WASHINGTON - O presidente americano, Barack Obama, anunciou na tarde desta quarta-feira o aguardado conjunto de propostas de controle ao acesso de armas no país, no primeiro resultado concreto da comoção gerada pelo massacre na escola primária Sandy Hook, na cidade de Newtown, em dezembro passado. Obama emitiu 23 ordens executivas, mas também cobrou do Congresso que aprove a obrigação da checagem de antecedentes dos compradores de armas e volte a banir a venda de armamento que comporte pentes de alta capacidade - como o usado em Newtown e no ataque em um cinema na cidade de Aurora, no Colorado, em julho do ano passado.
- Até 40% de todas as compras de armas são conduzidas sem a checagem de antecedentes. Isso não é seguro, nem inteligente. Se você quer comprar uma arma, você deve ao menos mostrar que não cometeu crimes. É hora de o Congresso exigir isso - afirmou Obama, dizendo que 70% dos membros da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), a mais poderosa entidade pró-armas do país, concordam com isso.
Obama fez seu discurso na Casa Branca, em Washington, ladeado pelo vice-presidente Joe Biden, encarregado por ele de elaborar as propostas anunciadas. Biden foi o responsável por abrir a cerimônia de anúncio das propostas. Em seu discurso, citou uma frase de Colin Goddard, presente à divulgação das sugestões e um dos 17 feridos no massacre da universidade Virginia Tech, em 2007. Outras 32 pessoas foram mortas pelo atirador, que cometeu suicídio.
- Quando perguntei a Colin o que deveríamos fazer, ele disse: ‘Não estou aqui por causa do que aconteceu comigo. Estou aqui porque o que aconteceu comigo continua a acontecer com outras pessoas, e temos que fazer algo a respeito’.
Lembrando que mais de 900 americanos foram mortos por armas de fogo após o massacre em Newtown, o presidente também se manifestou contra a venda de armas de alta capacidade:
- Armas criadas para o cenário de guerra não podem ter lugar em cinemas - disse, em alusão aos 12 mortos e 58 feridos em Aurora. - A maioria dos americanos concorda conosco nesse ponto. E, a propósito, também (o ex-presidente republicano) Ronald Reagan, que escreveu ao Congresso em 1994 pedindo urgência ao apoio ao banimento de armas de alta capacidade.
Segundo a emissora americana CBS, citando fontes próximas a Obama, a Casa Branca quer o banimento sobre este tipo de armamento apenas para novas compras. Quem já tem armas do gênero não seria afetado. No massacre de Newtown, quando 20 crianças e seis adultos foram mortos, o atirador Adam Lanza - que logo depois cometeu suicídio - usou três armas semiautomáticas: um fuzil Bushmaster, uma pistola Glock e uma pistola Sig Sauer. Horas antes, Lanza havia matado sua mãe, Nancy.
Pressão sobre o Congresso
Além da cutucada nos republicanos com a menção a Reagan, o democrata Obama não hesitou em pressionar o Congresso americano, responsável pela aprovação de boa parte das mudanças sugeridas e no qual os correligionários do presidente são minoria na Câmara. Além das duas principais propostas - a checagem de antecedentes e o retorno do banimento de armas de alta capacidade -, devem passar pelo crivo dos parlamentares, por exemplo, a aprovação da liberação de US$ 4 bilhões para manter 15 mil policiais nas ruas e de outros US$ 150 milhões para a contratação de policiais, psicólogos e assistentes sociais para escolas.
Da parte do Executivo, o presidente se comprometeu a incentivar pesquisas sobre saúde mental e a ajudar escolas que queiram desenvolver planos de emergência, além de ordenar uma revisão das categorias de pessoas proibidas de ter armas. Apesar da investida, Obama buscou tranquilizar os defensores do direito ao porte:
- Acredito que a Segunda Emenda garante o direito individual a ter uma arma. Há milhões de donos de armas que são responsáveis e obedientes à lei e que valorizam seu direito de ter uma arma. Esta é a terra dos livres, e sempre será.
Obama também disse que vai indicar formalmente o nome de Todd Jones, diretor interino do Escritório de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo, para o cargo, apesar de o Congresso não ter aprovado nenhum dos nomes sugeridos nos últimos seis anos.
No começo de seu discurso, Obama contou ter recebido muitas cartas de crianças preocupadas com o risco de ataques armados, e algumas delas estavam presentes à cerimônia. O presidente americano também contou ter levado para a Casa Branca uma tela pintada por Grace McDonnell, de 7 anos, uma das vítimas de Newtown.
