Até o primeiro-ministro Shinzo Abe, que se manifestava
anteriormente a favor do regresso à utilização de centrais atômicas, se
pronunciou pelo estudo dessa questão.
A ideia de
renunciar à energia nuclear é popular no Japão podendo permitir agora
ganhar um capital político. Na realidade, contudo, não será muito fácil
recusar-se a usinas atômicas e isso não depende apenas da energia, diz
Dmitri Streltsov, orientalista russo e professor do Instituto de
Relações Internacionais de Moscou:
“A energia atômica
não pode ser vista no Japão só no contexto de sua utilização pacífica
para gerar energia comum. Trata-se também de um certo potencial
militar-técnico, embora a direção política não levante essa questão. Não
é casual que o Japão optou pela via de desenvolvimento do setor da
energia atômica à base de combustível misto, na cuja utilização se
produzem materiais físseis aptos para a criação de armas atômicas”.
Os
japoneses não admitiram em 2011 liquidadores estrangeiros à usina
nuclear de Fukushima 1. Tal posição surpreendeu muitos peritos, gerando
diferentes versões, inclusive a seguinte: os estrangeiros não foram
admitidos à central de Fukushima 1, porque ali poderiam encontrar-se
reservas de plutônio que pode ser facilmente transformado em plutónio
militar.
Esta versão deixa de parecer irreal, se
lembrarmos, por exemplo, de um comunicado publicado em 6 de junho de
2002 no jornal Yomiuri, no qual se cita a declaração do então governador
de Tóquio, Shintaro Ishihara, de que “o Japão dispõe de armas
nucleares”. Este comunicado foi retirado do site do jornal, mas foi conservado por um blogueiro japonês. Transcrevemos o texto integral do comunicado:
“O governador da capital Ishihara encorajou o secretário do gabinete de ministros.
Em
6 de junho (de 2002), tornou-se conhecido que o governador de Tóquio,
Shintaro Ishihara, apoiou em conversa telefônica o secretário do
gabinete de ministros Fukuda a respeito de “três princípios
anti-nucleares”.
Segundo uma fonte, Ishihara ressaltou
que “o Japão dispõe de armas nucleares” e concedeu ao secretário Fukuda
materiais de que o país tem armas nucleares. 6 de junho (de 2002).
12:24”.
O governo do Japão começou a discutir seriamente
a questão sobre o desenvolvimento de suas próprias armas nucleares após
a China ter efetuado em 1964 seu primeiro teste nuclear, faz lembrar
Streltsov. O fato de o Japão ter sido um dos últimos grandes países a
ratificar o tratado da não-proliferação de armas atômicas, só em 1976,
testemunha que a luta em torno dessa questão foi intensa.
No
entanto, Dmitri Streltsov aconselha a não confiar muito na versão de
que na central de Fukushima teria sido armazenado plutônio militar:
“A
sociedade civil no Japão é bastante forte, existem várias formas de
controle e, apesar do caráter secreto, é difícil esconder tal
informação. Por isso, custa acreditar que o governo japonês possa
acumular plutônio militar.
Ao mesmo tempo é evidente
que o Japão tem materiais físseis, tecnologias e potencialidades de
produção de armas nucleares. E o governo irá mantê-las em estado eficaz
em quaisquer condições independentemente se for conservado ou não o
setor da energia atômica, para que seja possível reorientar-se
rapidamente em situação crítica”.
No Japão há forças
políticas influentes que se manifestam pela renúncia oficial aos três
princípios anti-nucleares: não possuir, não fabricar e não importar
armas nucleares. No entanto, Dmitri Streltsov não acredita que o Japão
possa optar por este caminho:
“Os japoneses reagem
negativamente às armas nucleares e não haverá quaisquer mudanças
radicais nessa posição, porque os japoneses entendem bem que a posse de
armas nucleares não dá quaisquer garantias de segurança”.
Por
isso, em opinião do perito russo, é pouco provável que o problema de
posse de armas atômicas seja posto na agenda do Japão num futuro
próximo, mesmo levando em consideração todas as alterações geopolíticas,
inclusive o pioramento brusco das relações com a China.
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