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As conversas sobre a segmentação e
desintegração da Internet em domínios nacionais não são novas. A empresa
antivírus russa Laboratório Kasperski publicou um prognóstico
semelhante a este propósito.
Porém, por enquanto, nada
ameaça a integridade da Internet, considera Fiodor Smirnov, secretário
da secção russa da organização internacional Internet Society (ISOC
Russia Chapter):
"Não observamos uma fragmentação
crescente da Internet. Pelo contrário, a rede global foi e continua a
ser um espaço que une diferentes línguas, culturas, tecnologias e visões
do mundo. Recentemente, o consórcio internacional ICAN, que gere o
sistema de endereços na Internet, alterou a sua palavra de ordem, que
soa assim: One world one Internet (Um mundo, uma Internet). Esta posição
torna-se cada vez mais visível também na esfera da regulamentação da
Internet. Por outras palavras, pensamos que, hoje, a Internet adquire em
cada país traços nacionais específicos. E este é um processo muito
natural. Mas, ao mesmo tempo, conservar-se-á o meio global, tanto no
plano técnico, como no plano informativo”.
Há exemplos
de realização tecnológica de Internet com características marcadamente
nacionais. Por exemplo, a Internet chinesa. A grande firewall chinesa.
Mas, segundo o perito, não existem premissas para que o mundo avance
nessa direção. Além disso, com o desenvolvimento da computação em nuvem,
torna-se cada vez mais complicado fechar a informação.
Porém,
há outras opiniões. Alguns peritos consideram que, com o aumento da
ameaça à segurança na Rede, a tendência para o isolacionismo na Internet
vai aumentar. E isto, por sua vez, conduzirá ao desenvolvimento de darknets criadas por criminosos cibernéticos com servidores anónimos e acesso através de palavras-passe especiais.
Ao
falar das perspetivas de desintegração da Internet, não se pode
esquecer que ela já é significativamente limitada, nomeadamente pelas
legislações nacionais. Hoje, nem todos os serviços estão acessíveis nas
várias partes do mundo, constata Anton Merkulov, perito em Internet:
“Na
realidade, a Internet está há muito tempo segmentada, porque, se
pegarmos na lei sobre direitos de autor, que é diferente nos diversos
países, os utilizadores já sabem que não podem recorrer a muitos
serviços americanos e ingleses. E se saírem da Federação da Rússia e
tentarem ver um filme russo legalmente, comunicam-vos que esse conteúdo
está acessível apenas no território da Federação da Rússia”.
Há
alguns anos atrás, a perspetiva de segmentação da Internet parecia
muito pouco provável, considera Ekaterina Aksionova, diretora-geral da
empresa de criação de sítios Strateg, em declarações à Voz da Rússia.
Hoje, não existem apenas sub-redes nacionais, mas também limitações para
os utilizadores. Por exemplo, em muitas lojas online
dos EUA não se pode fazer compras se não se residir nesse país. A
segmentação da Internet avança em várias direções, sublinha Aksionova. A
política do Estado é apenas uma delas:
“Por enquanto,
não existe qualquer possibilidade de, no futuro, a Internet se
desmembrar em cento e tal redes separadas. O mais provável é que haja
uma separação em relação à Internet internacional comum, uma espécie de Internet plus, por exemplo, uma Internet americana e várias redes fechadas para os cidadãos de regimes totalitários”.
Uma
ameaça muito mais séria para os utilizadores não parte dos Estados, mas
das empresas comerciais que investem meios enormes na recolha e
tratamento de informação sobre cada um de nós, é aquilo a que se chama a
personalização da Internet. Ekaterina Aksionova sublinha: são poucos os
que falam de um fenómeno como a criação voluntária da sua própria
micro-Internet, em grande parte imposta por empresas globais:
“Além
da criação de Internets para habitantes de Estados particularmente
infelizes, nós avançamos no sentido em que cada pessoa forme a sua
própria Internet. Todos os servidores comerciais se viraram de forma tão
poderosa para a personalização, para a adaptação a cada utilizador
concreto, que se torna mesmo aterrador. Se você faz uma busca sobre
alguma coisa no seu computador e eu no meu, nós obtemos
surpreendentemente resultados diferentes. Quando você entra na página
principal da Amazon e eu entro na página principal da Amazon, nós vemos
duas lojas diferentes. Se formos procurar, por exemplo, um seguro, nós
recebemos a mesma proposta, mas com preços diferentes. Porque os
fornecedores desses serviços não fazem propostas em geral. Eles analisam
toda a informação que acumularam sobre você e sobre mim, avaliam o
risco consoante o seu e o meu perfil de clientes e fazem propostas
completamente diferentes. Se esta tendência se conservar, iremos ver-nos
na nossa internetzinha, que irá enviar, consoante o nosso perfil,
notícias, publicidade, propostas de serviços e até pessoas com as quais
nos pudemos relacionar. Penso que esta perspetiva não é menos terrível”.
Recentemente,
entre os peritos em Internet apareceu uma piada: os funcionários das
companhias de seguros nunca pagam a alimentação na Internet com cartões
de crédito, pois a escolha de pratos começará logo a influir no preço
dos seguros médicos. Toda a brincadeira tem um fundo verdadeiro...
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