Cientistas conseguiram fazer com que células-tronco pluripotentes - aquelas que podem se transformar em quase todo tipo de célula do nosso corpo - se organizassem e gerassem pequenos "cérebros". Os pesquisadores demonstram ainda que esses minicérebros recriam os primeiros passos do órgão natural e podem ser usados para estudar o desenvolvimento e desordens neurológicos. O estudo foi divulgado nesta quarta-feira na revista especializada Nature.
Os organoides cerebrais (como os cientistas chamaram) crescem a até 4 milímetros e podem ser mantidos por meses em biorreatores, que fornecem nutrientes. "Notavelmente, os organoides contêm impressionantes arquiteturas reminiscentes do córtex cerebral humano, que é evolutivamente o mais complexo tecido no reino animal. Assim como em um cérebro natural, essas áreas corticais segregam em diferentes camadas. Na camada mais interna, o equivalente à zona ventricular, células gliais radiais se dividem e dão à luz neurônios", diz Oliver Brüstle, da Universidade de Bonn, na Alemanha, e que não teve participação no estudo.
Brüstle diz que os organoides podem ser um importante passo no estudo do desenvolvimento neurológico, mas ainda estão longe de serem miniaturas perfeitas do cérebro. Segundo ele, áreas que mimetizam o funcionamento do órgão estão distribuídas de maneira randômica e falta o formato e organização espacial vistos no cérebro natural. A falta de um sistema circulatório impede o aproveitamento satisfatório dos nutrientes e limita o crescimento.
"Apesar de áreas do exterior desses organoides claramente carregaram uma semelhança com o córtex cerebral em desenvolvimento, continua incerto se eles podem avançar para a complexa arquitetura de seis camadas de sua contrapartida natural", diz Brüstle.
FONTE:
Cientistas criam "minicérebros humanos" a partir de células-tronco
Cientistas cultivaram os primeiros minicérebros humanos em laboratório e dizem que seu sucesso pode levar a novos graus de compreensão sobre como o cérebro se desenvolve e o que ocorre de errado em distúrbios como a esquizofrenia e o autismo.
Pesquisadores da Áustria partiram de células-tronco humanas e criaram uma cultura de laboratório que lhes permitiu desenvolver os chamados "organoides cerebrais", ou minicérebros, compostos por diferentes regiões cerebrais.
É a primeira vez que cientistas conseguem replicar o desenvolvimento do tecido cerebral em três dimensões.
Usando os organoides, os cientistas foram então capazes de produzir um modelo biológico mostrando como se desenvolve a microcefalia, uma doença cerebral rara. Eles sugerem que a mesma técnica poderá ser usada no futuro para entender distúrbios como autismo e esquizofrenia, que afetam milhões de pessoas no mundo.
"Esse estudo oferece a promessa de uma importante nova ferramenta para entender as causas de importantes transtornos do desenvolvimento cerebral..., bem como testar possíveis tratamentos", disse Paul Matthews, professor de neurociência clínica do Imperial College, em Londres, que não participou da pesquisa, mas se disse impressionado com os resultados.
Embora comece como um tecido relativamente simples, o cérebro humano rapidamente se transforma na mais complexa estrutura natural conhecida, e cientistas pouco sabem sobre como isso ocorre.
Para criar o tecido cerebral, Juergen Knoblich e Madeline Lancaster, do Instituto de Biotecnologia Molecular da Áustria, e colegas da Unidade de Genética Humana da Universidade de Edimburgo, na Grã-Bretanha, partiram de células-tronco que foram cultivadas com uma combinação de ingredientes feita especialmente para aproveitar a capacidade inata das células para se organizar em estruturas orgânicas completas.
Eles cultivaram um tecido chamado neuroectoderma -a camada de células do embrião a partir da qual todos os componentes do cérebro e do sistema nervoso se desenvolvem.
Fragmentos desse tecido foram então submetidos a um biorreator -um sistema que circula oxigênio e nutrientes, para permitir o crescimento dos organoides cerebrais.
Após um mês, os fragmentos se organizaram em estruturas primitivas, que poderiam ser reconhecidas como sendo regiões de um cérebro em desenvolvimento, como retina, plexo coroide e córtex cerebral, disseram os pesquisadores por telefone.
Depois de dois meses, os organoides atingiram um tamanho máximo em torno de 4 milímetros. Embora fossem minúsculos e estivessem muito longe de se parecer com a estrutura detalhada de um cérebro humano plenamente desenvolvido, os organoides continham neurônios ativos e diferentes tipos de tecido neural.
"Este é um dos casos em que o tamanho realmente não importa", disse Knoblich a jornalistas. "Nosso sistema não está otimizado para a geração de um cérebro inteiro, e esse não era o nosso objetivo."
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