros da minoria tártara também estariam
participando do referendo. Anteriormente, a comunidade dos tártaros,
tradicionalmente pró-Ucrânia, conclamou ao boicote.
De acordo com a mídia ucraniana, a votação estaria sendo
manipulada pela Rússia. Muitos cidadãos russos, que não estariam
inscritos nas listas eleitorais, teriam sido transportados de avião para
votar no referendo.
Referendo pró-russo
A cédula eleitoral mostra que o referendo possui uma
clara linha pró-Rússia. A primeira pergunta na cédula eleitoral é: "Você
é a favor da reunificação da Crimeia com a Rússia como uma entidade
jurídica da Federação Russa?", ou seja, a favor de que a Crimeia se
junte à Rússia. A segunda pergunta não aponta para uma alternativa
clara: "Você é a favor da restauração da Constituição da República de
1992 e do status da Crimeia como parte da Ucrânia?".
A possibilidade de votar a favor da permanência junto à
Ucrânia sem uma restauração da Constituição de 1992 – ou seja, para o
Estado antes da crise – não foi dada aos moradores da Crimeia. A
Constituição de 1992 surgiu na época da dissolução da União Soviética e
incluiu a possibilidade da realização de um referendo sobre a
independência da Crimeia. Pouco tempo depois de ser outorgada, essa
Constituição foi anulada.
Aparentemente, o referendo será decidido por maioria
simples, ou seja, metade dos votos mais um. Aliado ao fato de 60% dos
habitantes da Crimeia serem de origem russa, isso torna o resultado
facilmente previsível.
Votação em trâmite de urgência
As cerca de 1,8 milhão de pessoas aptas a votar no
referendo da Crimeia não tiveram muito tempo para pensar sobre a sua
decisão de voto. Há duas semanas, no dia 27 de fevereiro, o Parlamento
da Crimeia – sob vigilância russa – anunciou a realização do referendo
para o dia 25 de maio. Ele deveria acontecer concomitantemente às
eleições presidenciais na Ucrânia.
No dia 1° de março, o novo primeiro-ministro ucraniano,
Serguei Aksyonov, que havia sido empossado na sessão de 27 de fevereiro,
anunciou que o referendo já deveria acontecer em 30 de março. No dia 6
de março, o Parlamento da Crimeia decidiu uma nova mudança e então o
referendo foi antecipado para 16 de março.
Anexação quase certa
Nos dias que antecederam o referendo, formaram-se longas
filas em frente aos caixas eletrônicos, principalmente na capital da
Crimeia, Simferopol, porque muitos clientes queriam retirar cédulas
ucranianas. Nas ruas, via-se um grande número de homens armados.
De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, até 22
mil soldados russos estariam atualmente presentes na região. Como disse o
chefe de governo em Moscou, Vladimir Putin, eles devem garantir a
segurança da população de etnia russa.
Neste domingo, a Crimeia abriu os 1.200 locais de
votação às 8h (hora local) sob forte esquema de segurança. A liderança
pró-russa da Crimeia espera o apoio de mais de 80% dos eleitores para
uma anexação à Rússia.
A Ucrânia e o Ocidente não reconhecem o referendo. Eles
consideram a votação uma violação do direito internacional. A Rússia
pretende incorporar a península no Mar Negro, independente das ameaças
de sanções do Ocidente.
História conturbada
Até agora, a República Autônoma da Crimeia fez parte da
ex-república soviética Ucrânia. Em 1954, ela foi incorporada ao país
dentro da União Soviética pelo então chefe do Kremlin, Nikita Kruschev.
Para justificar o referendo, Moscou sublinhou o direito de
autodeterminação da população da Crimeia de maioria russa, pretendo
assim impor uma "volta" da península à pátria. Há mais de 200 anos,
Sebastopol, cidade portuária da Crimeia, é sede da frota russa do Mar
Negro.
Até o fim do século 19, a maioria da população da
península era formada por tártaros da Crimeia, de religião muçulmana, e
por uma pequena parte de russos e ucranianos.
Stalin deportou a maior parte dos tártaros para a Ásia
Central, substituindo-os por russos. Somente após a virada política na
década de 1980, alguns tártaros da Crimeia voltaram para a sua terra
natal. No início deste século, a sua porcentagem na população girava em
torno dos 12%, enquanto os russos perfaziam 60% e os ucranianos, 25%.
FONTE:
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/midia-ucraniana-diz-que-russos-manipulam-referendo-na-crimeia,2b506996723c4410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html
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