A parceria nem foi feita também para render a troca de
experiências entre os cientistas, como forma de avanços no conhecimento,
sobretudo por parte dos brasileiros. O negócio firmado, segundo a Agência Espacial
Brasileira (AEB), é apenas isso: o Brasil entra com a infraestrutura do
Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA) e a Ucrânia com o veículo
Cyclone-4. Com exceção das cargas úteis dos sócios, a geração de receita da empresa terá que vir do lançamento de satélites de outros países.
Além de “nem ser científico nem de transferência de tecnologia,
mas sim comercial”, como já disse o José Monserrat Filho, chefe da
assessoria internacional da AEB, o projeto sofre atrasos normais em se
tratando de dois países complicados, desorganizados e com dificuldades
de caixa. Ou seja, não resulta em aproveitamento de experiências, e nem
resultou em faturamento ainda.
A estrutura de lançamento
de Alcântara ainda está em reconstrução, desde a explosão, em 2003, do
Veículo Lançador de Satélites (VLS 1) dias antes do lançamento (morreram
21 técnicos). A AEB calcula que faltam 50% das obras.
A
Ucrânia, da sua parte, não terminou o desenvolvimento e construção do
Cyclone-4, restando 20% para a sua conclusão, já admitiu Serguei
Guchenkov, diretor comercial da ACS.
Para
2015, a empresa aposta no primeiro voo comercial a partir da base de
lançamento do Maranhão. Duas empresas, uma japonesa e outra italiana, já
teriam assinado contratos para lançar satélites, segundo a empresa
binacional.
Neste início de 2014, pode-se colocar uma
primeira interrogação aos dois parceiros. O Brasil irá conseguir fazer a
sua parte, vivendo com um deficit público nas alturas e tendo o governo
que tirar de um bolso para colocar em outros mais prioritários? A
resposta é duvidosa, ainda mais com Copa do Mundo e as eleições
consumindo recursos adicionais em ações mais eleitoralistas. E a
Ucrânia, falida e experimentando uma grave crise política, conseguirá
terminar seu foguete?
É melhor não apostar.
Outras dúvidas são mais antigas e vêm desde a assinatura do acordo. São de ordem tecnológica e de mercado.
No
primeiro caso, os especialistas rejeitam a qualidade do combustível do
Cyclone, altamente tóxico, o que teria motivado sua retirada nos
lançamentos espaciais europeus, e também acreditam que o engenho seja
pequeno demais, o que limita as suas futuras missões a lançamentos de um
número bem reduzido de satélites em termos de finalidade.
No
segundo, o impeditivo serão os custos elevados diante de concorrentes
mais confiáveis e muito mais baratos - a Rússia e até a China. Para
André Mileski, editor do blog Panorama Espacial e editor-adjunto da
revista Tecnologia&Defesa, por exemplo, se e quando o Cyclone-4
subir levando alguma carga, não sairá por menos de US$ 50 milhões. A
competição internacional hoje se dá em patamares bem abaixo disso.
O
conjunto dos trabalhos anularia, assim, a vantagem que o CLA oferece em
termos de localização. A 2° ao sul da Linha do Equador, com a maior
velocidade de rotação da Terra, o impulso natural para o voo do foguete é
maior, com boa economia de combustível. Também oferece a possibilidade
de realizar lançamentos para qualquer direção e em qualquer estação do
ano. Por fim, com um mar à frente, o seguro é menor, já que os estágios
do foguete (ou em caso de desastre total no voo inicial) não cairão em
áreas populosas.
A base francesa de Kourou, na Guiana
Francesa, a 5° ao norte do Equador, utilizada pelas agências espaciais
europeia e francesa, além da companhia Arianespace SA, é a única
concorrente mais atraente em termos geográficos, ainda assim longe das
condições de Alcântara.
Enquanto não se dá o
aproveitamento comercial da base brasileira, nem com o parceiro atual,
nem com outros que mais teriam a oferecer, o programa nacional anda de
lado. Depois da tragédia do VLS 1, a agência estatal anunciou uma
consultoria com a Rússia para o recomeço do projeto. Mas nunca foi
apresentado nada porque não existe.
Tanto que o
ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, esteve no Brasil no segundo
semestre de 2013, reforçou a intenção do país colaborar com o Brasil
nessa área, mas não fez nenhuma menção a algum acordo concreto em
andamento ou em negociação.
O que há de parceria entre
os dois países está no âmbito do Glonass, o sistema de navegação via
satélite russo, que usa uma base de rastreamento instalada no campus da
Universidade Federal de Brasília.
E enquanto isso, o
Brasil enterrou R$ 160 milhões no desenvolvimento de um satélite para
estudar a situação do desmatamento que estava embarcado no foguete
chinês que explodiu minutos depois de ser lançado em dezembro último.
Os fatos citados são de responsabilidade do autor
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