Cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que preparam o novo relatório sobre aquecimento global, muito aguardado após o informe de 2007, quando soaram o alerta sobre a elevação das temperaturas na Terra, defendem seus métodos de trabalho, depois que documentos provisórios que vazaram na internet têm sido usados por seus críticos.
Haveria falta de transparência? As conclusões seriam determinadas por organizações não governamentais? O papel do sol no aquecimento global tem sido subavaliado? Estas e outras acusações, feitas há anos pelos céticos do aquecimento global, e rejeitadas por especialistas internacionais em clima, ressurgem na internet.
"O que seria correto é que estes blogueiros nos enviassem seus comentários ao invés de torná-los públicos", alega o climatologista francês Jean Jouzel, membro do grupo científico do IPCC.
O mais recente episódio foi a publicação, na terça-feira, por uma blogueira canadense de documentos de trabalho acompanhados de comentários nos quais denunciava a opacidade do IPCC ou o papel das ONGs ambientais no processo de redação.
Em dezembro já tinham vazado em blogs outros "esboços".
Apesar do consenso científico sobre a realidade do aquecimento global e sobre sua origem antrópica (humana), o IPCC está constantemente na mira. A ofensiva alcançou um auge em 2009, com o denominado "climategate", quando milhares de trocas de mensagens privadas entre climatologistas foram divulgadas antes da Conferência de Copenhague, à qual assistiu a maioria dos dirigentes do planeta.
Em seu mais recente relatório, publicado em 2007, o IPCC contribuiu amplamente para inserir a luta contra o aquecimento global na agenda diplomática internacional. Naquele ano, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em conjunto com o ex-vice-presidente americano, Al Gore, que se tornou um ativista de causas ambientais.
O próximo relatório, muito aguardado, será publicado em partes a partir de setembro.
"Não é o (próximo) relatório do IPCC que foi divulgado na internet, mas um simples esboço que não reflete o texto final", explicou à AFP Jean-Pascal van Ypersele, vice-presidente do painel de especialistas.
Em 2010, o IPCC voltou a ser criticado por um erro relativo ao derretimento de geleiras no Himalaia. Desde então, o grupo intensificou seu rigor e "melhorou tudo o que podia", assegurou o climatologista belga.
Pede-se, agora, especial atenção aos autores com relação ao uso da "literatura cinza", isto é, as informações que não são tiradas de revistas cientistas onde há comitês de leitura, mas de relatórios de empresas, ONGs e de governos. O erro com relação ao Himalaia teve origem, em parte, em um documento da organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Não se trata de proibir este tipo de relatórios, "já que proibir seria privar-se, em alguns casos, de informações insubstituíveis", avaliou o vice-presidente do IPCC.
Van Ypersele, que defende a "transparência" do processo, lembra que qualquer especialista externo pode se inscrever para apresentar comentários aos autores. No informe anterior, 90.000 comentários foram integrados e serão, segundo ele, muito mais numerosos na nova versão.
Para Jean Jouzel, os vazamentos de "esboços" são "lamentáveis" mas "não dramáticos". "Isto não muda o trabalho que vamos realizar", assegurou o glaciologista que participará na próxima semana, em Hobart (Austrália) na finalização da primeira parte do informe, dedicado aos aspectos científicos do clima.
A primeira parte será formalmente aprovada e publicada em setembro de 2013 em Estocolo. As outras duas partes - sobre a adaptação às mudanças climáticas e as soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa - serão adotadas na primavera (boreal) de 2014.
A síntese total deve ser publicada em outubro de 2014.
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