- Toda vez que vejo a pintura, penso em Grace, e penso que devemos agir de imediato para proteger os mais vulneráveis. Vamos fazer a coisa certa - encerrou Obama.
Líder republicano: ‘Vamos dar uma olhada’
Em geral pró-armas, os republicanos reagiram de forma comedida contra o pacote anunciado pelo presidente, mas já deram sinais de que a luta no Congresso será árdua. Michael Steel, porta-voz do deputado John Boehner, líder da maioria republicana na Câmara, disse apenas que os comitês da Casa vão analisar as propostas e “darão uma olhada” também em eventuais textos aprovados pelo Senado, de maioria democrata. À emissora CNN, o deputado republicano Mike Thompson disse que seu partido pode apoiar o fim da venda de pentes de alta capacidade, mas dificilmente vai aderir o banimento de armas de combate.
Horas depois do discurso, a NRA divulgou nota contra as medidas anunciadas por Obama, na qual defende que “atacar armas de fogo e ignorar crianças não é a solução para a crise vivida pela nação”. Para a associação, “apenas donos de armas honestos e obedientes à lei serão afetados, e nossas crianças continuarão vulneráveis à inevitabilidade de novas tragédias”.
A NRA já havia iniciado seus protestos na terça-feira. A associação divulgou uma peça publicitária na qual contesta a proteção dada à família de Obama, chamando-o de “elitista hipócrita” e questionando: “As crianças do presidente são mais importante do que as suas?”. Democratas como o ex-secretário de imprensa da Casa Branca Robert Gibbs chamaram o anúncio de “nojento” e “estúpido”. No mesmo dia, o vice-presidente executivo da NRA, Wayne Lapierre, enviou carta aos mais de 4 milhões de associados à entidade dizendo que as iniciativas do Executivo americano têm como objetivo apenas banir armas, e não “proteger seu filhos” ou “combater o crime”. Em paralelo, o porta-voz da associação, Andrew Arulanandam, afirmou que o número de integrantes da NRA teve uma alta “sem precedentes” desde que o governo democrata passou a defender o controle de armas, com a associação de 250 mil pessoas. Arulanandam avaliou o crescimento como “uma resposta direta às ameaças e acusações” feitas pelo governo Obama.
WASHINGTON - O presidente americano, Barack Obama, anunciou na tarde desta quarta-feira o aguardado conjunto de propostas de controle ao acesso de armas no país, no primeiro resultado concreto da comoção gerada pelo massacre na escola primária Sandy Hook, na cidade de Newtown, em dezembro passado. Obama emitiu 23 ordens executivas, mas também cobrou do Congresso que aprove a obrigação da checagem de antecedentes dos compradores de armas e volte a banir a venda de armamento que comporte pentes de alta capacidade - como o usado em Newtown e no ataque em um cinema na cidade de Aurora, no Colorado, em julho do ano passado.
- Até 40% de todas as compras de armas são conduzidas sem a checagem de antecedentes. Isso não é seguro, nem inteligente. Se você quer comprar uma arma, você deve ao menos mostrar que não cometeu crimes. É hora de o Congresso exigir isso - afirmou Obama, dizendo que 70% dos membros da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), a mais poderosa entidade pró-armas do país, concordam com isso.
Obama fez seu discurso na Casa Branca, em Washington, ladeado pelo vice-presidente Joe Biden, encarregado por ele de elaborar as propostas anunciadas. Biden foi o responsável por abrir a cerimônia de anúncio das propostas. Em seu discurso, citou uma frase de Colin Goddard, presente à divulgação das sugestões e um dos 17 feridos no massacre da universidade Virginia Tech, em 2007. Outras 32 pessoas foram mortas pelo atirador, que cometeu suicídio.
- Quando perguntei a Colin o que deveríamos fazer, ele disse: ‘Não estou aqui por causa do que aconteceu comigo. Estou aqui porque o que aconteceu comigo continua a acontecer com outras pessoas, e temos que fazer algo a respeito’.
Lembrando que mais de 900 americanos foram mortos por armas de fogo após o massacre em Newtown, o presidente também se manifestou contra a venda de armas de alta capacidade:
- Armas criadas para o cenário de guerra não podem ter lugar em cinemas - disse, em alusão aos 12 mortos e 58 feridos em Aurora. - A maioria dos americanos concorda conosco nesse ponto. E, a propósito, também (o ex-presidente republicano) Ronald Reagan, que escreveu ao Congresso em 1994 pedindo urgência ao apoio ao banimento de armas de alta capacidade.
