Presidente dos EUA, Barack Obama Foto: Kevin Lamarque / Reuters
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Washington é, às vezes, uma cidade fria e cruel, como
pode atestar qualquer pessoa que esteja na capital americana neste mês
de janeiro. Ninguém sente isso mais fortemente do que Barack Obama, que
se prepara, nesta terça-feira, para seu sexto discurso do Estado da
União.
O presidente americano ainda tem três anos de governo,
mas todos em Washington já estão de olho em quem o substituirá, nas
eleições de 2016, e no desfecho das eleições legislativas deste ano. À
medida que o tempo passa, diminuem as chances de que Obama consiga
concretizar algum grande projeto no que resta de seu mandato.
No discurso do Estado da União de 2013, o presidente
prometeu agir em três questões importantes: imigração, armas e meio
ambiente.
Até o momento, porém, não foram aprovadas leis em nenhuma dessas questões.
Dividido, o Congresso americano bloqueou qualquer
tentativa de aprovar projetos que permitissem a imigrantes irregulares
permanecer legalmente nos Estados Unidos, que aumentassem as restrições a
vendas de armas ou que expandissem controles ambientais.
É uma diferença brutal em relação a 2009, quando o jovem
e carismático Obama chegou à Casa Branca, em meio a grandes
expectativas. Naquela época, todos seus discursos eram admirados. Agora,
a pergunta a respeito do Estado da União de 2014 é: será que alguém
ainda está escutando?
'Emperrado'
O presidente tenta não perder o ímpeto, mas parece emperrado.
O presidente tenta não perder o ímpeto, mas parece emperrado.
E, ainda que a Casa Branca tente, não pode atribuir ao
Partido Republicano a culpa por todos seus infortúnios. Afinal, no final
das contas, foi um pequeno grupo de senadores democratas que impediu a
aprovação de leis de controle de armas. Por que Obama não os convocou e
os instou a votar como queria?
A resposta disso está na pequena margem de manobra de que Obama dispõe.
Sem ter cortejado o Congresso - nem republicanos, nem
democratas -, ele tem pouco capital político no Legislativo. E convencer
as pessoas a fazer coisas que elas não querem é muito mais difícil
quando você não investiu energia em tê-las ao seu lado.
As pessoas bem-informadas de Washington - pessoas que
trabalharam na Casa Branca e jornalistas que cobrem o tema - dizem a
mesma coisa: Obama tem problemas de relacionamento, em casa e no
exterior.
E, num momento em que sua Presidência parece estagnada domesticamente, os EUA parecem estar se retraindo internacionalmente.
A credibilidade de Obama na Europa está em queda, ante
as revelações de espionagem de líderes estrangeiros pela NSA (agência de
segurança nacional). Há preocupações no Oriente Médio de que o atual
governo americano estaria tentando afastar-se da região o mais rápido
possível (a Casa Branca nega isso com veemência e cita esforços
diplomáticos no Irã, na Síria e no processo de paz do Oriente Médio, mas
a percepção entre líderes árabes é negativa).
Um especialista em Oriente Médio que acaba de voltar de
Riad (Arábia Saudita) disse à BBC que os árabes se sentem negligenciados
porque os Estados Unidos não os consultam ao decidir suas políticas.
Enfraquecimento
E levando em conta ainda os erros de manejo na questão sobre o ataque ou não à Síria e as confusões envolvendo o site do Obamacare, é fácil concluir que Obama faz o discurso do Estado da União em uma posição mais fraca do que estava um ano atrás.
E levando em conta ainda os erros de manejo na questão sobre o ataque ou não à Síria e as confusões envolvendo o site do Obamacare, é fácil concluir que Obama faz o discurso do Estado da União em uma posição mais fraca do que estava um ano atrás.
Seu consolo é que os republicanos estão em uma posição
mais fraca ainda. Os índices de aprovação do partido são mais baixos que
os do próprio presidente, ante as dificuldades dos republicanos em
dialogar com os públicos feminino, hispânico e afro-americano (todos
importantes grupos eleitorais).
E, no que diz respeito à desigualdade de renda - algo
que deve ocupar grande parte do tempo de Obama neste ano -, os
republicanos têm dificuldades em inventar ideias que vão além de
"cortemos impostos".
Isso dá ao presidente um pouco mais de tempo, que pode
ser usado para ações práticas nos próximos seis meses - que é
basicamente o espaço de tempo que ele terá antes que as eleições
legislativas de novembro impossibilitem qualquer iniciativa concreta.
Analistas creem que duas coisas podem ser feitas neste
ano: primeiro, pode haver algum tipo (ainda que não muito abrangente) de
reforma migratória; segundo, Obama pode usar seus poderes presidenciais
para passar por cima do Congresso e tentar aumentar o salário mínimo,
para ajudar a diminuir o abismo entre ricos e pobres.
É muito menos do que a abordagem "vamos mudar o mundo"
de seu primeiro mandato. Mas os últimos seis anos suavizaram o idealismo
de Obama. O homem que falará perante o Congresso nesta terça-feira é
bem mais pragmático.
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