Segundo a emissora americana CBS, citando fontes próximas a Obama, a Casa Branca quer o banimento sobre este tipo de armamento apenas para novas compras. Quem já tem armas do gênero não seria afetado. No massacre de Newtown, quando 20 crianças e seis adultos foram mortos, o atirador Adam Lanza - que logo depois cometeu suicídio - usou três armas semiautomáticas: um fuzil Bushmaster, uma pistola Glock e uma pistola Sig Sauer. Horas antes, Lanza havia matado sua mãe, Nancy.
Pressão sobre o Congresso
Além da cutucada nos republicanos com a menção a Reagan, o democrata Obama não hesitou em pressionar o Congresso americano, responsável pela aprovação de boa parte das mudanças sugeridas e no qual os correligionários do presidente são minoria na Câmara. Além das duas principais propostas - a checagem de antecedentes e o retorno do banimento de armas de alta capacidade -, devem passar pelo crivo dos parlamentares, por exemplo, a aprovação da liberação de US$ 4 bilhões para manter 15 mil policiais nas ruas e de outros US$ 150 milhões para a contratação de policiais, psicólogos e assistentes sociais para escolas.
Da parte do Executivo, o presidente se comprometeu a incentivar pesquisas sobre saúde mental e a ajudar escolas que queiram desenvolver planos de emergência, além de ordenar uma revisão das categorias de pessoas proibidas de ter armas. Apesar da investida, Obama buscou tranquilizar os defensores do direito ao porte:
- Acredito que a Segunda Emenda garante o direito individual a ter uma arma. Há milhões de donos de armas que são responsáveis e obedientes à lei e que valorizam seu direito de ter uma arma. Esta é a terra dos livres, e sempre será.
Obama também disse que vai indicar formalmente o nome de Todd Jones, diretor interino do Escritório de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo, para o cargo, apesar de o Congresso não ter aprovado nenhum dos nomes sugeridos nos últimos seis anos.
No começo de seu discurso, Obama contou ter recebido muitas cartas de crianças preocupadas com o risco de ataques armados, e algumas delas estavam presentes à cerimônia. O presidente americano também contou ter levado para a Casa Branca uma tela pintada por Grace McDonnell, de 7 anos, uma das vítimas de Newtown.
- Toda vez que vejo a pintura, penso em Grace, e penso que devemos agir de imediato para proteger os mais vulneráveis. Vamos fazer a coisa certa - encerrou Obama.
Líder republicano: ‘Vamos dar uma olhada’
Em geral pró-armas, os republicanos reagiram de forma comedida contra o pacote anunciado pelo presidente, mas já deram sinais de que a luta no Congresso será árdua. Michael Steel, porta-voz do deputado John Boehner, líder da maioria republicana na Câmara, disse apenas que os comitês da Casa vão analisar as propostas e “darão uma olhada” também em eventuais textos aprovados pelo Senado, de maioria democrata. À emissora CNN, o deputado republicano Mike Thompson disse que seu partido pode apoiar o fim da venda de pentes de alta capacidade, mas dificilmente vai aderir o banimento de armas de combate.
Horas depois do discurso, a NRA divulgou nota contra as medidas anunciadas por Obama, na qual defende que “atacar armas de fogo e ignorar crianças não é a solução para a crise vivida pela nação”. Para a associação, “apenas donos de armas honestos e obedientes à lei serão afetados, e nossas crianças continuarão vulneráveis à inevitabilidade de novas tragédias”.
A NRA já havia iniciado seus protestos na terça-feira. A associação divulgou uma peça publicitária na qual contesta a proteção dada à família de Obama, chamando-o de “elitista hipócrita” e questionando: “As crianças do presidente são mais importante do que as suas?”. Democratas como o ex-secretário de imprensa da Casa Branca Robert Gibbs chamaram o anúncio de “nojento” e “estúpido”. No mesmo dia, o vice-presidente executivo da NRA, Wayne Lapierre, enviou carta aos mais de 4 milhões de associados à entidade dizendo que as iniciativas do Executivo americano têm como objetivo apenas banir armas, e não “proteger seu filhos” ou “combater o crime”. Em paralelo, o porta-voz da associação, Andrew Arulanandam, afirmou que o número de integrantes da NRA teve uma alta “sem precedentes” desde que o governo democrata passou a defender o controle de armas, com a associação de 250 mil pessoas. Arulanandam avaliou o crescimento como “uma resposta direta às ameaças e acusações” feitas pelo governo Obama.
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